Avesso a retrospectivas, Lagerfeld ganha homenagens no Met Gala e telonas
Em justificativa à sua ausência na abertura do desfile da Chanel no Costume Institute of the Metropolitan Museum of Art, em 2005, Karl Lagerfeld declarou que "não queria ver todos aqueles vestidos antigos". Em outra fala, ao "The New York Times", o estilista morto em 2019 disse acreditar em um velho ditado alemão, que dizia ''sem crédito no passado''.
Pois seu legado já se demonstra muito mais forte que sua aversão às retroespectivas. Em 2023, em lembrança aos 4 anos da morte do designer, ele será homenageado pelo Metropolitan Museum of Art Costume Institute, com exposição e como tema do sempre aguardadíssimo Met Gala.
E mais: o "kaiser", como era conhecido, ainda tem cinebiografia em produção e será interpretado pelo ator e fashionista Jared Leto.
A exposição (que ele odiaria)
Intitulada "Karl Lagerfeld: A Line of Beauty", a mostra estará aberta de 5 de maio a 16 de julho de 2023. Ela se concentrará na relação entre os esboços de Lagerfeld e seus produtos finalizados ao longo de sua carreira, mas segundo o curador Andrew Bolton, do Costume Institute, não é uma retrospectiva, e sim um ensaio.
Bolton revela a Nossa que teve a ideia da mostra quase imediatamente após a morte de Lagerfeld, e o museu não pensou duas vezes antes aprovar.
Serão cerca de 150 peças das cinco casas históricas que Lagerfeld moldou — Balmain (à qual ele se juntou depois de ganhar o prêmio Woolmark em 1954), Patou, Chloé, Fendi e Chanel — e sua própria marca. As peças selecionadas estão entre os 10.000 itens que fazem parte dos arquivos de cada marca, com algumas de colecionadores particulares e do Met. Cada peça será exibida com os esboços ao lado, e haverá entrevistas em vídeo com os chefes de cada atelier.
A exposição será organizada de acordo com dois princípios: a linha S, ou serpentina, representando os designs historicistas e românticos de Lagerfeld, e a linha reta — o trabalho mais modernista e clássico do alemão. E culminará com um pequeno agrupamento da chamada "linha satírica": referências ao designer, como easter eggs entre todas as suas coleções, seu próprio uniforme de camisa branca de colarinho rígido, jeans pretos, fraque preto, rabo de cavalo branco e luvas sem dedos.
O curador incluiu seus próprios easter eggs na mostra, com cada seção principal sendo dividida em 10 subseções em homenagem ao aniversário de Lagerfeld em 10 de setembro, e cada uma dessas subseções contendo sete peças, porque sete era o número da sorte de Lagerfeld.
No time da exposição na Galeria Tisch estão o arquiteto japonês Tadao Ando, responsável por uma casa para Karl que nunca foi construída, e AmandaHarlech, que trabalhou com Lagerfeld na Chanel por mais de um quarto de século, como consultora criativa da exposição.
O curador da exposição afirma com bom humor que com certeza Karl odiaria a exposição:
Ele provavelmente ainda se recusaria a vir'', disse Andrew.
Kaiser nas telonas
Em entrevista ao portal "Women's Wear Daily", o ator, diretor, cantor e compositor Jared Leto revelou que está estrelando um filme dedicado ao homem por trás do estilista. Ele também disse que produzirá o filme com sua parceira Emma Ludbrook por meio de sua produtora Paradox.
O vencedor do Oscar disse que acha que o falecido estilista e ex-diretor artístico da Chanel ficaria orgulhoso.
Segundo o portal, a produção "vem com o apoio da marca de Karl Lagerfeld" e contará detalhes da vida e dos relacionamentos de Lagerfeld. Três dos confidentes mais fiéis do alemão estariam envolvidos na criação deste projeto cinematográfico: Paolo Righi, CEO da marca Karl Lagerfeld desde 2011, Caroline Lebar, que também trabalha na maison, e Sebastien Jondeau, ex-assistente pessoal de Karl Lagerfeld.
Leto disse que sua missão é interpretar o designer da maneira mais honesta possível.
Karl era um ser humano. Todos nós temos beleza dentro de nós e todos nós temos defeitos. Temos máscaras e depois temos momentos em que revelamos a máscara. Estou sempre interessado em ver o que está por trás da máscara".
Quem foi Karl Lagerfeld?
Karl-Otto Lagerfeld nasceu em Hamburgo, filho de Otto Lagerfeld, um diretor-gerente da filial alemã da American Milk Products Company. Suas combinações de alta moda atraíram admiradores como Rihanna, Princesa Caroline de Mônaco; Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional e Julianne Moore.
Aos 80 anos, quando a maioria de seus colegas estava se aposentando em seus iates, ele projetava uma média de 14 novas coleções por ano, desde alta costura até streetwear — sem contar colaborações e projetos especiais. "As ideias surgem quando você trabalha", disse ele nos bastidores antes de um show da Fendi, aos 83 anos.
Sua imagem era marcante e impossível não reconhecer. Foi chamado de "gênio", "kaiser" e "superestimado". Sua contribuição para a moda não foi criar uma nova silhueta, como fizeram estilistas como Cristobal Balenciaga, Christian Dior e Coco Chanel.
Em vez disso, ele criou um novo tipo de designer, aquele que reinventa a herança da marca identificando sua semiologia indumentária para depois puxar para o presente com uma dose saudável de desrespeito e de cultura pop.
Essa tática hoje é comum, feita por diversas grifes, mas antes de Lagerfeld ser contratado pela Chanel, quando a marca estava desaparecendo na irrelevância, mantida apenas por perfumes e cosméticos, era uma ideia nova e surpreendente.
A ousadia adotada dentro da Chanel transformou não apenas a fortuna da maison (que agora diz ter receitas de mais de US$ 4 bilhões por ano), mas também seu próprio perfil.
Além de abrir um novo caminho para os designers que vieram depois, de Tom Ford (que também transformou a Gucci) a John Galliano (Dior), Riccardo Tisci (Givenchy, Burberry) e Tomas Maier (Bottega Veneta).
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