SPFW N54: Erika Hilton desfila com faixa presidencial no 4º dia do evento
Ainda não é 2023, mas Erika Hilton, a primeira mulher transgênero a ser deputada federal, já foi empossada. E com a faixa presidencial! A política, eleita nas eleições deste ano, fechou o desfile da marca LED neste sábado (19), no quarto dia da São Paulo Fashion Week.
Mais cedo no mesmo dia, Erika havia desfilado pela marca Anacê, conhecida por sua alfaiataria fluida e contemporânea. Mas foi com um terno vermelho da LED que a ex-vereadora de São Paulo (SP) ostentou uma faixa presidencial feita de crochê, uma das técnicas favoritas do estilista Célio Dias.
Empossar Erika não foi, no entanto, o único ato político do desfile. Batizada como "LED MODÃO", a coleção apresentada no Komplexo Tempo, no Parque da Mooca, buscava resgatar as origens de Célio no interior de Minas Gerais e sua relação com seu gênero musical: o sertanejo.
Assim, a sofrência embalou o desfile, mas também foi fonte de inspiração para os looks apresentados. Perneiras de cowboy foram feitas de crochê e ganharam franjas cheias de balanço, assim como chapéus de boiadeiro e jaquetas. Foi a primeira vez que marca trabalhou, também, com o jeans, material muito típico da cena sertaneja. Camisas e calças ganharam penduricalhos com canutilhos brilhantes.
O humorista Esse Menino e a ex-BBB Mariana Gonzales também estiveram na passarela da LED, conhecida por suas camisetas estampadas. As dessa temporada, com frases como "O Brasil do Futuro é Fabuloso", foram desenvolvidas por designers como Luciano Ferreira e Thereca Nardelli.
Os panos, para serem usados como cangas ou para serem pendurados nas paredes, foi um espetáculo à parte. As letras, típicas de parachoques de caminhoneiros, diziam frases de efeito como "Meu Mito Sou Eu" e o "O Brasil Não é uma Piada". Célio Dias lembra, ainda, que por mais que goste de sertanejo, ela não compactua com tudo que os agroboys fazem quando mostra a frase "A Boiada Não Passará".
A edição 54 da São Paulo Fashion Week acontece até domingo (20). Veja outros destaques do quarto dia de evento:
Neriage
A estilista Rafaella Caniello levou para o Shopping Iguatemi a coleção "Oásis, uma existência ou um tempo em três tempos". Com a atriz Sílvia Pfeifer no desfile, a marca, que busca uma linha de moda atemporal, continuou apostando em uma estética minimalista, com silhuetas amplas e confortáveis.
Vestidos amplos, em material acetinado, como se fossem camisolas flutuando pela passarela. Os tecidos recebiam mais texturas como o plissado e o frisado dos pés à cabeça. O nude esteve bastante presente, mas não apenas ele o tempo todo. Havia respiros de vermelho, rosa, rosê e amarelo bem claro.
Os visuais apresentados foram, em sua maioria, monocromáticos ou em conjuntos com a mesma estampa. O contraste ficava por conta das bolsas, uma espécie de clutch molinha ou em caixotes rígidos, ambos com frufrus, e dos chapéus de fibra natural. Os acessórios foram feitos em parceria com o projeto Akra. No caso dos itens para a cabeça, a fibra levou tingimento natural e três artesãs levaram 64 horas para criar as franjas que saíam do chapéu.
AZ Marias
A apresentação, a primeira que aconteceu no Komplexo Tempo, na Mooca, foi aberta por um grupo de bailarinas dançando a música "Everything is Everything", de Lauryn Hill. Depois, "Dandara, de Caetano Veloso, foi a primeira trilha sonora da coleção chamada "Florescer Ato I - Terra".
A estilista Cíntia Felix fez um apelo ao cuidado com o nosso planeta usando raízes, linhas, madeiras e tons terrosos, misturando elementos, ainda, da moda de rua, do dia a dia. A marca não se posiciona como para o público plus size, mas o casting foi majoritariamente de pessoas gordas para mostrar que a roupa deve servir o corpo e não o contrário.
A essência do habitar o globo também foi evocado com a inspiração em outros elementos, como a água, ar, fogo e éter. Para relembrar que podemos perder a Floresta Amazônica, a designer colocou modelos com máscaras de acrílico, respirando o ar que saía de plantas em suas mochilas. Por fim, o próprio planeta terra entrou na passarela em um vestido amplo, com armação arredondada.
Ponto Firme
Gustavo Silvestre volta a colocar, na passarela da SPFW, o resultado do trabalho do projeto Ponto Firme, que usa o crochê para capacitar e reintegrar egressos e internos do sistema prisional de São Paulo (SP). E, desta vez, o estilista contou com o styling da estilista indígena Day Molina para fazer uma reflexão sobre o resgate e valorização da cultura e identidade brasileira.
A referência do desfile foi o Manto Cerimonial Tupinambá, confeccionado no Brasil entre os séculos 16 e 17, e que é símbolo da memória e resistência do povo indígena Tupinambá. Foram 30 looks, feitos por 30 artesão que fazem parte do projeto Ponto Firme, que trouxeram um crochê muito urbano. Vermelho, branco, azul, amarelo, preto estiveram na cartela de cores em padronagens como as listras e gráficos de pôr do sol e folhagens. As roupas ganhavam franjas nas barras, para criar balanço. Correntes douradas crochetada nas mangas, no corpo e nas golas das peças. Contas, como as de cordões indígenas, foram aplicados em vestidos, além de linhas metalizadas que formavam tops e saias curtas.
