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Por que é tão difícil para o viajante brasileiro chegar à África

Cidade do Cabo, na África do Sul, um dos principais destinos de turistas no país - spooh/Getty Images
Cidade do Cabo, na África do Sul, um dos principais destinos de turistas no país Imagem: spooh/Getty Images

Colaboração para Nossa

07/10/2022 04h00

O sul da África nunca esteve tão distante do Brasil como atualmente. Desde que a SAA (South African Airways) e a Latam deixaram de operar o voo direto entre São Paulo e Joanesburgo, nos últimos dois anos, chegar na África austral significa encarar uma longa viagem.

Até então, desembarcar no O.R. Tambo, a única porta de entrada de brasileiros na África do Sul (e em todo o resto do sul do continente), se resumia a um voo direto de cerca de 10 horas de duração até Joanesburgo.

Para preencher a lacuna, a Taag (www.taag.com) tem voltado os olhos para o mercado brasileiro com uma nova opção de rota.

Sediada na capital de Angola, na costa oeste do continente, essa companhia conta hoje com três frequências semanais na rota São Paulo - Luanda e promete mais duas outras opções de voo até o final deste ano, entre novembro e dezembro.

Até lá, o trecho de 8h15 de duração, aproximadamente, é oferecido às segundas, quartas e sextas. No sentido contrário, a viagem acontece aos domingos, terças e quintas.

Um Airbus A340-642 da South African Airways, companhia que deixou de operar na rota São Paulo - Joanesburgo - Bruce Bennett/Getty Images - Bruce Bennett/Getty Images
Um Airbus A340-642 da South African Airways, companhia que deixou de operar na rota São Paulo - Joanesburgo
Imagem: Bruce Bennett/Getty Images

"Sempre fomos uma companhia de angolanos para angolanos e agora queremos mudar isso. Angola ainda é vista como um destino corporativo", diz para Nossa Lisa Mota Pinto, administradora executiva da Taag.

Tradicionalmente, o país é destino de brasileiros a negócios, sobretudo profissionais nacionais que atuam no setor petrolífero.

Avião da Taag - Angola Airlines - Divulgação - Divulgação
Empresa aérea angolana Taag oferece rotas diretamente ao continente africano
Imagem: Divulgação

Para um pouquinho, descansa uma pouquinho

Hoje, por exemplo, para se chegar à Cidade do Cabo, destino mais turístico para brasileiros na África do Sul, um passageiro de São Paulo precisa voar até a Europa, em aeroportos como o de Londres, na Inglaterra, ou Frankfurt, na Alemanha, cujos voos não levam menos de 11 horas.

Uma vez na Europa, ainda é preciso tomar um outro voo, cruzando a África de norte a sul, literalmente.

"Quando o consumidor [brasileiro] pensa na África, pensa em ir pela Europa ou até pelo Oriente Médio, mas não lembram que estamos tão perto. Isso acontece por que durante muitos anos nós [da Taag] nos posicionamos assim", avalia Lisa.

Com a fama das companhias de origem árabe no Brasil, na última década, destinos como Dubai e Doha se tornaram outra alternativa para quem viaja para a região sul-africana.

No entanto, é preciso lembrar que um brasileiro tem que voar em média 14 horas até o Oriente Médio para então embarcar em outro voo até a Cidade do Cabo, uma viagem de cerca de 10 horas de duração.

Cape Town - Johannes Mann/Getty Images - Johannes Mann/Getty Images
Brasileiros que querem visitar a Cidade do Cabo, na África do Sul, eventuralmente darão alguma volta até chegar lá
Imagem: Johannes Mann/Getty Images

Um outro caminho mais longo ainda

A terceira opção, ainda mais descabida, é seguir até os Estados Unidos, que exigem visto de brasileiros, para então encarar outra perna até a África.

Mais do que promover o turismo em Angola, país ainda associado ao alto índice de violência e custos elevados, a Taag quer reforçar sua conectividade com destinos turísticos vizinhos melhores estruturados.

