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Verde, amarelo e bandeira do Brasil na moda: o patriotismo virou tendência?

As cores da bandeira brasileira passaram a ser usadas por influenciadoras internacionais como uma tendência. No Brasil, isso acontece em meio a um período político e de Copa do Mundo. O que tudo isso pode significar? - Getty Images
As cores da bandeira brasileira passaram a ser usadas por influenciadoras internacionais como uma tendência. No Brasil, isso acontece em meio a um período político e de Copa do Mundo. O que tudo isso pode significar?
Imagem: Getty Images

De Nossa

23/09/2022 04h00

Nos últimos anos, as cores da bandeira brasileira se tornaram quase um uniforme político usado para manifestar partidarismo. Por outro lado, há quem defenda que esses símbolos pertençam à todos brasileiros, como Anitta, que afirmou esse discurso ao detalhar o look escolhido para se apresentar no festival Lollapalooza, na França: "Ninguém pode se apropriar do significado das cores da bandeira do nosso país".

Mas ao que tudo indica, não só os brasileiros, como também os gringos, parecem estar se apropriando desses elementos para impulsionar uma tendência: o "brazilcore" — o uso da letra "Z", em vez do "S", já diz muito sobre isso.

Como muitas das tendências, essa onda de pessoas vestindo roupas que trazem a bandeira do Brasil, além das cores verde e amarelo, começou no TikTok. A hashtag hoje já ultrapassa 7 milhões de visualizações na plataforma, com vídeos que explicam do que se trata esse novo estilo ou pessoas exibindo os looks montados combinando tais premissas.

Em resumo, o chamado "brazilcore" nada mais é do que vestir roupas que remetam ao nosso país. No mercado mainstream, algo parecido com o que vemos acontecer com a bandeira dos EUA e do Reino Unido, por exemplo. Não é incomum entrar em uma loja de fast fashion e encontrar camisetas e outras peças estampadas com as cores azul, branco e vermelho.

O momento é oportuno, visto a força que a adesão aos trajes futebolísticos, conhecido como "blokecore", ganhou.

Brazilcore - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Brazilcore
Imagem: Reprodução/Instagram
Brazilcore - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Brazilcore
Imagem: Reprodução/Instagram

Na realidade, o que acontece agora é que celebridades, influentes nas redes sociais, parecem estar se apropriando disso. Em nível internacional. Basta uma pesquisa rápida nessas plataformas para encontrar pessoas fazendo referência ao Brasil, enquanto posam em cenários europeus e com a câmera posicionada a fazer um registro digno de curtidas no Instagram.

Mas há ressalvas sobre essa "tendência". Entre os usuários brasileiros, muitos discutem a problemática envolvendo o uso dessas cores e símbolos. "Por que agora se fala em tendência? Então, só é tendência quando é vestido por corpos brancos, magros e europeus, mas se é vestido por corpos periféricos, não é?", apontou o perfil de Instagram Fashion Revolution em uma publicação.

O perfil @transpreta também dissertou sobre o assunto: "Brazilcore é o nome dado para uma tendência que mais uma vez surge das favelas, mas só passa a ser reconhecida quando as pessoas brancas e ou da 'elite da moda' passam a utilizar".

Paula Tricconi, especialista em tendências e moda, opina para Nossa que essa tendência, apesar de já existir, ganha força no cenário atual em que vivemos. Melhor dizendo, a chegada da Copa do Mundo e o período de eleições. Ela diz ainda que existe uma preocupação no ressignificado de nossos próprios símbolos.

"Acredito que vivemos um momento em que inevitavelmente veríamos diversas pessoas utilizando roupas com a bandeira do Brasil", comenta ela acerca da proximidade da Copa no Qatar. "O que acontece é que isso bate de frente com a política do nosso país e, ao mesmo tempo em que modelos e influenciadores se apropriam disso, se torna ainda mais político. Diria até social."

Ela complementa: "Mais do que uma tendência em roupas, o sucesso disso no TikTok é um meio em que a Geração Z, aqui no Brasil, usa para discutir temas atuais".

@bobvancerefrigetarion SEMPRE foi estética periférica camiseta de time!! inclusive SEMPRE foi considerado feio e deselegante usar se você não tivesse indo pra jogo aí agora que um monte de BRANCA, RICA E GRINGA tá usando de repente virou alerta de tendência rsrs #fashion #brasil #brazilianaesthetic #camisadetime #brasilcore ? original sound - Baby Tate

A relação entre a moda e as discussões político-sociais, de fato, virou tendência — mas mais do que fahionismo. Na mais recente edição do São Paulo Fashion Week, modelagens e abordagens sobre como nos vestiríamos no período pós-pandemia se fizeram presente, mas as passarelas assumiram, ainda mais, um lugar de patriotismo.

A Misci, marca comandada pelo designer Aíron Martin, orgulha-se em referir-se as suas criações como produtos nacionais.

Na onda do "brazilcore", mesmo que não propositalmente, a etiqueta apresentou com a coleção "Eva: Mátria Brasil" e fez com que muitos dos presentes vestissem um boné apresentado na coleção, usado também por modelos, na cor verde e amarela e com a bandeira do Brasil estampada na parte frontal da peça.

Em vez de "ordem e progresso", o produto tinha o nome da marca escrito.

Nas palavras do criador mato-grossense: "A coleção Eva Mátria Brasil apresenta o resgate dos nossos símbolos nacionais e códigos que valorizam a importância da figura feminina, principalmente as mães solo".

Misci | Eva: Mátria Brasil - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Misci | Eva: Mátria Brasil
Imagem: Reprodução/Instagram
Misci | Boné Mátria Brasil - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Misci | Boné Mátria Brasil
Imagem: Reprodução/Instagram

Nossa bandeira do Brasil apareceu, desta vez completamente ressignificada, pela marca LED, comandada por Célio Dias. Com a cor vermelha de fundo, o retângulo, losango e círculo central aparecem ilustrados por um rosto desenhado infantilmente com um sorriso. Nas costas, há os dizeres "Muda Brasil".

LED - Divulgação - Divulgação
LED
Imagem: Divulgação

Tendência "nova" ou não, só há uma certeza: como acontece a cada quatro anos, o "brazilcore" vai ser onipresente aqui no Brasil a partir de novembro.