Balenciaga gera revolta por campanha com apologia a abuso infantil; entenda
Afeita a polêmicas de cunho fashion, a grife espanhola Balenciaga se viu envolvida em acusações mais graves de apologia ao abuso infantil na última semana.
Elas surgiram graças a uma campanha que traz crianças abraçadas a ursinhos de pelúcia com apetrechos associados ao universo BDSM (prática sexual que envolve bondage, disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo) e semblante machucado.
Inspirado pela série fotográfica 'Toy Story' de Gabriele Galimberti — profissional que clicou as imagens — e que envolve crianças registradas ao lado de seus brinquedos favoritos, o ensaio trazia menores acompanhados de um modelo de bolsa de pelúcia desfilado pela grife na Semana de Moda de Paris, em outubro, como parte da sua coleção de Primavera/Verão 2023.
No evento, os acessórios eram trazidos por adultos, que os arrastavam pela lama que era parte da passarela criada, em mais um cenário de destruição artificial promovido pela grife que frequentemente põe em xeque as fronteiras do belo e desejável na moda.
A polêmica entorno da campanha se agravou ainda quando influenciadores identificaram documentos de processos da Suprema Corte dos EUA com alusão à pornografia infantil na composição de uma das imagens divulgadas no site da marca, a que acompanha apenas uma bolsa e não os menores. Elas já foram retiradas do ar.
Apesar de a Elle australiana ter investigado o assunto e concluído que esta foto em questão não faz parte do mesmo ensaio que traz as crianças com as bolsas de pelúcia, elas estavam dispostas juntas no site da marca. E, por isso, para parte do público nas redes sociais, a Balenciaga foi longe demais desta vez.
"Isso é totalmente nojento. A Balenciaga coloca crianças pequenas em suas propagandas, segurando ursinhos em trajes com algemas e cintas com um documento sobre pornografia infantil parcialmente escondido na imagem. É criminoso e doente. Sexualizar criança deve ser o limite. Kim Kardashian, fale sobre isso agora", provocou a ativista anti-aborto Lila Rose no Twitter.
A indignação não se alastrou apenas entre fãs e fashionistas internacionais. Seguidores do trabalho da grife no Brasil também demonstraram sua insatisfação com a abordagem da maison neste último trabalho.
Além de Kim Kardashian, que teve seus posts no Instagram inundados por comentários pedindo algum posicionamento a respeito de seu principal parceiro na moda, outras figuras públicas como a influenciadora brasileira Gkay foram cobradas. Elas não se posicionaram, até o momento.
Desde então, não só a direção da grife como o fotógrafo Gabriele Galimberti vieram a público para se desculpar ou explicar seu ponto de vista sobre a campanha. Após reconhecer que as bolsas não deveriam ter sido apresentadas por crianças nas fotos, a marca admitiu e se desculpou pela aparição da decisão da Suprema Corte.
"Pedimos desculpas por mostrar documentos perturbadores em nossa campanha. Nós levamos esta questão muito a sério e estamos tomando medidas legais contra as partes responsáveis por criar o set e incluir itens não aprovados no ensaio de nossa campanha de primavera 2023. Nós fortemente condenamos o abuso de crianças em qualquer forma. Nós nos posicionamentos em apoio a segurança de crianças e seu bem-estar", postou o perfil da Balenciaga em seus Stories no Instagram.
Igualmente em sua conta, Galimberti esclareceu que não é o autor da foto em que aparece o processo sobre pornografia infantil, que foi "falsamente associada ao seu trabalho". Ele afirmou ter recebido muitas mensagens de ódio após a divulgação do ensaio da Balenciaga e destacou:
"Não estou em posição de comentar as escolhas da Balenciaga, mas devo ressaltar que eu não fui autorizado de maneira alguma nem a escolher os produtos nem os modelos ou a combinação deles. Linchamentos como este estão direcionados aos alvos errados e distraem as atenções do problema real e dos criminosos", acredita.
"Como fotógrafo, eu fui apenas requisitado para iluminar a cena indicada e fotografá-la de acordo com o meu estilo", defendeu ainda. "Suspeito que qualquer pessoa inclinada a pesquisas sobre pedofilia na internet tenha, infelizmente, acesso fácil a imagens completamente diferentes das minhas, totalmente explícitas em seu conteúdo horroroso".
