O bairro de Buenos Aires que foi eleito o 2º mais bonito da América Latina
Cheguei de ônibus —mas poderia ter sido de táxi— no segundo bairro mais bonito da América Latina, segundo o ranking internacional da Revista Traveler. Decidi ir de transporte público porque em Buenos Aires é muito prático e barato (R$ 0,50 centavos). E como eu estava no centro, a 6 quilômetros do meu destino, foi fácil acessar La Boca, que está na zona sudeste da capital.
Além do destino argentino, o ranking top 19 da Revista Traveler, publicação especializada em viagem, também cita os bairros brasileiros da Vila Madalena, em São Paulo, e Copacabana, no Rio de Janeiro, ficaram em 7º e 13º lugares, respectivamente. A primeira posição ficou com o bairro cubano de Havana Velha, em Havana.
Fui direto para Caminito, a rua mais famosa do bairro que, até 1920, era uma via de trem. Os trilhos seguem preservados. Ao redor, casas coloridas, futebol, apresentações de tango improvisadas, restaurantes e uma atmosfera popular e vibrante.
Caminito é um dos lugar mais fotografados do mundo
Caminhar pelo bairro de La Boca é uma das atividades que mais atraem os turistas, principalmente brasileiros que visitam Buenos Aires. Não é exagero dizer que a região é uma das mais pitorescas da capital portenha; Caminito, que está entre os 10 lugares mais fotografados do mundo, segundo dados do Google Maps, é o epicentro do bairro.
Eu adoro que os turistas venham. Aqui ficou tão diferente com a pandemia, que agora a gente tem que é aproveitar. Fabrício, atendente de restaurante
"É a minha primeira vez em Buenos Aires e a minha impressão sobre La Boca é que é um bairro cultural, as pessoas são muito acolhedoras e a arquitetura é charmosa. Estou adorando", contou a brasileira Ana Carolina Bacila, natural de Curitiba, que está em viagem com o marido.
Talvez não seja exagero dizer que Caminito, especificamente, seja o local turístico mais brasuca de Buenos Aires. De tão visitado por brasileiros, o idioma português já foi incorporado pelos prestadores de serviço que trabalham em La Boca, como é o caso de Gonzalo, que percebendo que sou brasileira, se aproximou me oferecendo um panfleto de um restaurante, emendando o clássico "Eu falo português".
Bairro de imigrantes
Percorrendo as ruas fora da zona turística, pergunto aos moradores que encontro pelo bairro porque eles acreditam que La Boca foi eleito o segundo mais bonito da América Latina: "Ah, La Boca é La Boca", me responde a moradora Ana Cardoso, uruguaia de 68 anos. "Para mim, é a energia, as cores, a simpatia das pessoas. Eu moro em La Boca há 48 anos e não troco por nenhum lugar", diz com orgulho. "La Boca cresceu e hoje aqui moram argentinos, uruguaios, têm muitos paraguaios e peruanos também", complementou Ana.
O bairro está às margens do Rio de la Plata. No final do século 19, com o antigo porto, a região foi crescendo junto com a comunidade imigrante, principalmente italiana, que pouco a pouco foi imprimindo personalidade e vida à região, como é possível conhecer mais na série "Ventos de Água", disponível na Netflix, e que conta sobre a imigração do início do século 20, em Buenos Aires.
Com o tempo, a paisagem foi se misturando com outros sotaques e outras nacionalidades. Historiadores ressaltam que o bairro foi se constituindo a partir de uma identidade popular, de rua, marginal, onde as pessoas, até hoje, ocupam o espaço público, caminham pra lá e pra cá, produzem e consomem arte popular, desde murais até artesanatos.
"Adoramos viver em La Boca. Tem o porto, o rio, os vizinhos são muito amáveis. Todo mundo se conhece. Além disso, tem muita arte, muito grafite, e quando a gente quer sair um pouco, estamos ao lado de Porto Madero, que também é lindo", ressaltou Fabian Fernandez junto com a amiga Luna Rodrigues, ambos com 16 anos, estudantes do ensino médio. Porto Madeiro, aliás, também está na lista dos bairros mais bonitos da América Latina, junto com mais dois bairros portenhos: San Telmo e Palermo.
La Boca e Boca Juniors
La Boca está tão identificado com o futebol que é praticamente impossível encontrar algum morador com uma camisa de algum clube que não seja o Boca Juniors. A relação dos moradores com o clube portenho se cultiva desde crianças, como é o caso da Mia, de 6 anos, que, para os pais Micaela Chaparro e Mauricio Correas, será a próxima estrela do futebol feminino do Boca. "Não tinha como não ser", brinca o pai.
Não é incomum encontrar uma infinidade de lugares boêmios em La Boca, de dia ou de noite. A simpatia dos moradores, para o curitibano Mateus Bacila, também é um contraste em relação a outros lugares turísticos de Buenos Aires, onde os portenhos são mais "fechados".
"Aqui, sem dúvida, as pessoas são bastante acolhedoras, isso é o que eu achei mais marcante", exaltou. E ele tem razão, tudo em La Boca parece mais latino, mais misturado. Porém, se prepare: por ser muito turístico, o assédio é forte. Mas nada que um sorriso no rosto e um bom "no, gracias" não resolvam.
O ídolo Maradona
Diego Armando Maradona é outro ícone do bairro, o craque é um dos grandes ídolos do Boca Juniors. Seu rosto e sua presença estão nos bares, nos muros, nas conversas entre os vizinhos, nas proximidades de La Bombonera, nas lembrancinhas turísticas e, mais recentemente, em um grande mural construído em homenagem ao ídolo, após sua morte, em novembro de 2020. A obra ocupa uma parede de cerca de 20 metros de altura na rua Aristóbulo del Valle e foi produzida pelo artista plástico Alfredo Segatori.
La Boca além do futebol
O mural está em harmonia com o bairro, que tem uma arquitetura particular, em linhas horizontais, com casas coloridas de madeira e de chapa, com terraços de ferro que ainda estão conservados pelas ruas do bairro. Pintar toda a casa com a mesma cor tinha um custo alto, então toda a gota de tinta era aproveitada, misturando-se com outras cores, explica o guia turístico para um dos milhares de grupos estrangeiros que visitam a região.
Além de Caminito, o turista pode conferir o Museu Quinquela Martin, dedicado ao pintor mais famoso do bairro. Ao lado está o Teatro de la Ribeira, lugar no qual o artista pintou alguns murais.
Outro ponto imperdível é a Fundação Proa, um museu com uma perspectiva de arte contemporânea, cuja entrada para o Museu custa 500 pesos (10 reais), mas a livraria e o café com terraça no último andar têm entrada gratuita. A terraça, inclusive, tem uma excelente vista panorâmica do bairro para fazer fotos. Para os amantes de futebol, há quatro quadras de Caminito está o estádio La Bombonera, do Boca Juniors, com visitas guiadas.
Apesar de Caminito ser o ponto mais turístico do bairro, La Boca tem outras razões para ter sido eleito o segundo bairro mais bonito da América Latina. A beleza está em sua desordem, sua ruptura, sua rebeldia e, não seria exagero dizer, por sua resistência, que impacta e, consequentemente, transforma os olhares de quem visita La Boca.
Veja mais fotos de La Boca, em Buenos Aires
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.