Os acessórios, incluindo boné com uma brincadeira com o logotipo da marca "The North Face" mas com a frase "The Leste Face", foram criados pelos artesãos do coletivo Artesanato Chave. Além do chapéu, eles também fizeram bolsas e chaveiros exclusivamente para a coleção.
Silvério
Animais de hábitos noturnos foram o ponto de partida de Rafael Silvério para criar a coleção Nocturno, apresentada neste sábado (19), no Komplexo Tempo. O desfile cria uma parábola para relatar como a noite abraça as particularidades de humanos que não são vistos no cotidiano, mas que ganham destaque na escuridão.
A influenciadora Camila Coutinho e o atleta cadeirante Fernando Fernandes foram alguns dos modelos que desfilaram visuais de uma alfaiataria cool, com muito cinza e preto e uma pintada de pink, a cor do momento. Os looks, com base em sarja, jacquard, algodão penteado e moletom 100% algodão, foram adereçados com pelos e plumas, contrastando o minimalismo e a pegada rocker dos anos 1990.
Lenços assinados por Pedro Brantes, cujas estampas recriam os movimentos de felinos, e fone de ouvido gamer da Logitech foram alguns dos acessórios usados pelas criaturas noturnas de Silvério.
Santa Resistência
Nos anos 1950, o Rio de Janeiro (RJ) era, sob o olhar estrangeiro, uma terra para se aproveitar o paraíso na terra. Essa cena nostálgica, que bota um sorriso no rosto e o samba no pé, é a tônica do desfile da marca de Mônica Sampaio, que estreou na SPFW no Projeto Sankofa.
A etiqueta busca descolonizar as referências de moda, assim nos transportou para um Brasil que se modernizava, mas já aparecia no cinema e na TV do mundo. Um sambista com terno com as cores da escola de samba Mangueira abre o desfile dançando e nos convida para sentar em uma mesa de bar para ver as pessoas, no caso, os modelos, passar.
O batom vermelho, a cintura marcada, e os chapéus estão na roupa da coleção. As paisagens do Rio se tornaram estampa de camisa, vestido e kimono. E a bisavó da Helena de Manoel Carlos, que mora no Leblon, aparece glamorosa de branco e também de verde.
Mônica lembra que, nos anos 1950, após a guerra e o racionamento, a moda renasceu, voltou a ser colorida, assim como os cuidados com a aparência. Ela usa isso como uma analogia ao retorno à normalidade após a época mais tensa da pandemia, em que as pessoas querem reconstruir seus laços sociais, voltam a lembrar a se portar no mundo e entendem a importância da ciência, educação e cultura para construir um futuro melhor para todos.
Anacê
O desfile deste sábado (19) foi o primeiro da marca sob a direção criativa solo de Ana Cecília Gromann. Assim, ela abre seu coração e alma na coleção "Inconsciente Concreto Parte I", em que tentou incorporar um pouco mais de si, de suas lembranças familiares e referências à alfaiataria fluida que está no DNA da marca.
Foram criadas cerca de 30 peças para a apresentação. Os recortes em regiões estratégicas estiveram onipresentes no desfile, cujas sobreposições permitiram que um pouco de tudo estivesse à mostra. Saias transpassadas, calças de cintura baixo com a roupa de baixo aparente foram coloridas em branco, preto, amarelo, azul e roxo. Os tricôs apareceram mais sensuais e justos. Algodão, viscose e seda foram algumas das matérias-primas usadas.
Uma novidade: a parceria com a artista Natasha Bernardo, com suas esculturas em formato de silhuetas feitas em tecido, marca o lançamento de linha de decoração da Anacê.
Àlg
A irmã mais jovem e descolada da À La Garçonne, de Fábio Souza e Alexandre Herchcovitch, fez uma apresentação digital no quarto dia da SPFW. A coleção, que utilizou tecidos que a marca já tinha em estoque, mostrou que o casual e o confortável podem ter muita informação de moda.
Mais esportiva e com maior tiragem de roupa, a Àlg mostrou moletons, camisetões, bermudas amplas combinados com bandanas e mangas arregaçadas. Não houve nenhuma preocupação em combinar peças secas com mais largas. A silhueta era bastante ampla e relaxada. A paleta de cores também era jovial: roxo, vermelho, rosa, amarelo mostarda e laranja vibrantes estavam entre as tonalidades escolhidas.
Lenny Niemeyer
Fechando o dia, a grife veterana da semana de moda desceu a rampa do Auditório Ibirapuera com ares futuristas para o alto verão. Em collab com Leandro Benites, da BEN, a estilista levou à passarela looks monocromáticos ora opacos, ora iluminados.
Inspirada nos documentários "Powers Of Ten" (1977), de Charles and Ray Eames, e na ideia do silêncio das galáxias, a coleção viaja por uma moda praia de biquínis e maiôs de recortes delicados, porém mergulhados em capas, vestidos e saias estruturadas, quimonos fluidos e coletes de tricô tecnológico, tudo com uma lembrança do "futuro retrô" — algo entre "2001 - Uma Odisseia no Espaço" e "O Quinto Elemento".
Ao final do desfile, aplaudido de pé por uma plateia emocionada que lotou cada canto do caminho tortuoso em que o pescoço sofria para ver todas as modelos, o "lamento" geral era que as versões vendáveis serão, obviamente, menos espetaculares.
*com reportagem de Juliana Simon, editora de Nossa
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