Caçar ondas de hidroavião será nova moda de endinheirados nas Maldivas?
"Heliskiing", a prática que leva desbravadores de montanhas gélidas em busca de desfiladeiros de neve virgem, é fascinante e acontece nas principais estações de esqui do mundo. Replicar esse conceito atrás de ondas perfeitas, — apenas para seu bel prazer e de alguns amigos — só é possível em um dos mais cobiçados paraísos do Índico. É nas Maldivas, o éden de 90 mil km², com 26 atóis e exatamente 1192 ilhas, onde acontece o Seaplane Surf Safari.
A experiência é mais ou menos assim: o hóspede surfista está com a família e amigos em um dos famosos resorts de luxo em ilhas privadas, sedento pela aquela onda perfeita e intocada. A direção de uma agência de surfe conversa com o interessado e mostra que no dia seguinte o swell dos sonhos entrará em um atol no norte das Maldivas, cerca de 30 minutos de hidroavião.
É um pico remoto, com imensa chance de não ter um ser vivo que respire fora d'água: apenas ele e mais sete pessoas que poderão acompanhá-lo. A tecnologia faz a sua parte contribuindo com a previsão de ventos e dos melhores horários.
Pronto: está marcada a surf trip do amanhã. Caso a natureza pregue uma peça, não há problemas, o hidroavião estará à disposição por toda a jornada e sempre haverá um plano B, C, D e muitas outras ondas para buscar nesse gigantesco arquipélago.
Em busca das ondas intocadas
Quem oferece esse mimo para seus hóspedes é o resort Four Seasons, na ilha privada de Kuda Huraa. O hotel tem uma parceria com a Tropic Surf, agência pioneira no mundo a oferecer experiências singulares em hospedagens de luxo, em quase 20 destinos paradisíacos. A empresa australiana atua com base em outros hotéis nas Maldivas, mas é apenas o Four Seasons que oferece um hidroavião privado, à disposição para o Seaplane Surf Safari.
Se voarmos, por exemplo, rumo aos atóis do norte, encontraremos ondas intocadas em lugares secretos.
"Esse tipo de experiência só é possível nas Maldivas e olha que eu rodo o mundo levando clientes para surfar em todos os cantos", conta Ross Phillips, fundador e proprietário da Tropic Surf, empresa que ele fundou há 30 anos, como pioneiro no surfe para milionários.
Água salgada (e o preço também)
E realmente o Seaplane Surf Safari do Four Seasons não é para qualquer mortal. Para reservar a aeronave, o amante das ondas terá que desembolsar US$ 20 mil por um dia e, em geral, é apenas uma pessoa que paga. Às vezes leva amigos ou simplesmente vai com um instrutor da Tropic Surf e um fotógrafo profissional para registrar os momentos épicos. O avião tem âncora e fica aguardando o cliente como uma base no meio do paraíso. Cansou, volta para a cabine, se alimenta e segue para mais uma série. Ou então decola rumo a outro pico que poderá estar bombando a centenas de quilômetros dali.
Ross explica que a temporada de bons swells vai de abril a outubro, mas que em fevereiro e março já há algumas ondas no sul do arquipélago. "Um dos grandes atributos de Maldivas é que as formações têm consistência e não são tão difíceis, é para um nível intermediário. São longas, de água morna e transparente. É o sonho tropical que todo o surfista deseja. Um lugar exótico entre atóis, com as ondas só para ele", descreve o australiano com um sorriso no rosto de quem já esteve em incontáveis vezes nesses cenários.
Kelly Slater aprovou
Para se ter uma ideia do profissionalismo dessa experiência, da parceria entre a Tropic Surf e o hotel, foi criado o Four Seasons Maldives Surfing Champions Trophy - a competição de surfe mais exclusiva e luxuosa da Terra. No final do mês passado (agosto), aconteceu a 10ª edição do evento que contou com a presença de nada menos que Kelly Slater, em sua estreia nas águas claras das Maldivas. "Não sei por que demorei tanto para vir para cá e não entendo porque a World Surf League não colocou Sultans Break no calendário mundial da elite. O lugar é incrível", indagou o 11 vezes campeão mundial de surfe.
