Apê sobre rodas: eles transformaram ônibus em seu lar para chegar ao Alasca
"Essa história começa em uma parte triste da vida", avisa logo Tiago Reis. Há alguns anos, ele, que era professor de inglês, e o namorado, Rafael Manteufel, empreendedor, abriram uma escola-bar em São José dos Campos, São Paulo, unindo suas paixões. Como muitas histórias que já contamos aqui, a pandemia, arrasadora de sonhos, fechou o negócio, apesar de a dupla lutar muito.
Sonhadores que são, mesmo com o bolso furado, decidiram que venderiam o que havia restado para ir mochilar pela Europa. Com o tempo e as vendas aceleradas, veio outra ideia.
O Rafa pensou em comprar um motorhome, onde viveríamos com poucos gastos, levando nosso gato Vicente para onde quiséssemos Tiago
Assim fizeram: com o dinheiro em mãos começaram a buscar as opções. Perceberam que um ônibus, em vez de motorhome, seria mais divertido, embora mais caro, como pensavam. Estavam errados: era a opção mais em conta. Investiram R$ 23 mil e um carro popular usado. Em comparação com o mesmo modelo novo, o deles, de 2005, custou dez vezes menos.
A compra
Tudo começou com algumas regras: eles não iriam longe para ver o veículo e levariam um amigo "entendido" do assunto para não cair em roubadas. "Nunca tivemos ônibus, precisamos estudar tudo em uma semana pra ninguém passar a perna na gente. Não tínhamos a mínima ideia do que era veículo a diesel. O motor é mais robusto e precisa até de mecânico especializado", ri a dupla.
Tudo parecia perfeito. "Queríamos comprar logo, não tinha como testar muito. Fizemos as manutenções iniciais e trocamos a elétrica. O orçamento estava acabando e já tínhamos vendido quase tudo. Mas ainda havia muita coisa a ser feita."
A essa altura, eles sabiam que a verba não seria suficiente. Precisaram mudar os planos e colocar as mãos à obra eles mesmos. Rafa, que já havia viralizado nas mídias com uma de suas criações artísticas, pensou em compartilhar o passo a passo da transformação do ônibus no @buslifebr. Até que um dos vídeos se projetou como viral de novo, a partir de uma estratégia feita para isso.
Influencers
E 15 milhões de visualizações depois, abria-se uma nova porta na vida.
Era coisa de ir almoçar, voltar e ganhar 13 mil seguidores. Em 3 dias estávamos com 150 mil pessoas assistindo nossos conteúdos.
Assim, algumas marcas entraram em contato, o que rendeu parcerias no projeto de arquitetura de Valéria Mira, nos revestimentos e outras escolhas - 90% da "nova casa" foi patrocinada. "Já estávamos esgotados ao final. Nunca fomos influenciadores e tivemos que lidar com tudo ao mesmo tempo", conta Tiago, que abraçou a profissão em tempo integral.
A transformação
Uma reforma é sempre difícil. "Mas transformar um veículo numa casa que se retorce exige muito pensamento de engenharia. A tubulação quebraria, se fosse convencional. Tudo aqui é adaptado", diz ele, apontando o ônibus.
Uma "tiny house" onde tudo tem multifunções e cada centímetro importa — é que os dois definem o ônibus. Há outro problema: Rafael mede 1,90 m. "Quando colocássemos os revestimentos, ia diminuir a altura do ônibus, e o Rafa viveria curvado em casa. Assim, decidimos aumentar o teto", conta Tiago.
Na montadora, o teto foi cortado e chegou a cair no chão — imagine o susto. Depois de muitos perrengues colecionados em pouco mais de um ano, o ônibus ficou pronto.
Pensamos em cada detalhe, como fãs de design que somos. Realizamos o sonho de ter uma casa em estilo industrial, só que sobre rodas.
Seguindo tons escuros, acessórios de metal, itens que refletem esse estilo, saíram do lugar-comum de tons claros e revestimentos amadeirados que a maioria dos veículos adaptados para se tornarem casa tomam.
O resultado? "Estamos anestesiados, pelo sonho e pelo volume de trabalho. Vamos largar tudo para nos tornarmos influencers e já fechamos com quatro marcas nacionais.
Passa um filme na cabeça, afinal, realizamos tudo isso em um ano", contam.
Rumo ao Alasca
Casa pronta, agora eles partem para uma viagem por Norte a Sul do Brasil, daqui a pouco mais de uma semana. Depois sobem para a América Central na rota panamericana, que vai do Ushuaia ao Alasca.
"O que queremos é ser felizes. Vimos muita gente morrer sem realizar seu sonho", contam eles, que se conheceram 11 anos atrás, num chat do UOL. E é só um novo começo de muitos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.