Lisa lembra, por exemplo, das conexões para países como a própria África do Sul, além da vizinha Namíbia, Moçambique, Zâmbia e Zimbábue, esses dois últimos conhecidos pelo acesso às Cataratas de Vitória.

Na coletiva de imprensa em que a reportagem esteve presente, em agosto, Lisa e o CEO Eduardo Soria informaram que a companhia aérea Angola conta hoje com um acordo de tarifas com a Latam, conhecido como SPA (Special Prorate Agreements) e está em negociação com outras aéreas nacionais.

Uma novidade para 2023

Depois que a matéria já havia sido publicada, a Latam anunciou, por meio de comunicado enviado à imprensa, que retomará a rota Guarulhos - Joanesburgo com três voos semanais a partir de julho de 2023. A previsão é de que o trajeto dure 9 horas.

Compare os voos*

Via Oriente Médio
Por companhias aéreas como Emirates (via Dubai), Qatar (Doha) e Turkish (Istambul), a viagem dura entre 27 e 32 horas, incluindo troca de aeronave na primeira parada e tempo de espera de 4h, em Doha, a 8h35, em Istambul. Sem falar nas outras 9h45 entre a região e a Cidade do Cabo, praticamente, o equivalente à antiga rota São Paulo-Joanesburgo.

Valor mínimo: R$ 6.542

Via Europa
A viagem pode ser ainda mais cansativa. Raras são as companhias que conseguem levar um brasileiro até a Cidade do Cabo em menos de 25 horas de deslocamento.

Via Londres, são nada menos que 38 horas de viagem pela British Airways, incluindo uma espera no Aeroporto London Heathrow que pode chegar a 16h.

Já pela Iberia são quase 40 horas, considerando as trocas de avião em Madri e Doha, no Catar.

E pela França, com conexões da Air France em Paris e Amsterdam, um brasileiro não chega em menos de 26 horas.

Valor mínimo: R$ 13.205

Via EUA
Sem dúvida, é a opção menos recomendada, não só pela exigência de visto, mas também pela longa duração da viagem, como as terríveis 54 horas, via Chicago, passando por destinos como Nova York e Frankfurt.

Vale lembrar também que muitas das companhias estadunidenses costumam oferecer o trecho São Paulo - Cidade do Cabo em parceria com empresas aéreas que já operam no Brasil.
Valor mínimo: R$ 9.672

Via Angola
Pela Taag, a viagem entre Guarulhos e a Cidade do Cabo dura 14h45m, incluindo um voo de 8h15 de duração até Luanda e outras três horas de espera na capital angolana.

O trecho Luanda - Cidade do Cabo é operado diariamente e dura 2h30.
Valore mínimo: R$ 12.227

* para essa pesquisa foi considerada uma viagem saindo de Guarulhos (SP) com destino à Cidade do Cabo, na África do Sul.

** os valores se referem à cotação feita no final de agosto para uma viagem de ida e volta sem taxas inclusas, voando em classe Econômica, em outubro de 2022.

*** fontes: Decolar, Kayak, Skyscanner e Taag

Brasileiros precisam de visto?

Sim. A solicitação do visto de turismo pode ser feito presencialmente no Consulado de Angola, em São Paulo, às segundas, quartas e sextas, das 9h ao meio-dia.

Segundo o site www.consuladogeraldeangolasp.net, é preciso encaminhar documentos como um formulário preenchido e com assinatura reconhecida em cartório, carta de solicitação de visto ou carta-convite assinada pelo anfitrião em Angola e comprovante de meios de subsistência no país, como o de renda ou extrato bancário.

A longa lista de documentos inclui também cópias do passaporte, RG e CPF, e comprovantes de residência, do cartão internacional de vacina, reserva de passagens e hotel, e atestado de antecedentes criminais.

O serviço custa em torno de US$ 70.

No site do SME (www.sme.gov.ao), serviço do governo para migrantes e estrangeiros, existe a possibilidade de solicitação de visto pela internet.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que havia sido informado em uma versão anterior do texto, a Taag não é a única companhia aérea a ter rotas entre Brasil e África. A informação foi corrigida.