Museu do Ipiranga reabre após nove anos: veja o que mudou e como visitar
Fechado às pressas há 9 anos por risco de desabamento, e após passar três deles em obras que custaram R$ 235 milhões, o Museu do Ipiranga será reaberto ao público nesta semana para celebrar o bicentenário da Independência do Brasil.
Quem poderá ver as novidades em primeira mão — com direito a conhecer o novo mirante do topo —, serão 20 estudantes de escolas públicas e trabalhadores da obra e suas famílias, em uma pré-abertura especial dia 7 de setembro.
Na quinta-feira (8), será a vez do público em geral se reencontrar com o edifício-monumento, tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal. E todos poderão comprovar que o Museu Ipiranga volta maior e mais moderno.
Foram muitas mudanças geradas pelas obras, por isso listamos os principais destaques:
Está maior. O novo Museu do Ipiranga reabrirá com o dobro do tamanho. Na reforma, ele ganhou uma área adicional com 6,8 mil m².
Mais exposições. O espaço terá capacidade para receber até 12 exposições simultâneas. As mostras incluirão cerca de 3,5 mil dos 450 mil itens e documentos de seu acervo.
De cara nova. O edifício-monumento, foi totalmente restaurado em sua fachada e no interior e, agora, terá um mirante no topo, que promete ser uma atração disputada. Ele fica no espaço vazio entre as fachadas do coroamento da torre central e tem guarda corpo de vidro, que permite uma visão 360 graus de São Paulo sem obstáculos.
Jardim nos trinques. Além de recuperar o edifício, a reforma deu nova vida ao Jardim Francês, que retomou características de um século atrás. Duas fontes originais que foram demolidas em 1972 foram reconstruídas no local. Além disso, foi restaurada e modernizada a iluminação pública e reativada a fonte central.
Novos serviços. O local ganhou uma bilheteria, café, loja, auditório para 200 pessoas, espaços e salas para atendimento educativo, e uma grande sala de exposições temporárias, com 900 m².
Bateu a fome? No lugar da antiga administração foi instalado um restaurante e criada uma infraestrutura para receber food bikes, para vender lanchinhos, bebidas e mais.
No circuito internacional de exposições. Pela primeira vez na história, a instituição estará apta a receber acervos de outras instituições, inclusive internacionais, graças à instalação de ar-condicionado.
Público estimado. Espera-se que o espaço receba de 900 mil a 1 milhão de visitantes por ano.
Como visitar o Museu do Ipiranga
- Quanto custa: entrada é gratuita até 06/11/2022, mas com necessidade de reserva.
- Como reservar o ingresso: a partir de segunda-feira (5), você pode fazer a inscrição no site da instituição: https://museudoipiranga.org.br/.
- Horários e dias de visitação:
De 8 a 11 de setembro: terça a domingo, das 11h às 16h.
A partir do dia 13 de setembro: terça a domingo, das 11h às 17h. - Endereço: Rua dos Patriotas, 100, Ipiranga, São Paulo/SP
História do museu
O Museu do Ipiranga, que foi inaugurado há 127 anos, é um dos mais antigos do país. Seria originalmente um monumento à Independência, a ser instalado onde D. Pedro 1º proclamou o fim do Brasil colônia. A ideia surgiu na Assembleia Constituinte de 1823, um ano depois da separação de Portugal.
Mas o projeto foi abandonado e só foi retomado 32 anos depois, em 1855, pelo coronel José Antônio Saraiva, presidente da então Província de São Paulo. Mas levaria outras três décadas até começar a ser construído de fato.
O italiano radicado no Brasil Tommaso Gaudencio Bezzi (1844-1915) foi contratado para fazer o projeto, que foi baseado nos palácios europeus renascentistas. O nome de Bezzi foi polêmico na época, com críticas na imprensa à escolha de um italiano e não de um brasileiro.
