Apê enalteceu o lado "bruxa" de artista: 'Foi meu despertar'
Julliana Rosa tem uma relação tão profunda com os lugares nos quais mora que passou a investigar o que era isso que ia além das paredes e da estética. "Passei a prestar muita atenção no que a casa me diz", conta. E foi observando coisas como uma infiltração que ela percebeu que não deveria mais ficar no apartamento anterior.
"Sabe quando o apê não é seu, mas por mais que você troque lâmpadas fica escuro, aparece infiltração ou há uma sensação estranha? Tudo isso reflete muito no nosso dia", aponta.
Há dois anos ela chegou a este, inundado pela luz natural por meio de janelas generosas, em Santos, no litoral de São Paulo. "Quando vi a árvore na frente das duas janelas do que seria meu quarto, me apaixonei", lembra. A partir dali, ela abriu um portal maior na rotina.
Esse tempo coincidiu com o primeiro lockdown. O que poderia ser uma prisão foi uma libertação da "bruxa" que havia nela. "Pintando e decorando, incorporei o arquétipo da bruxa, expandindo minha intuição, e comecei a pintar", conta. Uma mulher interessada nas sutilezas, intensa, "brotou". "Hoje vejo o quanto a casa pode acionar a frequência vibratória do seu dia", diz.
Esse apartamento foi meu verdadeiro despertar. A casa é para mim um templo experimental de expansão espiritual criativa.
Ela começou a ver possibilidades em tudo dentro do apê. Não só isso. Passou a entender o que as plantas lhe diziam, a cozinhar pensando na alquimia resultante das misturas, texturas, tempos e temperos. "É uma relação extremamente profunda que se cria com a sua casa. Realmente, algo espiritual."
Não é sobre feng shui, antes que você pense. Ao observar minúcias que vão além da estética, ela se aliou à sua essência para expressar quem é no apê. "Estudei Design de interiores e amo tendências. Mas acredito que é mais importante acreditar em quem você é verdadeiramente e imprimir identidade no seu lar. Afinal, a cor que me traz força e energia não é a mesma do outro", afirma.
Se terminar, é hora de mudar
Em constante transformação, o apartamento não para sua evolução - assim como a moradora, uma mãe de dois filhos que se encontrou nas artes visuais e não teme o novo. "Estou terminando a entrada dele e essa relação tem sido crucial para meu processo interno. Sem pressões sigo mudando as coisas", diz.
Da sala com janelas, ela deita no sofá e vê o céu e as nuvens, em vez de TV. Observa os pássaros, o tempo da natureza e se conecta consigo mesma. "Recebo os espíritos e eles têm me guiado a uma mensagem constante de que a casa vai nos salvar em um novo momento", conta.
Se esse momento é outro distanciamento social ou efeitos da vida moderna atual, não se sabe. Uma coisa é certa: a casa pode ser um bom caminho para se encontrar, como aconteceu com Julliana. Basta estar de olhos e ouvidos atentos.
Dicas da Julliana para se conectar mais com a casa
- Ouça. "Fique atenta ao que a casa tem a dizer, porque ela fala nos detalhes. Observação é o caminho para se encontrar nela."
- Faça. "Colocar a mão na massa desperta seu jeito único de existir na casa. Bordar, pintar, qualquer coisa que você fizer pela casa vai refletir quem você é de uma forma só sua."
- Não copie. "Busque expressar a sua essência individual ali. Tenho clientes para os quais crio a arte na hora e eles sentem que a conexão vem dessa exclusividade. Temos que ter esse discernimento de que estamos colocando algo dentro da nossa casa que vai nos tornar mais únicos. É importante evitar se encaixar no padrão dos outros."
- Acredite no garimpo. "Sou extremamente do garimpo. Em Santos, onde moro, vou a galpões e garimpo no brechó Ismênia de Jesus e no Lar das Moças Cegas. No centro histórico há vários lugares bons. Minha casa é 70% feita de garimpo. O melhor é que a gente ajuda o planeta e ainda traz histórias para o lar."
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