Grandalhões e simpáticos: como é nadar pertinho dos peixes-boi na Flórida
Foram só dez segundos dentro da água e o celular não ligou nunca mais. Mas não tinha como não registrar aquele momento: eu remava em uma prancha de stand up paddle em águas tão transparentes que não precisava de nenhum esforço para ver um peixe-boi sempre ao meu lado. Pode parecer, mas essa experiência não é exclusiva nem rara: é coisa que todo mundo pode ter a só uma hora e meia de Orlando.
No inverno, a região de Crystal River, na Flórida, é lar de 1.000 peixes-boi. Eles ficam para lá e para cá no rio e quem chega ali tem a chance de nadar lado a lado com esses grandalhões simpáticos.
Muita gente não sabe, mas basta rodar pouco tempo a partir de Orlando para encontrar essas águas, as Florida Springs, como chamam os norte-americanos, ou, em bom português, nascentes de rios que formam piscinas naturais às vezes azuis às vezes verdes. Ali, dá para se refrescar, remar caiaque ou stand up paddle, fazer passeios de barco e nadar junto com os peixes-boi que habitam livres aquelas águas.
A Flórida tem 700 nascentes, mas as mais famosas delas estão em Ocala, a uma hora de Orlando, e em Crystal River, a uma hora e meia. Colocar essas duas cidades no roteiro é a dica para relaxar depois de toda a maratona nos parques de Orlando - e para realmente voltar para casa com o descanso que as férias deveriam mesmo conceder.
Terra dos peixes-boi
A região de Crystal River concentra nascentes e piscinas naturais de água azulzinha que são adoradas tanto pelos turistas quanto pelos peixes-boi. Os animais ficam ali ao seu lado enquanto você nada por aquelas águas, e não tem nada de adestramento, treinamento ou qualquer outra coisa do tipo: Crystal River é área nacional de proteção de peixes-boi, e é ali que esses grandalhões escolheram viver.
Aliás, tem um certo treinamento, sim. Dos humanos, que antes de entrar na água devem assistir a um vídeo explicando todas as regras que envolvem proteger os peixes-boi, como não tocá-los e não bloquear seus caminhos.
Nos meses mais frios do ano, mais especificamente de novembro a março, eles deixam as correntes frias do Golfo do México e vão se abrigar em Crystal River, onde a água é mais quente, com a temperatura constante de 22 ºC. Sorte deles terem encontrado Crystal River, afinal com a pele fina e pouca gordura corporal, sem migrarem para as águas quentes eles não sobreviveriam.
'Cachorros do mar'
É nessa época que a região é tomada pelos 1.000 peixes-boi, mas caso você não consiga estar lá no inverno, não tem problema. Cerca de 70 desses animais acabaram ficando em Crystal River por livre e espontânea vontade — principalmente mães com seus filhotes. Não tem dia que não dê para vê-los.
Mike, guia da Crystal River Watersports, leva os turistas todos os dias para nadar com os peixes-boi, e garante: nos sete anos de trabalho, nunca voltou para casa sem ver um peixe-boi.
Esses mamíferos são tão na deles que chegam a ser apelidados por lá de cachorros do mar. E, para vê-los, você pode partir de barco em um passeio com empresas como a Crystal River Watersports (US$ 65 para três horas de passeio) ou ainda em um tour de caiaque ou stand up paddle com a Hunter Springs Kayaks (US$ 80 o tour privado ou US$ 47 o aluguel do caiaque ou da prancha para você remar por conta própria por três horas).
O guia vai estar sempre de olho se avista o mamífero grandalhão subindo à superfície para respirar.
Aí então é só pular na água. Os dois passeios terminam na Three Sisters, a nascente mais desejada entre as 70 que formam as águas da região: ela merece mesmo a fama. Na Three Sisters a água é daquele azul vibrante que muitas vezes só um Photoshop consegue criar.
Deixa todo mundo admirado, assim como em todo esse parque aquático completamente natural e tão perto de Orlando.
