SPFW N54: Camila Queiroz e Boca Rosa estrelam invasão alien no primeiro dia
A São Paulo Fashion Week sofreu uma espécie de invasão alienígena ontem, primeiro dia da 56ª edição do maior evento fashion da América Latina. A Bold Strap, marca conhecida por sua estética fetichista e ousada, misturou referências da moda digital, como o barbiecore e subversive basics, com uma estética retrofuturista no desfile que fechou a programação do dia 1 da semana de moda, que acontece até domingo (20).
Com um casting diverso em tamanhos e cores, alguns modelos chamaram atenção por estarem pintados, da cabeça aos pés, de roxo, branco ou laranja, além de ostentarem orelhas pontudas e unhas supercompridas. Entre essas figuras estava Camila Queiroz, que, com um cabelo volumoso a la Barbarella, personagem feita por Jane Fonda nos anos 1960, foi quem abriu a passarela para o desfile de seres extraterrestres. Além da modelo e atriz, Bianca Andrade, a Boca Rosa, estreou como manequim.
Inicialmente, a Bold Strap era uma marca de jock straps, indumentária fetichista masculina. Assim, a peça estava naturalmente no corpo dos modelos, assim como fios dentais, sem distinção de gênero. Porém, a etiqueta fugiu do preto e vermelho, lugares comuns de uma moda mais sensual, e apostou em uma cartela divertida, refrescante, que incluiu o rosa bebê, o verde marca-texto, amarelo, laranja, denim e azul vibrante.
Os modelos contrastavam babylooks angelicais, de tule, com barras em pelúcia, com lingerie e harness em couro colorido. Peças sobrepostas, em tecidos transparentes recortados, fazendo referência ao subversive basic, complementou a estética que parecia vinda de outro mundo. Alguns modelos tiveram sobrancelhas pintadas de amarelo, enquanto outros ganharam implantes nos ombros para que ficassem pontudos. Por fim, a apresentação acabou com Camila Queiroz sendo abduzida pelos alienígenas que visitaram a SPFW.
A semana de moda de São Paulo tem um line-up composto por 48 desfiles, sendo 43 presenciais e cinco digitais, por vídeo. As apresentações serão, majoritariamente, divididas entre o Shopping Iguatemi e o Komplexo Tempo, no Parque da Mooca, no centro expandido de São Paulo (SP).
Veja o que mais rolou nesta quarta-feira:
Patricia Viera
Patricia Viera foi quem abriu essa edição do SPFW. A modelo Marcelle Bittar voltou às passarelas brasileiras no desfile, que aconteceu no Shopping Iguatemi, com trilha sonora que incluiu Abba, Diana Ross e Jackson Five. Com uma forte referência aos anos 1970, a designer carioca, especialista em couro, deu um acabamento glamoroso ao material. Tanto poderia estar nas pistas de dança da era disco. O couro metálico ou com aplicações de espelhos apareceu em jaquetas estruturadas em tonalidades como o verde, roxo e marrom. O tecido, no entanto, também ficou fluído ao ser recortado em pastilhas, para manter o movimento das saias de maxivestidos. O material usado pela marca é certificado e com baixo impacto ambiental, fornecido pela Leather Labs. Os visuais já estão disponíveis para a compra na loja da etiqueta, porém cada peça deve ser produzida sob medida para cada cliente.
Meninos Rei
A marca dos irmãos soteropolitanos Céu e Junior Rocha decidiu celebrar a diversidade do subúrbio ferroviário de Salvador (BA) no SPFW e trazer um pouco dos bailes que rolam nas ruas de grandes metrópoles do Brasil. Ao som do pagodão baiano e com a frase "Eu Sou Favela" ao fundo, os estilistas escolheram um casting diverso, incluindo famosos como Deborah Secco e Jojo Toddynho, mas também pessoas com deficiência. A estética "pivete", dos rapazes de cabelos descoloridos, combina com itens como os utilitários coloridos, como bolsas-braçadeiras e peitorais. Macacões curtos agênero em tecidos coloridos, muito estampados. Calças fluidas, de cintura baixa, amarradas por cordões, combinadas com tops secos. E tops volumosos, decotados, com saias e bermudas justas. Sem regras rigorosas sobre quem ou como cada peça deve ser vestida.
Soul Básico
O diretor criativo Zeh Henrique inspirou-se no termo "Sentimento Oceânico", cunhado por Romain Rolland em uma carta para Freud em 1927. Como em uma continuação para a coleção Solipsismo, a marca de moda masculina leva a sensação de integração universal, em que não há uma separação entre a carne, o espírito e a mente, para uma série de peças com formas orgânicas, vezes moles, vezes estruturadas, como ondas do mar.
Com paleta de cores que inclui o branco, preto, bege, caramelo e o denim, foram desfilados moletons sofisticados, que deformam em dobras. Calças do mesmo material com modelagem larga e punhos nas pernas. Camisetas e camisas desconstruídas, com amarrações, recortes nas barras e mangas cavadas. Robes e kimonos transparentes, delicados, que contrastam com peças arquitetônicas. Saias masculinas em couro, colares com pingentes maximalistas em madeira. E, como o sol de um farol, conjuntos de bermuda e jaquetas metálicas, luminosas. O ator Klebber Toledo participou do desfile mostrando calça jeans bem baggy, com o cós duplo, caindo, deixando a roupa de baixo à mostra.
