Por que, lá fora, Brasil ainda é destino invisível para quem gosta de vinho
A palavra château, na França, é dada para aqueles pequenos palacetes em áreas rurais, as antigas casas de campo da nobreza. Uma construção vista com encantamento por quem é curioso pela rotina dos abastados. No mundo dos vinhos, o termo foi muito bem apropriado pelas vinícolas da região de Bordeaux: Château Smith Haut Lafitte, Château Mouton Rothschild, Château d'Yquem, Château Haut-Brion?
Além da qualidade das bebidas, o que essas propriedades têm em comum é o apelo turístico. Não à toa que a região bordalesa se tornou a capital da enologia, um destino que atrai mais de 2 milhões de pessoas ao ano — com gasto médio per capita de 214 euros, segundo a Statista, empresa alemã especializada em dados de mercado e consumidores.
Porém, a última edição do World's Best Vineyards (WBV), lista anual que elege as 50 melhores vinícolas para visitar no planeta, colocou a América do Sul na rota dos desejos.
Não só porque a festa aconteceu pela primeira vez neste lado do trópico, em Mendoza, na Argentina. Mas também pelo número de casas sul-americanas que integram o novo ranking: cinco são do Chile (Montes, VIK, Clos Apalta, Viña Casas del Bosque e Viu Manent); quatro da Argentina (Catena Zapata, Trapiche, El Enemigo e Salentein); e uma do Uruguai (Bodega Garzón).
Ou seja, 20% das mais bem cotadas estão no nosso continente. Um feito enorme para o Novo Mundo.
Efeito cascata entre hermanos
"Todo este movimento é muito importante para a América Latina, pois a coloca no foco do mundo [do vinho]. Em 2022, especialmente, foi a Argentina, onde jornalistas e profissionais especializados puderam vivenciar cinco dias de experiências aqui", diz Andrew Reed, diretor global do WBV.
Tanto que o termo château foi facilmente trocado por bodega.
A lista provoca um efeito cascata dentro de uma região. As vinícolas apresentadas são frequentemente visitadas como parte de um passeio, o que significa que regiões inteiras podem se beneficiar do aumento do enoturismo", completa Sarah Wibling, diretora de marketing da premiação.
O grande destaque ficou com a bodega Zuccardi, de Mendoza, a anfitriã do evento que entrou para o Hall da Fama após conquistar o primeiro lugar por três anos consecutivos — o que a tirou do páreo daqui para frente.
"Antes da premiação, a vinícola estava aberta de quarta a domingo. Desde então tivemos que começar a abrir todos os dias por causa da alta demanda de visitantes", diz Sebastián Zuccardi, porta-voz da vinícola.
Muitos deste aglomerado de gente são do Brasil, atraídos não apenas pelo câmbio do Real valorizado, mas também pela infraestrutura oferecida pelo destino.
De acordo com o Ministério do Turismo, mais de 400 mil brasileiros visitaram o país vizinho, tendo Mendoza como o terceiro destino mais popular — atrás apenas de Buenos Aires e Bariloche. Um total 25% maior que no período pré-pandemia.
Brasil de fora
Este é um capital que o nosso turismo regional, especialmente Vale dos Vinhedos e Campanha Gaúcha (ambos no Rio Grande do Sul), ainda tenta capitalizar.
"Eu não vejo razões para o Brasil não estar na lista do WBV em poucos anos. O que precisa é trabalhar para atrair visitantes, pois ali tem maravilhas para mostrar", analisa Andrew Reed.
O mercado brasileiro ainda é um pouco invisível. Se você pegar Chile, Argentina e Uruguai, esses países têm suas próprias bodegas e, é óbvio, que [os jurados desses lugares] pensem nessas bodegas. O que não acontece com o Brasil", reflete Daniella Romano, chairman do World's Best Vineyards para a América Latina.
"A gente já está trabalhando em um enoturismo sério, bem focado. É só pensar em Casa Valduga, por exemplo. Uma propriedade bem preparada, com bom contexto."
Os especialistas defendem que, para que o Brasil possa chegar lá, uma hipótese é de um trabalho conjunto com órgãos do governo, como o Ministério do Turismo, para transformar essas regiões em destinos almejados, assim como o Rio de Janeiro, as praias do Nordeste e, recentemente, o Pantanal.
Quanto tempo isso vai levar? Especialistas acreditam que entre cinco ou dez anos. Até lá, assistimos aos nossos hermanos protagonistas apenas com um papel de elenco de apoio.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.