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SPFW N54: clima de otimismo e Liniker na passarela são destaques do dia 5

Liniker fecha o desfile da Apartamento 03 - AgNews
Liniker fecha o desfile da Apartamento 03 Imagem: AgNews

Natália Eiras

Colaboração ao Nossa

21/11/2022 09h54

Há um sentimento de festa no ar. Não apenas por ser o fechamento da edição 54 da São Paulo Fashion Week, semana de moda que chegou ao fim neste domingo (20), em São Paulo, mas porque alguns destaques do dia transpiraram otimismo.

A cantora Liniker entrou na passarela para fechar o desfile da marca Apartamento 03, o último do calendário da edição, logo após de se tornar a primeira artista transgênero brasileira a receber o Grammy Latino. Ela foi aplaudida pela plateia, uma vez que sua presença no evento internacional emocionou muitos —e não foi à toa.

Porém, conquistas pessoas não foram as únicas pautas do dia. A coleção de Weider Silveiro trazia uma silhueta super feminina, mas que festejava, com paetês e tons terrosos vibrantes, a saída do casulo de uma sociedade que estaria presa dentro de casa por tempos difíceis. Isso sem estar pronto para lutar novamente, caso seja possível.

Já o desfile de Naya Violeta virou uma festa. A estilista goiana levou para a SPFW a fartura, o desejo de que todos os brasileiros tenham o que comer, visto que o país voltou ao mapa da fome. E como alimentação também é política, a designer optou pela cozinha da Ocupação Nove de Julho para ser o catering do desfile e colocou, na passarela, a chef e apresentadora Bela Gil, recém-nomeada à equipe de transição para compor o grupo técnico de Combate à Fome. A esperança é que tenha arroz e feijão para todos no futuro.

SPFW N54 | Bela Gil em Naya Violeta - Ze Takahashi/@agfotosite - Ze Takahashi/@agfotosite
Imagem: Ze Takahashi/@agfotosite

Erika Hilton, deputada federal recém-eleita, também esteve na apresentação de Naya Violeta. Porém, o famoso que roubou os holofotes foi mesmo Bless, filho de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. O garoto desfilou pela Dendezeiro ao lado de Kevin David. No fim, ganhou um beijão no rosto da mãe.

Veja mais o que rolou neste quinto e último dia de São Paulo Fashion Week:

Korshi 01

SPFW N54 | Korshi 01 - Marcelo Soubhia/@agfotosite - Marcelo Soubhia/@agfotosite
Imagem: Marcelo Soubhia/@agfotosite

O principal objetivo do estilista Pedro Korshi é criar uma moda cada vez mais versátil, em que poucas peças possam ter várias funcionalidades. E, neste domingo (20), ele conseguiu mais uma vez entregar o que prometeu. A marca abriu o quinto e último dia da São Paulo Fashion Week n54 com desfile na Vila Itororó, no centro de São Paulo (SP).

A coleção "Plataforma K01 - Koleção 06" é, de acordo com a etiqueta, uma homenagem à classe trabalhadora que busca um futuro limpo, com bem-estar social e ambiental. Assim, a Korshi 01 mostra um preppy desconstruído, com paleta em azul, bege e preto e peças que mudam com o apertar de alguns botões.

Já um clássico da Korshi 01, a calça funcional, que pode ser comprida, midi ou um microshort voltou à coleção, assim como o chapéu bucket que pode ser, também, uma bolsa. Saias beges com o cós transpassado e camisas azuis, que podem ser usadas de diversas formas, também foram as apostas da marca. O brilho ficou por conta do verde neon e laranja, principalmente em acessórios como uma gravata que também é uma minibolsa para ser carregada no colarinho.

À La Garçonne

SPFW N54 | À La Garçonne - Marcelo Soubhia/@agfotosite - Marcelo Soubhia/@agfotosite
Imagem: Marcelo Soubhia/@agfotosite

A marca chefiada por Fabio Souza e Alexandre Herchcovitch é conhecida por dar novas finalidades para tecidos descartados ou que estavam esquecidos nos estoques. Pois bem, desta vez eles decidiram dar ao jeans e ao moletom uma nova cara, assim como aliar com a paixão que é a alfaiataria.

O desfile, que aconteceu no shopping Iguatemi, teve três momentos diferentes: o denim em uma pegada alta-costura, uma parte de streetwear com muitos moletons e moda festa. Com o influenciador e empresário Leo Picon na passarela, a À La Garçonne abriu a apresentação com uma nova abordagem para o jeans, dessa vez trabalhado como alfaiataria com enviesamentos pouco comuns. Eles vinham combinados entre si, em visuais all jeans, mas com pontos de preto em patchwork com tecidos acetinados e principalmente nas chokers grossas.

