Publicitária chegou ao fim de contrato, subiu em moto e rodou 17 mil km
Todo mundo tem aquele desejo de largar tudo e sair por aí, mas nem sempre é uma decisão fácil de tomar. Raquel Stein, publicitária de 32 anos, resolveu investir nesse sonho. Apaixonada por motociclismo desde sua infância, ela tinha em mente viajar pelo país em duas rodas, mas seus compromissos profissionais não deixavam.
Em dezembro de 2021, sua vida teve uma reviravolta e um contrato de trabalho chegou ao fim. Sem ter nada que a prendesse, colocou tudo de seu apartamento em São Paulo em um galpão e seguiu por toda costa brasileira, para dar voz aos projetos sociais de impacto em suas comunidades.
Coloquei na cabeça que a minha viagem não seria apenas um período sabático. Tiraria algo que promovesse um reencontro comigo, que me entregasse e me ensinasse muito mais que todos os livros que li.
"Queria me sentir mais humana. Queria reviver minha esperança. A minha vontade de ser mãe me estimulava essa reconexão para que eu pudesse hoje ter um pouco de certeza sobre essa decisão", contou.
Quatro meses e 17.500 quilômetros
A viagem durou quatro meses. Foram 17.500 quilômetros no total e toda a costa brasileira. Ficaram de fora apenas Brasília, Goiás e Tocantins. Ao todo, ela visitou quinze projetos sociais. Aldeias indígenas que hoje estão na ONU com o Instituto Alok.
"Huni Kuin foi à etnia que fiquei na minha imersa. Projetos sociais voltados para mulheres em fase de puerpério e em situação de abandono. Projetos com Quilombolas, Ribeirinhos, Recuperação de drogas e defesa do meio ambiente no Pantanal. Não restringi meu âmbito de visita em iniciativas sociais por um simples motivo. O fator limitador foi algo que tentei ao máximo retirar nessa minha empreitada", explicou Raquel.
Uma ajudinha da publicidade
Como uma boa publicitária, ela idealizou um projeto, se tratava de uma apresentação com um escopo claro. O objetivo era ensinar publicidade digital às iniciativas sociais sem visibilidade para que assim, auxiliasse na empreitada de se tornarem conhecidos.
Muito mais estaria doando e fazendo a diferença se eu estivesse ali de corpo e alma apenas escutando. Apenas doando o que hoje temos de mais valioso. O nosso tempo. Então, se eu entreguei algo às iniciativas que conheci. Hoje tenho certeza que recebi muito mais que dei. Aprendi muito mais que ensinei.
Com o apoio do amigo Humberto Barros, que é nômade, e conhece projetos sociais ao redor do Brasil, ela foi abrindo o contato com os representantes dessas iniciativas. "Em dado momento se tornou natural eu chegar a uma região e perguntar sobre um projeto. Tanto para me ajudar a traçar a nova rota, quanto para se conectar".
Sozinha na estrada
Na hora de escolher uma moto para encarar a estrada, Raquel Stein contou com o apoio de uma amiga jornalista e motociclista experiente, Karina Simões, para conseguir um modelo que se adequasse às suas necessidades na estrada. A escolhida foi uma Royal Enfield, modelo Himalayan 2021, de 411 cilindradas.
Os desafios foram inúmeros. Desde o fato de ser subestimada em toda parada de posto de gasolina pelo simples fato de ser mulher até perrengues de trocar câmara do pneu, de cair no meio de estradas desertas.
"Muitas vezes tive que falar que a dona da lancha era eu. Não acreditavam e muitos ainda não acreditam que banquei algo assim e que realmente fiz sozinha. Tive de dormir na beira de estrada em algum hotelzinho, de entrar em terrenos desconhecidos e tudo eu por mim mesma. Mas sabe o que é mais incrível, por mais decepcionante que pareça? Eu não me machuquei, não fui assaltava agredida ou enfim. qualquer coisa do tipo. Creio que sai com a energia tão de fazer o bem que fui protegida de todo o mal", relembrou.
Hoje, a publicitária está em busca de montar meu documentário. Procurando apoiadores que me ajudem a viabilizar essa história para que todo o valor arrecadado seja revertido para as iniciativas que conheceu.
Mais mulheres na estrada
Raquel incentiva para todas as mulheres terem a coragem que ela teve. "Independentemente do gênero, todos precisam ter coragem para isso sim. Mas falo das mulheres, porque só nós sabemos como somos estimuladas ao medo e não ao contrário. Eu convido todas as terem coragem. Com responsabilidade e atenção", comenta.
Então ela voltou ao mercado de trabalho? Sim. "Só nunca mais voltei a ser a mesma Raquel de antes. Essa morreu e renasceu algumas vezes. Hoje tenho alguns limites pessoais que antes não entendia. Hoje tenho consciência de quem sou. Do que quero e principalmente do que não quero. E mais do que nunca sei o poder que a doação de tempo tem. Por isso escolho muito bem para quem e o que doar o meu".
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