Kelly se referia a onda que fica colada ao Four Seasons Kuda Huraa e que foi o palco para o campeonato que contou com veteranos já na casa de meio século de surfe. Além do multicampeão, o torneio teve lendas americanas como Rob Machado, ícone do chamado freesurf ; Shane Dorian, um dos grandes Big Riders do planeta; além de Ross Williams e Taylor Knox, dois nomes que brilharam no circuito mundial. O simpático Iboo Arref, principal campeão das Maldivas, completou o sexteto.
Os atletas estavam com suas famílias e dividiam o tempo entre as competitivas baterias e os momentos de relaxamento e requinte nas hospedagens em bangalôs overwater, no Spa Island da propriedade e nos suntuosos restaurantes do Four Seasons. O clima era de uma simbiose entre férias e trabalho.
Os surfistas eram levados de bote até a famosa onda e tinham como base o Explorer, um luxuoso catamarã de três decks, que pertence ao hotel e que também é usado para surf trips e viagens para mergulhadores. Maldivas é um dos melhores lugares do mundo para a prática do esporte subaquático.
Ainda em plena forma e sem confirmar se 2023 será o ano de sua aposentadoria (nos bastidores especula-se que ele deverá anunciar sua saída do World Tour após a etapa do Havaí), Kelly foi o grande vencedor do Four Seasons Maldives Surfing Champions Trophy, superando na grande final o companheiro Shane Dorian. "É muito difícil vencer o Kelly. Surfo com estes amigos desde o colegial e é incrível estar aqui com eles nesse paraíso, agora com todos na faixa dos 50 anos. Não sei se teremos outra oportunidade como esta", brincou Shane, que foi o campeão da etapa das pranchas biquilhas, derrotando o arquirrival Kelly na semifinal.
Uma ligação para ver as raias-manta
É importante ressaltar que nesta época de excelentes ondas, principalmente entre junho e outubro, chove muito nas Maldivas e há o risco de não pegar um dia todo ensolarado para as desejadas fotos nas redes sociais. Contudo, há ótimos swells e um evento único no planeta: o snorkel com a maior concentração de raias-manta do sete mares.
É a troca pela quase garantia de Sol (entre dezembro e abril), por tubos e por uma das mais incríveis experiências marítimas. Só acontece nas Maldivas, porém longe do North Male Atol, onde está o Kuda Hurra e o Sultans Break. O espetáculo da natureza ocorre no Baa Atol, uma região que é Patrimônio da Humanidade, tombada pela Unesco, exatamente por esse evento inacreditável.
Por lá, o Four Seasons também tem outra ilha privada com o hotel Landaa Giraavaru que oferece uma experiência curiosa. Os hóspedes recebem um telefone antigo, daqueles 'Nokia retrô' que é a conexão do chamado 'Manta Call'. Os interessados devem ficar com o aparelho no bolso e se derem sorte ele tocará. Terão cerca de 20 minutos para largarem o que estão fazendo e correrem para o píer, pois é sinal de que um grupo grande de mantas foi avistado e que ocorrerá a saída para o snorkel com gigantes gentis.
Tudo é feito com um cuidado ambiental rigoroso, coordenado pela equipe de biólogos marinhos da ONG Manta Trust. Uma das líderes do projeto, Beth Faulkner, explica que a região tem uma geografia única, formando um imenso 'U' onde os plânctons nessa época do ano são encurralados, levados pelas correntes, e acabam promovendo um banquete para esses majestosos peixes cartilaginosos e inofensivos.
Só aqui na Terra acontece isso, com essa intensidade. Eu, em um dia, já cheguei a mergulhar com 243 raias.
Veja mais fotos do surfe safari nas Maldivas
Essa temporada de 2022 eles já identificaram mais de 5200 raias-manta dentro dessa área do atol chamada Hanifaru Bay. Ali é proibido o mergulho de tanque, mas não precisa ir fundo, basta colocar o rosto na água e começar o encantamento assistindo ao balé dessas criaturas magníficas. Elas nadam como se voassem lentamente, com elegância e meiguice, com suas "asas" que chegam até 4 metros de largura.
Algumas chegam a dar piruetas acrobáticas e, por vezes, são tantas que parece que olhamos para um chão negro que se move lentamente. Os mesmos plânctons que as atraem, também aguçam outro ser gentil: o tubarão baleia. Mas eles estão presentes em bem menor número e é preciso um pouco de sorte para vê-los nesse cenário de águas tropicais do Índico, onde quem reinam são as extraordinárias mantas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.