Depois, o moletom ganhou vez, em ternos feitos com o tipo de tecido. Apareceu, ainda, blusões com personagens de desenho animado como a Penélope Charmosa, uma das favoritas de Alexandre Herchcovitch, Conjuntos em vermelho, branco e verde foram misturados com vestidos longos, cheios de brilho, prontos para a noite. Os looks de moda festa eram glamourosos, resgataram a silhueta ultra-feminina, com os ombros de fora, mas com saias que seguiam bem fluídas nos pés.

Isaac Silva

SPFW N54 | Isaac Silva - Marcelo Soubhia/@agfotosite - Marcelo Soubhia/@agfotosite
Imagem: Marcelo Soubhia/@agfotosite

A artista, conhecida por uma moda vibrante e estampada, decidiu tomar um caminho mais minimalista em sua coleção apresentada no Komplexo Tempo, na Mooca. As Griôs, mestres dos fazeres e saberes africanos, foram o ponto de partida de Isaac Silva. No caso da designer, suas griôs homenageadas foram Marisa Mousa, estilista que sempre celebrou suas raízes brasileiras, e Mama, mulher do Senegal que mora há 15 anos no Brasil e foi uma das pioneiras a trazer tecidos africanos para o país, Foram elas, inclusive, que abriram o desfile deste domingo (20).

Guerreiras africanas abriram o desfile com vestidos sem alças, amarelos mostarda, com recortes amplos e babados. A renda apareceu tanto nos vestidos, cheios de babados ao longo de seu comprimento, como em conjuntos de camisa e bermudas. Os conjuntos de vestidos planos, em cores sólidas, ganharam botões e bordados na gola com búzios. As conchas também estavam presentes nos brincos dos modelos. Enquanto bonés e bolsas eram feitos de palha.

Porém, com o pôr-do-sol, Isaac mostra uma nova parte de sua coleção, dessa vez com cores ainda sólidas, mas vibrantes, como o rosa, azul e verde. Os tecidos, rendados, tem acabamento acetinado e vieram em conjuntos de top e saias com recorte sereia, túnicas combinadas com calças, blusas de mangas bufantes e ombros deslocados.

Por fim, uma noiva com vestido inspirado nos trajes das baianas, com um turbante, fecha o desfile junto com o trailer do filme "Wakanda Para Sempre". O longa, que estreou nos cinemas internacionais, também inspirou a beleza do desfile assinada por Max Weber.

Lucas Leão

SPFW N54 | Lucas Leão - Ze Takahashi/@agfotosite - Ze Takahashi/@agfotosite
Imagem: Ze Takahashi/@agfotosite

O show de Lucas Leão começou logo no convite, que se transformava com a realidade aumentada. O estilista é conhecido por estar muito conectado com a tecnologia, tanto que foi um dos primeiros designers brasileiros a fazer uma moda para o metaverso. Porém, em suas roupas físicas, Lucas Leão usa de técnicas tradicionais, como o crochê e o tricô, para trazer inovação.

Para a coleção "Éris", modelos desfilaram com esculturas trançadas em seus corpos, às vezes criando tops, outras como uma armação que complementava o look. Por mais que pareça algo apenas para o desfile, a marca costuma vender essas esculturas junto com as peças, que podem caminhar entre o super casual e o conceitual.

Calça cintura baixa e ternos croppeds foram algumas das modelagens optadas por Lucas Leão, em cores como o branco, preto e o verde-menta. Blusas transparentes, com mangas e golas abstratas se misturavam com peças mais pops como as camisetas com estampa do Homem-Aranha, feitas em parceria com a Marvel para celebrar os 60 anos do super-herói.

Naya Violeta

SPFW N54 | Erika Hilton para Naya Violeta - Ze Takahashi/@agfotosite - Ze Takahashi/@agfotosite
Imagem: Ze Takahashi/@agfotosite

Em "Fartura", a estilista goiana Naya Violeta celebrou a mesa cheia, a partilha e a esperança em um mundo melhor. "Fartura é prosperar em comunhão. É a potência que reside no momento sagrado de sentar à mesa com os nossos e partilhar os frutos de sonhos que são alimentados desde a ancestralidade. É a colheita coletiva, o comer junto. O Ajeum", explica a artista. O resultado foi uma coleção com muita mistura de estampas, mas leve, tanto no caimento como no impacto das cores.

A cultura do centro-oeste e a afro-latinidade estiveram na pauta das roupas fluidas, com saias balonês, babados, mangas bufantes com ombros deslocados, decotes em V e comprimentos midis. A artista e ilustradora Aline Bispo, conhecida por seus trabalhos em grafite e por ter criado a capa do livro "Torto-Arado", de Itamar Vieira Júnior, assina as principais estampas, que lembram a fartura das festas de candomblé e alimentos como o milho, o peixe e o quiabo.