Sua arquitetura eclética, com abóbadas e colunas, gera fascínio e alguns mal-entendidos. Os curadores dizem que até hoje tentam, por exemplo, desfazer a crença de que Dom Pedro 1º morou ali.
Durante as obras de construção, o Governo Provisório do novo regime republicano quis dar uma destinação "útil" ao monumento. Chegou-se a cogitar que abrigasse uma escola pública, mas a decisão final foi transferir o Museu do Estado, criado cinco anos antes, para ali.
O Museu Paulista abriu as portas pela primeira vez em 7 de setembro de 1895. Originalmente, era dedicado à História Natural, com ênfase na Zoologia. Seu primeiro era formado no início por peças etnográficas e arqueológicas, além de objetos de naturezas diversas, como itens históricos, zoológicos e botânicos.
A partir do centenário da Independência, em 1922, foi reforçado o caráter histórico da instituição, com a formação de novos acervos que dão destaque à história do Brasil e de São Paulo. O museu incorporou ao longo do tempo acervos de outras instituições e ampliou suas coleções.
Antes de ser fechado em 2013, o museu atravessava uma séria crise financeira que corroeu sua estrutura física. Em agosto daquele ano, foi interditado às pressas, porque um laudo apontava que havia um risco iminente de desabamento.
Seu acervo foi transferido e abrigado temporariamente em outros locais enquanto a reforma estava em curso. Uma parte ficou exposta no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Curiosidades do Museu do Ipiranga
A obra mais conhecida, Independência ou Morte, pintura de Pedro Américo (1843-1905) que retrata o momento da Proclamação da Independência, está ali desde o princípio, no Salão Nobre.
A obra, encomenda pela Governo Imperial, é uma gigantesca tela a óleo, com 4,15 metros de altura e 7,6 metros de largura foi restaurada junto com o museu.
A tela foi exposta pela primeira vez em Florença, na Itália, em 1888, e, no Brasil, na inauguração do Museu do Ipiranga.
Você sabia? O nome oficial é Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP) — a instituição é vinculada à USP desde 1963, mas ficou popularmente conhecido pelo nome do bairro na Zona Sul da capital paulista onde está instalado.
Atenção à polêmica bandeirante na reabertura
Nas obras das estátuas dos bandeirantes Raposo Tavares e Fernão Dias, a curadoria do museu usou recursos multimídia para abordar controvérsias atuais.
A representação heroica do bandeirante foi instalada por Afonso Taunay para o centenário. "Ele vai pontuar o caminho com pinturas e esculturas que reforçam o protagonismo paulista. A figura-chave para a construção desse protagonismo é a figura do bandeirante", diz o historiador Paulo Garcez Marins, pesquisador da USP e um dos curadores atuais.
Hoje essas figuras (bandeirantes) têm sido extremamente contestadas por vários setores da nossa sociedade" Paulo Garcez Marins
A polêmica ficou mais forte na capital há cerca de um ano, quando uma estátua de Borba Gato, na zona sul de São Paulo, foi incendiada como forma de protesto contra um passado de morte e escravização. O ataque deu continuidade a uma onda de protestos contra monumentos a figuras históricas ligadas ao colonialismo e à escravidão, que ganhou força em EUA e Europa.
"Populações indígenas e populações negras são sempre representadas de maneiras subalternas, submissas", diz o pesquisador.
E sabemos que a história do Brasil é feita de embates, de confrontos, de lutas e disputas. (No Ipiranga) o conjunto de imagens retrata sempre corpos pacificados, não há combates aqui"
A curadoria do Museu do Ipiranga buscou contextualizar as obras por meio de alguns dos 333 recursos multissensoriais disponíveis para o público. "Hoje, os bandeirantes podem ser considerados heróis?", indaga um das telas localizada próximo da porta de entrada do espaço.
Em seguida, é feita uma contextualização e uma conclusão. "O museu não concorda com esta imagem heroica das bandeiras, que simplifica um passado que também foi violento e escravizador."
Com informações da BBC News Brasil e Estadão Conteúdo
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