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Conheça Maximón, santo da Guatemala que é mulherengo, fumante e bebedor

Celebração de San Simón, ou Maximón, em San Andrés Itzapa, Guatemala - Josue Decavele/Getty Images
Celebração de San Simón, ou Maximón, em San Andrés Itzapa, Guatemala Imagem: Josue Decavele/Getty Images

Felipe van Deursen

Colaboração para Nossa

22/09/2022 04h00

No papel, 80% da população da Guatemala é cristã. Desses, pouco mais da metade é católica. O país tem 16 santos e beatos que nasceram ou morreram em seu território, incluindo Pedro de Betancur, o primeiro santo da América Central. Entre as 100 maiores cidades, 27 homenageiam algum santo ou santa no nome.

Mas um deles não está em nenhum altar de igreja, não batizou vila, não está em sacristia alguma. Ainda assim, é um dos santos mais populares do país, em especial nas cidades montanhosas do oeste, entre a fronteira com o México e a bela Antigua, patrimônio cultural da humanidade. São Simón, ou Maximón, é uma figura ímpar do sincretismo entre as crenças maias e a fé católica trazida pelos espanhóis.

Sua imagem varia de local para local, mas algumas características se repetem. Maximón fuma, bebe e é mulherengo (apesar de ser, também, protetor dos casais). Representa as luzes e as trevas, é um malandro procurado por homens e mulheres de vilarejos, empresários de cidades grandes, prostitutas, romeiros de outros países do continente. As pessoas pedem de tudo, dinheiro, gado, marido, cura para doenças ou derrota de um inimigo.

Na cidade de Zunil, ele usa óculos escuros e bandana. Em Santiago Atitlán, lenços e grinaldas coloridos. As roupas e acessórios variam, mas Maximón é, em geral, representado por uma efígie de madeira cercada de velas e incensos, enquanto os sacerdotes comandam os rituais.

Esculturas de San Simón - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Esculturas de San Simón
Imagem: Getty Images/iStockphoto

As pessoas chegam, fazem oferendas, realizam pedidos. É dessa forma que Maximón bebe aguardente e fuma. Muitas vezes, ele tem um cigarro na boca, e os devotos fumam o tempo todo enquanto estão em sua presença.

"Alguns dizem que o nome dele deriva da palavra maia para tabaco", explica Frank Graziano, especialista no catolicismo popular da América Latina, em "Cultures of Devotion: Folk Saints of Spanish America" ("Culturas de devoção: santos populares da América espanhola", sem edição brasileira).

Em Santiago Atitlán, o santo tem uma casa diferente por ano, e só sai dela na Semana Santa. É a forma mais comum de culto: as pessoas vão até ele e pedem bênçãos para seus negócios, para os recém-nascidos, para o casamento. Sentam-se ao lado dos sacerdotes, explicam o que se passa com elas, conversam e fazem a oferenda.

Casal dança em frente à figura de San Simón, em San Andrés Itzapa, Guatemala - Josue Decavele/Getty Images - Josue Decavele/Getty Images
Casal dança em frente à figura de San Simón, em San Andrés Itzapa, Guatemala
Imagem: Josue Decavele/Getty Images

"É uma das poucas situações em a minoria branca dominante, os ladinos [termo genérico para os não-indígenas], recorrem a cerimônias maias", explica Thomas Hart, especialista em religiões guatemaltecas, em "The Ancient Spirituality of the Modern Maya" ("A espiritualidade antiga dos maias modernos", sem edição brasileira).

"Alguns dirão que é porque São Simón está associado ao dinheiro fácil e ao sucesso nos negócios, apelando aos instintos dos ladinos. Outros, porque é um santo maia que é branco. Em todo caso, eles vêm, profundamente comprometidos e cheios de fé."

Como encontrar Maximón

Maximón em Santiago Atitlan, Guatemala - Aydinphotos  - Aydinphotos
Maximón em Santiago Atitlan, Guatemala
Imagem: Aydinphotos

O culto a Maximón é uma tradição aberta a turistas, mas é preciso estar atento às práticas ritualísticas e à logística. Estamos falando de um santo errante, que não tem um templo fixo, então encontrá-lo não é a mesma coisa que pesquisar em um mapa o endereço de uma igreja.

É assim em Santiago Atitlán, por exemplo. Essa cidade fica às margens do belo lago Atitlán, que no passado encantou o naturalista Alexander von Humboldt e o escritor Aldous Huxley.

Festa para San Simón, em Santiago Atitlan, Guatemala  - Getty Images - Getty Images
Festa para San Simón, em Santiago Atitlan, Guatemala
Imagem: Getty Images

Como Maximón muda de endereço todo ano, a melhor forma de encontrá-lo nessa cidade é pegar um tuk tuk, a típica mototáxi local, e pedir ao condutor. A guia de turismo LeeAnn Heinbaugh vive em Santiago Atitlán desde 2013 e tem dicas valiosas.

Se você quer uma experiência mais rica, compre duas velas e um maço de cigarros. Ao chegar, sente-se um pouco, sinta. Você primeiro faz a oferenda, e depois pede algo", explica.

"Você alimenta a vida com gratidão, para que a vida o alimente de volta. Esse é o ciclo sagrado aqui. O quanto ofertar é realmente uma escolha pessoal. Grupos maiores podem fazer uma oferenda conjunta. Nos grupos menores, cada um faz uma, individual. Lembre-se: o seu guia guiará você. Em todo caso, algo entre 50 e 100 quetzales [o equivalente a R$ 33 a R$ 66] é o mínimo", explica Heinbaugh, que tem um site dedicado ao turismo na cidade.

Feitas as oferendas a Maximón. Compre refrigerante ou cerveja e compartilhe com todos os presentes. Como muitos sacerdotes não falam espanhol, só tsutuil, a língua maia local, a comunicação pode ser mais complicada — nessas horas, o álcool costuma ajudar. Agora, é hora de festejar.