Andando e nadando: triatleta desbrava litoral brasileiro com R$ 10 por dia

Se o dinheiro não existisse, você ainda levantaria todos os dias pela manhã para fazer o que você faz hoje? E se seu tempo fosse somente seu e você pudesse aproveitá-lo do jeito que quisesse, o que você faria? Foi parando para pensar nestas frases que o educador físico Tarso Gonçalves Soares, de 39 anos, teve a ideia de cruzar o litoral brasileiro de norte a sul a pé.

"Eu sempre fui muito feliz com a minha profissão, mas parei para pensar se eu continuaria fazendo tudo aquilo, mesmo se o dinheiro não existisse... e a resposta foi que não", disse.

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Estas frases estavam em uma rede social quando Tarso as viu, lá em 2016. Ele conta que, embora tenha respondido na postagem que sim, continuaria a fazer o que gosta, ele confessa que dormiu e acordou os próximos dias pensando realmente no que ele faria se houvesse essa oportunidade. E a resposta foi: viver livremente com o mínimo possível.

Na época, Tarso era dono de uma empresa de treinamento físico em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, onde trabalhava com o que gostava e o que era sua formação acadêmica.

Porém, ao terminar a faculdade, foi morar na Austrália, onde descobriu o costume dos jovens de tirar um ano sabático após os estudos.

"Todos os meus amigos de lá faziam, e eu fiquei pensando por que aqui no Brasil a gente não tem esse costume. Quando li aquela frase (acima), relembrei desse costume e resolvi pôr no papel quanto ia me custar financeiramente e como experiência de vida", lembra.

R$ 10 é suficiente?

Tarso conta que na Austrália, estima-se o gasto para tirar um período sabático seja de US$ 100 por dia. "Eu resolvi vender tudo o que eu tinha e planejar o máximo de tempo de férias possíveis com R$ 100 ao dia. Mas, como sou supereconômico, quase mão de vaca mesmo, baixei pra R$ 50 e depois R$ 30. Logo vi que se eu andasse, pedalasse e nadasse a maior parte do tempo e levasse uma barraca, eu podia tranquilamente usar somente R$ 10 por dia para me alimentar com frutas e vegetais por 10 anos", planejou.

Como já havia participado e treinado bastante para provas de triatlo (esporte que combina corrida, pedal e natação), a ideia era bastante atraente para o educador físico.

O primeiro projeto começou em 2017 e recebeu o nome de #10AnosDeFérias. Ele ficou 4 anos sem trabalhar um dia sequer, conforme planejado. Ele andou, pedalou e até nadou pelo sul do país, onde vivia, estendendo para os países vizinhos. Ele conta que fazia um tratamento nos dentes naquela época, então não conseguiu ir muito longe, pois a cada 30 dias precisava voltar para acompanhamento ortodôntico. Esse primeiro período do projeto sempre foi feito seguindo um roteiro que ele planejava antes para durar o tempo estabelecido.

Mas logo ele sentiu falta de uma rotina, uma meta a ser percorrida. "Eu estava há 4 anos de férias, conforme planejei. Mas eu passava por muitos lugares, conhecia muitas pessoas e não reencontrava com ninguém. Eu estava cansado de falar do projeto, cansado de não ter rotina, aí resolvi pausar a viagem e prestar um concurso para trabalhar na temporada de verão em Florianópolis, e consegui", desabafou.

Quando o trabalho, que era temporário chegou ao fim, Tarso estava pronto para voltar a viajar. Desta vez, a ideia tinha a ver com a infância dele. Ele conta que adorava ver o Guia 4 Rodas com o pai e pensar: eu já pisei aqui neste lugar, e a maioria deles eram as praias.

Então agora eu resolvi caminhar por todas as praias brasileiras.

Desde 20 de março deste ano, Tarso percorreu mais de mil praias, do Chuí, no Rio Grande do Sul, até Ilha Grande, no Rio de Janeiro, somando cerca de 2.400 quilômetros dos 8.198 de extensão do litoral brasileiro. "Onde não tem como fazer caminhando, eu nado. Mas desta vez eu não uso a bicicleta", revela. Ele separa as viagens por trechos. Pega carona até onde terminou da última vez, e de lá inicia sua nova caminhada, sem prazo, sem pressa, apenas caminhando e contemplando a natureza.

"Os únicos locais que não consegui andar ou nadar são de reserva ecológica, mas estou estudando para ver se tem alguma excursão, ou programa de visitação para poder riscar esses locais também na minha lista", disse.

Atualmente, Tarso está em Florianópolis porque vai novamente trabalhar temporariamente. "E agora estou namorando, ela também gosta muito de praticar esportes, mas o plano continua".

"Acho que o que vale disso tudo é a gente se questionar sobre o que fazemos todos os dias, o quanto aquilo nos traz felicidade, mesmo que tenhamos que trabalhar. Não podemos esquecer que a nossa vida é única, e o que realizamos nela é o que conta. Eu decidi que ia viver uma vida única, ímpar, com pouco e bem diferente do que a maioria... ou como eu estava levando a minha vida. E estou gostando muito. Não me vejo ainda voltando a trabalhar por longos períodos, somente por prazer e pra "descansar", brinca.

Para quem quiser acompanhar a viagem de Tarso, ele faz um diário de viagem no perfil do Instagram @10anosdeferias.

Se alguém quiser caminhar comigo algum trecho, é só me avisar. De tempos em tempos eu olho o celular e adoraria conhecer pessoas que gostam de caminhar nas praias.