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Cuidado, cão bravo: adestrador aposta em reabilitação de animais agressivos

Marcela Schiavon

Colaboração para o UOL, de Santo André (SP)

07/09/2022 04h00

O adestrador Felipe Petronilio, 29, vem fazendo sucesso nas redes sociais ao defender que cães agressivos sejam adestrados, ao invés de abandonados ou sacrificados. Ele cuida de cerca de 30 animais por mês e, no total, são mais de 2500 famílias atendidas.

Felipe começou a trabalhar com cachorros há cerca de três anos. Formado em contabilidade, trabalhou por seis anos no ramo contábil, mas sofreu um acidente em 2017 e decidiu mudar de profissão e seguir em busca do seu propósito que, para ele, é o adestramento. Dois anos depois, especializou-se em treinamento canino. Hoje, tem seu centro de treinamento, uma espécie de internato, e uma creche para integração dos cachorros.

Ao Nossa, conta que o processo de "ressocialização" canina não é fácil e pode durar meses. Um dos cães já ficou mais de 90 dias confinado e, durante o treinamento, chegou a arrancar metade de um dos polegares da mão de Felipe. De acordo com Petronilio, depois de muito esforço, o cão foi "recuperado".

O profissional publica vídeos treinando cachorros em suas redes sociais e mostra a rotina e a evolução dos bichos. Um dos mais recentes conta, até o momento, com 7,3 milhões de visualizações e cerca de 680 mil curtidas.

Entre os mais de 1,8 mil comentários, alguns questionam a capacidade do profissional: "Quero ver o resultado, parece impossível". Já outros, elogiam a postura de Felipe: " 'Vai mandar para a eutanásia?' é uma fase dura, mas necessária. Tem tutor que não acorda para a realidade".

@adestradormisterpet Não é todo mundo que aceita reabilitar cães agressivos por isso sigo na missão #adestradormisterpet #adestradordecaes #caes #adestrador #pitbull ? som original - Adestrador Mister Pet

Mito ou verdade: existem raças mais bravas?

Para Lais Daminiani, veterinária e pós-graduada em clínica e cirurgia, existem raças de cães com potencial mais agressivo do que outros, mas não necessariamente perigosos. Por isso, ela recomenda o adestramento e relata que a ressocialização é muito indicada em caso de agressividade.

A especialista conta que ao atender um animal agressivo é preciso fazer uma série de perguntas, uma anamnese, sobre onde, como e com quem ele vive, e até se já sofreu maus-tratos. "Muitas vezes eles são agressivos até mesmo por medo ou por não conhecer o contato com o outro", afirma.

Lais também ressalta que o comportamento raivoso dos animais ocorre, geralmente, devido a criação do cão e ao histórico de vida dele. Ela defende o adestramento desde que seja com um profissional qualificado e que entenda o animal. "Um profissional que saiba sobre comportamento animal conseguirá reabilitar esse cão para um convívio comum, com boa convivência e sem apresentar agressividade".

Ainda segundo a especialista, gatos também podem ser adestrados. "Neste caso, envolvem mais comandos e comportamentos que o tutor queira que ele tenha, como obediência ao dizer: 'não' e acatar comandos antes de derrubar um objeto ou escalar uma cortina".

Adestrar para evitar maus-tratos ou abandono

Felipe Petronilio relata que muitas famílias escolhem a raça do animal por "achar bonito", mas não analisam as dificuldades de encaixar o bichinho na rotina familiar. Será que eu posso ter um um pitbull? Se eu sou uma pessoa que não gosta de atividade física, por exemplo, não posso ter um pitbull".

Ele diz reabilitar não só os animais, mas também as pessoas envolvidas na criação dos bichinhos. "Não existe cachorro que nasce ansioso, não existe cachorro que nasce agressivo. O problema são sempre as pessoas. Eu reabilito cães e treino os homens".

Isso porque, segundo ele, a educação do animal tem muito a ver com os tutores, que, por vezes, não sabem como cuidar do animal e pecam no básico, como lazer.

Eu reabilito cães agressivos, reativos, mas o meu nicho principal é agressividade, né? De cães com pessoas e de cães com outros animais. Aceito qualquer tipo de cachorro.
Felipe Petronilio, adestrador

Com uma equipe de oito pessoas, o profissional busca melhorar a vida dos animais e das famílias: "Considero um hobby o que eu faço, porque hoje eu trabalho com alegria, não por obrigação". O profissional de Taboão da Serra (SP) acaba se afeiçoando a alguns animais e resgata alguns que seriam abandonados. Hoje, já conta com 10 cachorros de estimação.

Saiba como denunciar maus-tratos contra animais

As denúncias de maus-tratos contra os animais podem ser feitas pelo telefone 0800 61 8080 ou pelo email: linhaverde.sede@ibama.gov.br. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é responsável por encaminhar as denúncias para a delegacia mais próxima do local da agressão.