Greg Joey
A marca criada por Lucas Danuello é uma das estreias desta edição do São Paulo Fashion Week. Com peças que não buscam servir apenas o corpo masculino ou feminino, a Greg Joey prioriza tecidos naturais como o algodão, o linho e a seda. Estes materiais estão presentes na coleção desfilada nesta quarta-feira (16). Com trilha de Noporn, a etiqueta mostrou vestidos e saias esvoaçantes, quase modestos, combinados com camisetões com estampas gráficas, trazendo a logomania com o nome da marca. Os visuais, a maioria monocromáticos, caminhavam pela paleta de cores que abrangia tons terrosos que iam se iluminando: verde, castanho, bordô, vermelho, branco, off-white, amarelo e, por fim, azul.
O nome da marca vem de uma sextape dos anos 90, que se tornou febre na cena underground gay, que era mandada pelo correio com o remetente Greg e Joey. Porém, a referência à década extrapola a etiqueta. Super-ombreiras foram destaques em casacos, assim como a modelagem oversized, vista em cardigã com maxi-tricô e kimonos com fechamentos deslocados. Luvas, echarpes finos e meia-calças foscas complementavam os visuais.
Walério Araújo
O estilista montou, em seu desfile, seu próprio Halloween queer dos anos 1980. Com música gótica da época como trilha sonora, Walério, conhecido por sua moda festa cheia de brilho, optou por uma paleta de cores "sóbria": preto, roxo, pink e prateado. Mas nem por isso deixou suas marcas registradas de lado: longos vestidos de veludo preto eram contrastados com bordados com paetê. Ternos oversize de veludo ganharam franjas e colarinho de plumas. Saias longas, de veludo pesado, tinham o cós assimétrico e cintura baixíssima.
O fetichismo também teve a sua vez. Uma peça única que cobria todo o corpo, complementada por uma máscara que escondia as feições da pessoa que a desfilava. E esses signos do submundo BDSM se misturavam com elementos religiosos. Símbolos como cruzes se tornaram bordados, mas também um maiô bastante revelador combinado com véu. Uma mulher usando as coroas de espinhos de Jesus Cristo apareceu com vestido em corte sereia com a imagem religiosa estampada em um desfile que parecia ter saído do Madame Satã, conhecida casa do centro de São Paulo (SP).
Renata Buzzo
Cavum, buraco em latim, é o nome da coleção desfilada por Renata Buzzo nesta quarta-feira (16). Mas também é parte da alcunha de uma condição: Cavum do Septum Pellucidum, um buraco no sistema límbico, no cérebro. A estilista descobriu que tem um buraco na região da massa cerebral onde regularia suas emoções. Assim, para ela, tudo fez sentido o porquê de perceber-se tão emocional, mas também tão racional. Porém, em sua pesquisa, descobriu que este era considerado o "cérebro de maluco", já que, nos anos 1960 e 1970, pacientes de centros de internação eram dissecados e muitos deles apresentavam a condição. Foi dormir pensando em todas essas novas informações e acordou com um poema na cabeça. E, também, a ideia para uma coleção.
O estereótipo da mulher louca, maluca, foi o ponto de partida de Renata Buzzo. A textura, uma das loucuras citadas pela designer em seu poema, tem uma papel importante na coleção. São pequenos penduricalhos em uma blusa de capuz, franjas assimétricas em camisões fluidos em tecido cintilante. O manicômio também foi fonte de inspiração: as cores de batas e de um centro hospitalar, como o off-white, o rosa, o azul claro, estão em tecidos cintilantes, alguns estruturados, outros completamente desconstruídos. Casacos semelhantes a camisas de força, com franjas dançantes. Vestidos com pequenos pontos de plumas, assim como sobreposições de tules e aplicações. As modelos caminhavam como se tivessem acordado de um devaneio doido. Como cabelo amassado, embaraçado, e pantufas.
Aluf
Ana Luisa Fernandes, a estilista por trás da marca Aluf, procura retomar suas inspirações na coleção Relembrar, exibida em uma apresentação digital no SPFW. Para ela, a blusa Rami, uma de suas principais criações, reúne tudo o que ela queria para a marca: o conceito, estudo de formas, volumes e matérias. Por isso, a partir dela, ela trabalha uma série de visuais que atenderiam as expectativas da Ana Luisa que abriu a loja da Aluf, há quatro anos.
Do mesmo moodboard e do primeiro lookbook que ela fez para a marca, a estilista fez itens que carregam a essência da etiqueta. Em tecidos feitos em tear manual, com palha de seda ou fios rústicos. Materiais naturais que sempre estiveram em coleções passadas da marca. O branco, castanho, amarelo e vermelho colorem chapéus arquitetônicos, com abas moles, blusas com mangas plissadas (uma referência à Rami), apliques de formas orgânicas em vestidos e tops. Túnicas longas para serem usadas por cima de calças e corpetes estruturados por cima de vestidos fluidos complementaram a seleção exibida.
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