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Casal conta como enfrentou 'cegueira branca' na Patagônia: 'natureza manda'

Rogerio e o carro, um 4X4, no meio de muita neve na Patagônia - Arquivo pessoal
Rogerio e o carro, um 4X4, no meio de muita neve na Patagônia Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

16/10/2022 04h00

Em dezembro de 2021, o casal brasileiro Rogerio e Camila Silveira (@rocanomundo) começou, junto com sua cadelinha chamada Walia, uma viagem de carro cujo objetivo era desbravar lindas paisagens da América do Sul.

O trio saiu de São Paulo, cruzou os estados do sul do território brasileiro, entrou no Uruguai e, logo depois, ingressou na Argentina, para atingir um dos grandes objetivos da jornada: explorar as belezas naturais da Patagônia.

E os viajantes chegaram à selvagem região do país hermano no começo da época mais fria do ano, na segunda metade de abril - e lá ficaram até setembro, atravessando todo o inverno.

"As paisagens da Patagônia estavam lindas, mas também enfrentamos alguns contratempos por causa do frio. Neste ano, a área registrou um dos invernos mais gelados dos últimos tempos, com muitas nevascas. Foi um verdadeiro desafio cruzar as estradas da região", conta Camila.

A maior aventura vivida pelo trio foi uma experiência assustadora que eles classificaram como "cegueira branca".

Casal na Patagônia - De carro, os viajantes enfrentaram muita neve na Patagônia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
De carro, os viajantes enfrentaram muita neve na Patagônia
Imagem: Arquivo pessoal

Desorientados na nevasca

"Estávamos no auge do inverno e iríamos fazer um deslocamento de carro entre Río Gallegos e El Calafate. E, no trajeto, fomos pegos por uma nevasca", lembra Rogerio. "Aos poucos, começamos a enfrentar essa cegueira branca. Por causa da neve, a gente não conseguia saber o que era a estrada, o que era o acostamento, o que era o céu, o que era o horizonte. Estava tudo branco à nossa frente".

O cenário desorientou totalmente os brasileiros.

"Em determinado momento, achei que nós estávamos em uma parte de descida da estrada. E, ao mesmo tempo, o Rogerio teve a sensação de que nos encontrávamos em uma subida", conta Camila. "E começamos a perder o controle do carro. Não dava para frear direito. E quando acelerava um pouco mais o carro, ele derrapava".

Tudo isso começou a acontecer 70 quilômetros depois de o trio ter deixado Río Gallegos. E, logo, os viajantes constataram que seria impossível seguir adiante.

Resolvemos retornar, mas para fazer a volta com o carro foi muito difícil.

"Demos ré e, por causa da neve na estrada, o veículo começou a se mover de lado. Foi desesperador, pois já estávamos emocionalmente abalados com a situação, que estava muito perigosa. Mas conseguimos manobrar e voltamos para Río Gallegos".

Casal na Patagônia - Rogerio e Camila no mundo selvagem da Patagônia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rogerio e Camila optaram muitas vezes por acampar durante trajeto
Imagem: Arquivo pessoal

Dias e noites na Patagônia

Mesmo com perrengues causados pelo frio, Rogerio, Camila e Walia conseguiram aproveitar (e muito) as belezas da Patagônia e de regiões argentinas vizinhas.

A viagem pela região foi realizada com um veículo 4x4 que ganhou uma estrutura de motorhome, com uma barraca que é montada no teto do veículo e equipamentos de cozinha, como geladeira e fogareiro.

Isso fez com que eles conseguissem chegar e dormir em locais mais isolados e selvagens da Patagônia e arredores.

"Passamos, por exemplo, pela Península Valdés, um lindo destino litorâneo onde vimos pinguins e leões-marinhos. Também percorremos a fantástica rodovia Ruta 3, com trechos que correm ao lado do oceano Atlântico. E chegamos até Ushuaia [cidade no extremo sul da Argentina, que é chamada de Fim do Mundo], onde ficamos um mês".

Casal na Patagônia - Os brasileiros chegando a Ushuaia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os brasileiros chegando ao Ushuaia
Imagem: Arquivo pessoal

Depois de Ushuaia, o trio subiu a Argentina pela Ruta 40, que atravessa regiões coroadas pelas montanhas dos Andes. E também visitou a incrível geleira Perito Moreno, a partir de El Calafate.

"Este foi um dos momentos mais incríveis do roteiro", diz Camila. "A gente conseguiu andar sobre aquela geleira gigantesca".

Para Rogerio, outra experiência inesquecível foi dirigir pela zona onde está a cidade de San Martín de los Andes, pontuada por belíssimos lagos. "E ainda conseguimos esquiar quatro vezes, em locais como a área de El Bolsón".

Casal na Patagônia - Acampamento em área selvagem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Acampamento em área selvagem
Imagem: Arquivo pessoal

'Quem manda na Patagônia é a natureza'

Durante todo esse roteiro pela Argentina, os brasileiros dormiam tanto em áreas de camping quanto em lugares selvagens.

"A Argentina tem excelentes áreas de camping municipais, que oferecem chuveiro e uma área segura para passar a noite, tudo por um preço muito baixo", elogia Rogerio. "Mas, sempre que possível, a gente dormia em locais selvagens, para curtir ainda mais a natureza".

Nessas paradas, para uma boa noite de sono, os viajantes tinham que se esforçar para se aquecer na barraca do teto do carro, usando resistentes sacos de dormir e até bolsas de água quente.

"Chegamos a enfrentar violentas ventanias na barraca. Mas era tudo parte da aventura", relata Camila.

O casal diz que conseguiu curtir a Patagônia porque teve a chance de viajar devagar.

"Quem manda na Patagônia é a natureza. Se você estiver de carro, não venha à região com pressa", diz Rogerio. "Ventos fortes ou chuva podem fechar diversos atrativos turísticos da área no verão. E, no inverno, é a neve que às vezes vira um obstáculo. Por isso, é preciso estar com tempo para achar o momento certo de conhecer os lugares. Na Patagônia, quem tem pressa perde tempo".

Neste momento, Rogerio, Camila e Walia estão em um lugar mais cálido: o norte da Argentina.