Nascentes para nadar em Ocala
Walt Disney foi o responsável por colocar a Flórida na lista de desejos de viagem de crianças e adultos espalhados pelo mundo. Isso foi há pouco mais de 50 anos. Mas pouca gente parou para pensar que antes disso tudo, a Flórida já tinha seus hotéis e pontos turísticos que atraíam moradores do país todo.
E era justamente Ocala o grande point do estado. Graças às águas transparentes que brotam por lá, a região foi a primeira atração turística da Flórida e desde os anos de 1800 tem uma boa estrutura para receber quem quer nadar naquele ambiente cheio de verde.
Uma das nascentes mais desejadas do país é a Rainbow Springs, fonte que forma uma água azul cercada pela mata. Para chegar nesse que é o ponto mais bonito, o ideal é alugar um caiaque ou prancha de stand up paddle na bilheteria do Rainbow Springs State Park e remar cerca de 20 minutos pelo Rainbow River. Pássaros, tartarugas e às vezes até lontras vão enfeitando o caminho de calmaria total em um cenário que tem um quê de fervedouros do Jalapão — mas com muito mais infra.
Tanto quanto o agito de Orlando fica para trás, o que fica para trás também são os preços salgados das atividades. No Rainbow Springs State Park, por exemplo, custa só US$ 2 para entrar, somados ao caiaque e ao stand up paddle que saem US$ 12 por hora.
Outra das nascentes mais queridas é a Alexander Springs, uma das mais fáceis de simplesmente chegar e nadar. Um caminho pavimentado (inclusive com banheiros, bancos de madeira e mesas) leva à nascente, praticamente uma piscina de águas verdes com a temperatura sempre a refrescantes 22 ºC. Você vai nadar em frente a um cenário todo tropical, com direito a palmeiras e a uma floresta exuberante.
Mas a área que mais reúne gente é o ponto borbulhante dessa piscina natural, responsável por formar o Rio St. John. Quase como regra na região, se refrescar do calorão da Flórida é coisa bem acessível: entrar na Alexander Springs custa só US$ 8 durante a semana, e US$ 11 nos fins de semana, e detalhe, para passar o dia todo.
Do outro lado da imensa Ocala National Forest, cruzando por 40 km desde a Alexander Springs, um pórtico indica que você chegou a Silver Springs, aquela que foi a primeira atração turística da Flórida. É mais um parque estadual cheio de infraestrutura, com passarelas de madeira para caminhar entre a floresta, guias espalhados pelo parque prontos para dar qualquer informação, restaurante e placas explicativas.
A floresta é fascinante e a água é de um azul brilhante — mas apesar de gerar uma baita vontade de entrar na água, nessa nascente é proibido nadar. Principalmente por dois motivos: o primeiro, porque é área de aligatores, e o segundo, porque a atividade icônica do lugar é o passeio no barco com fundo de vidro (e, convenhamos, com tanto barco para lá e para cá não seria lá muito seguro ter gente nadando).
Nos barcos que desde 1878 levam os turistas para navegar por aquela água transparente (por US$ 13 meia hora de passeio mais US$ 2 para entrar no parque), o fundo de vidro deixa ver os peixes, a vegetação e até barcos naufragados de povos antigos que habitaram a região. Os barcos de fundo de vidro, aliás, foram inventados bem ali, na Silver Springs. Pode não dar para nadar, mas passam pelo rio também o pessoal em caiaque ou stand up paddle, mais uma atividade do lugar.
Se na Silver Springs é tudo certinho e organizado, quem quer se sentir bem livre precisa fazer mais um passeio lá perto: se sentir o velho da lancha dirigindo um catamarã para duas pessoas (a partir de US$ 160 o barco) pelo lago na cidade de Mount Dora, em Lake County, região com nada menos que 1000 lagos. Não tem como não se divertir.
No CatBoat Tour, você e a sua dupla podem deslizar pela água dirigindo a até 48 km/h. Enquanto isso, através do auto-falante do barco, o guia vai contando sobre os aligatores, os pássaros e as plantas que vão surgindo pelo caminho: é tão divertido quanto montanhas-russas, mas com duração muito maior.
São cerca de duas horas de trajeto, que termina só depois de todos assistirem ao sol se por, com os motores desligados, ali do meio do lago.
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