Outras polêmicas
Apesar de nenhuma acusação anterior contra a Balenciaga ter tomado o fôlego nem ter tido a gravidade desta última, a grife já se viu envolta em outras controvérsias. Em 2017, a maison foi publicamente criticada por modelos que disseram ter sofrido maus tratos pelos profissionais da casa durante a preparação para um desfile na Semana de Moda de Paris.
Segundo reportagem do Business of Fashion, os diretores de casting da casa desmarcaram com modelos que já tinham se comprometido com desfile e fizeram alterações drásticas de visual para o trabalho, além de tê-las feito esperar em uma escadaria, em más condições, por horas para os ensaios. À época, a Balenciaga se desculpou.
Meses após o início da pandemia, em julho de 2020, um aluno de origem vietnamita da Berlin University of the Arts, Tra My Nguyen, denunciou nas redes sociais que a marca teria copiado seu trabalho para suas últimas criações. Esta acusação de plágio, no entanto, a grife negou.
"[Nosso trabalho] não é baseado em nenhuma criação do artista. Foi inspirado por como vendedores de rua às vezes mostram seus produtos", alegou à CNN. A grife ainda publicou o que seria seu 'moodboard', as referências de imagens que teriam sido utilizadas na concepção de sua campanha.
Também em 2020, o Global Times da China reportou que os clientes locais da marca estavam descontentes com uma campanha que consideraram "um insulto aos gostos do povo chinês" por usar arte e set antiquados e estereotipados — que refletem uma visão ocidental preconceituosa da identidade chinesa. As manifestações começaram na rede social Weibo, popular no país.
Em 2021, o lançamento de uma peça única que reunia calça baggy com cueca aparente, em ilusão de ótica ao estilo de cantores negros de hip hop, gerou mal-estar. A marca foi acusada de apropriação cultural.
Marquita Gammage, professora de Estudos Africanos da Universidade Estadual da Califórnia, disse à CNN na ocasião que estava "perturbada" pela "exploração da cultura negra com a esperança de assegurar grandes lucros", já que o estilo foi usado anteriormente "para criminalizar negros como gângsters e uma ameaça à sociedade americana".
"[A calça] desperta imediata preocupação dada à semelhança grotesca com a estética do hip hop afroamericano que por décadas resultou na prisão e na morte de negros. Esta peça tem apropriação cultural e comercial 'escrita' nela, marcada pelo nome Balenciaga".
Em 2019, o americano Anthony Childs foi abordado por policiais em Shreveport, no estado da Louisiana, por violar a lei contra calças folgadas da cidade. A ação resultou na morte do homem de 31 anos com três tiros — que em seguida foi registrada como suicídio e gerou revolta da população.
No início de 2022, o lançamento do par de tênis Paris, um modelo inteiramente destruído de R$ 10 mil, incitou preocupações a respeito de moda e sustentabilidade. Em um editorial, a revista Vogue América questionava se não era hora de por um fim no culto e exploração do estilo "destruído", que libera em seu processo de fabricação químicos prejudiciais ao meio ambiente.
A crítica era uma resposta à alegação da Balenciaga de que a intenção de seu diretor criativo Demna Gvasalia era de destacar que os sapatos deveriam ser usados por uma vida inteira — em um esforço de combater as mudanças climáticas. "Estragar de propósito um par de novos tênis ao invés de reciclar os já existes ou lançar uma coleção de peças de segunda mão parece uma oportunidade perdida", alfinetou aquela que é tida como a "bíblia da moda".
Além de ser frequentemente apontada como 'glamourizadora da pobreza', a grife atrai críticas de tempos em tempos por outros supostos plágios. Em 2017, uma sacola azul teria sido "inspirada" em uma da loja de móveis Ikea. Na mesma época, o produtor musical Swizz Beatz acusou a Balenciaga de copiar o logo do coletivo de hip hop Ruff Ryders. Outra coleção de logos tempos depois foi comparada à iconografia da campanha para presidente do senador dos EUA Bernie Sanders.
Demna Gvasalia, segundo a CNN, negou a inspiração no político.
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