Weider Silveiro

SPFW N54 | Weider Silveiro - Marcelo Soubhia/@agfotosite - Marcelo Soubhia/@agfotosite
Imagem: Marcelo Soubhia/@agfotosite

Para a edição 54 da SPFW, Weider Silveiro se propôs uma provocação de seu processo criativo ao fugir da cartela de cores vibrantes, bastante presentes nas roupas do estilista, e apostar em uma cartela de cores neutras, incluindo o nude e outros tons neutros. O resultado ficou longe de sem graça.

Mulheres com saias armadas, peplums, com correntes de paetê dourado costurados por corpetes ou cobrindo completamente vestidos de festas estiveram na passarela da marca. Junto com a saia balonê e com capuzes cobrindo a cabeça das modelos.

Foram feitos 25 looks usando criolina e basques, para dar bastante volume e criar uma referência ao New Look, idealizado por Christian Dior no pós-Segunda Guerra Mundial. Na época, a estética resgatava a silhueta feminina da mulher que teve que sair de casa para assumir posições de trabalho de homens que estavam na guerra. Isso sem deixar de lado esse novo papel feminino.

Para Weider Silveiro, é algo que cabe ao momento atual já que estaríamos com vontade de nos expressar com sofisticação após momentos difíceis. Por isso o clima otimista das cores da coleção. A luta, no entanto, continua, tanto que a única estampa mostrada na passada foi a militar, mesmo que em cores vibrantes.

Dendezeiro

SPFW N54 | Bless Gagliasso no desfile de Dendezeiro - Ze Takahashi/@agfotosite - Ze Takahashi/@agfotosite
Bless Gagliasso e Kevin David no desfile de Dendezeiro
Imagem: Ze Takahashi/@agfotosite

Em sua estreia em um desfile presencial, os estilistas Hisan Silva e Pedro Batalha decidiram colocar na passarela da SPFW os personagens que encontramos nas grandes cidades brasileiras com a coleção "Ruas do Brasil".

Entendendo que as ruas são, na realidade, as pessoas e suas diversidades, a marca se baseia em cidades brasileiras diferentes para criar uma moda bastante casual, mas muito criativa. O rapper Hiran abriu o desfile com a apresentação de uma das músicas do EP que lançou junto com o desfile, com duas composições com participação do artista Virus. Ambas as canções foram trilha sonora da apresentação e estarão disponíveis em serviços de streaming nesta segunda-feira (21).

Outra presença especial foi a de Bless, filho de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, que estreou como modelo para a marca. Ele desfilou um dos macacões utilitários em amarelo mostarda, parte da coleção que incluiu também jaqueta cropped com ombros gigantes, saia, colete e jaqueta em tecido matelassê, casacos compridos com franjas nas barras, zíperes como enfeites nos ombros e blusas corsertadas.

Mauricio Duarte

O estilista estreia na São Paulo Fashion Week com a apresentação digital da coleção Igarapé, que mostra a conexão de Mauricio Duarte com a sua ancestralidade indígena. Mauricio Duarte nasceu no Amazonas, mas é radicado em São Paulo, e, por isso, se divide entre a cidade grande e a sua descendência do povo Kaixana.

O vídeo começa com a confecção do pigmento vermelho que vai se tornar parte das estampas de Mauricio Duarte. As linhas vermelhas começam em um pano branco, mas, em uma imersão de sensações e vivências amazônicas entrecortadas de lembranças, vira parte das estampas de vestidos fluidos, com fundo em estampa preto e branco ou em verde.

Por fim, essas linhas vermelhas acompanham o idealizador mesmo quando ele vai para o grande centro urbano. Mesmo na cidade, continua a conexão com a sua ancestralidade pintada em calças de panos fluidos, vestidos azuis com decote em V. É uma mistura de dois universos do estilista.

Apartamento 03

Apartamento 03 na SPFW - Márcia Fasoli - Márcia Fasoli
Apartamento 03 na SPFW
Imagem: Márcia Fasoli

O diretor criativo Luiz Claúdio da Silva se inspirou em passagens do livro "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves, para criar uma coleção que celebra saberes históricos em uma ode à resistência. Para isso, contou com Liniker em seu casting de modelos que fechou a edição 54 da São Paulo Fashion Week.

No livro, Kehinde é uma mulher africana que lutou por liberdade no Brasil. A personagem e a figura da orixá Oxum, entidade que representa sabedoria e poder feminino, são o ponto de partida das peças que trazem simbologia, combinados com cabelos trançados em esculturas ambulantes.

As tranças, inclusive, também estão nas roupas: é que o estilista utilizou o kanekalon, material utilizado por trançadeiras, para fazer tramas. Palha de seda foi utilizada para fazer as vezes de plumas e, pela primeira vez, a marca usou o linho na confecção de roupas.

São vestidos amplos, cheios de camadas, com fios metálicos pendurados em tons como o beringela, o rosa e o azul. A modelagem estruturada da marca esteve em ternos riscados em fios dourados, ombros marcados e recortes sobrepostos, casacos enormes em veludo. Tudo com muito volume. Algumas peças foram feitas em nylon que repele a água em parceria com a marca Samsung.