Celebridades e moda agênero: como Michele revolucionou a Gucci em 7 anos
Para muitas pessoas, sete é um número místico e cheio de simbolismo. São sete as notas musicais, há sete cores no arco-íris e, para muitos, o mundo foi criado em sete dias. Dentro da moda, ele também tem significado. Sete foi o número de anos que Alessandro Michele levou para tornar a Gucci o que é hoje: uma marca mais inclusiva, criativa, e muito desejada.
Durante seu legado, o diretor criativo da marca italiana fez com que boa parte das pessoas se enxergasse — pelo menos um pouquinho — nas peças que mesclaram o sexy com o nerd, o cinema com a música, as ruas com os contos de fadas.
Todo esse imaginário tomou forma nas passarelas, fazendo com que muita gente quisesse experimentar os óculos quadrados com glitter, no estilo Elton John; se vestir como a Margot Tenenbaum e até ter um irmão gêmeo para participar da campanha inspirada em O Iluminado, de Kubrick — ou desfilar na passarela da Gucci.
A notícia da saída de Michele pegou a indústria de surpresa. Afinal, desde que assumiu o posto, em 2015, a marca cresceu consideravelmente — os lucros triplicaram e a receita quadruplicou. E, desde então, a Gucci tem expandido.
Porém, no último ano os números foram diminuindo e a Kering, holding responsável pela marca, decidiu fazer uma mudança no design, resultando na saída de Alessandro Michele.
A última coleção do diretor criativo deve ser apresentada no início de 2023.
Passarela do tempo
Ao longo dos últimos sete anos a Gucci deu um salto no quesito criatividade em seus desfiles graças à visão e coragem de Alessandro Michele. Para celebrar seu legado, reunimos as principais características de seu trabalho à frente da grife.
O amor pelo cinema
O cinema pode ser visto em muitas das coleções do designer. E essa influência vem da mãe, que trabalhou como assistente em uma produtora de filmes. Conseguimos ver a magia dos filmes de uma forma única — tanto nas roupas, quanto nos cenários e na construção das campanhas da Gucci.
Exemplo disso é o desfile de outono/inverno 2015, em que o estilista se inspirou no filme "Os Excêntricos Tenenbaums", de Wes Anderson, e trouxe modelos vestidas com casacos como o da personagem Margot Tenenbaum.
Outra influência, mas dessa vez nos cenários e actings, é a campanha inspirada nos filmes do diretor Stanley Kubrick, como os clássicos "Laranja Mecânica; 2001: Uma Odisseia no Espaço" e "O Iluminado".
Relação com artistas
Outro ponto que podemos destacar ao longo da trajetória de Alessandro Michele foi a relação que a marca criou com os artistas neste período. Jared Leto e Harry Styles já são nomes automaticamente associados à marca.
Inclusive, Harry lançou uma coleção cápsula com a Gucci, composta por 25 peças que mesclam a alfaiataria dos anos 1970 com estampas divertidas, além da moda circular.
Além disso, em novembro de 2021, o diretor criou um desfile chamado Gucci Love Parade, que ocorreu na Hollywood Boulevard, em Los Angeles, e contou com modelos e celebridades como Macaulay Culkin, Jodie Turner-Smith, St. Vincent, e outros artistas.
Grandes parcerias
Além da parceria com artistas, Michele também apostou na parceria entre marcas. Durante seu legado, a Gucci fez colaborações importantíssimas para a moda, como o The Hacker Project — collab com a Balenciaga; a parceria com a Adidas, com a The North Face e até mesmo com a Disney — em uma coleção icônica que leva o Mickey.
"Sou apaixonado pela coleção 'Aria'. O desfile é impecável, a trilha, nem se fala! E foi nele que a collab com a Balenciaga foi apresentada", opina o stylist Caio Sobral, que só começou a se interessar e consumir a marca após a entrada de Alessandro Michele.
"Mas se eu fosse falar de uma peça que eu acho icônica, é a bolsa que tem a alça de bambu e é inteira de tachas, apresentada em um dos últimos desfiles".
Moda sem gênero e mais inclusiva
Alessandro Michele foi um dos primeiros estilistas a apostar na moda sem gênero, trazendo mais dinamismo e diversidade para a passarela, além de questionar a indústria da moda e gerar mudanças.
Em um desfile realizado em 2019, por exemplo, o designer levou a passarela para um cenário cirúrgico, mostrando que um ciborgue não tem sexo e que pode ser o que e quem quiser.
Além disso, a Gucci também tem inserido cada vez mais pessoas com deficiência no seu quadro de funcionários e em suas campanhas.
Moda sustentável
Alessandro também foi vanguardista quanto à sustentabilidade nas grifes. Ele foi um dos primeiros a se importar com a sustentabilidade em suas coleções, repetindo as mesmas peças ao longo dos desfiles, revivendo a estética vintage e investindo na moda circular.
Por meio do The Vault, plataforma on-line criada pela Gucci, a marca traz peças antigas personalizadas, disponíveis em coleções cápsulas.
Um legado de sucesso
Marcela Carrasco, coolhunter, youtuber e fashion influencer, conta que o que mais chama a atenção no legado de Alessandro foi o upgrade que ele deu à marca. Para ela, essa parceria foi fundamental para que a Gucci se tornasse a gigante que é hoje.
Ele trouxe apreciação da Black Couture, trouxe moda agênero, trouxe collabs maravilhosas, foi pioneiro em fazer cross-branding com celebs e influs, apoia sustentabilidade e sempre trouxe inovações no mercado", completa.
Caio compartilha do mesmo pensamento e conta que, inclusive, algumas clientes começaram a se interessar muito mais pela Gucci nos últimos anos. O profissional montou looks com a grife italiana para personalidades como Vanessa Rozan, Chris Paladino e Sarah Oliveira.
"A estranheza e provocações que Alessandro trazia em cada coleção deixava tudo mais interessante — e isso sem perder aquilo que as pessoas chamam de 'tendencia'. Agora a gente espera pra ver quem assume essa cadeira! Mas eu duvido muito que seja alguém tão bom quanto ele", diz Caio.
Quem é Alessandro Michele?
Alessandro Michele nasceu e cresceu em Roma. O diretor criativo é formado em moda pela Accademia Costume & Moda da Capital italiana e começou sua carreira na Les Copains. Depois para a Fendi, onde trabalhou com Karl Lagerfeld e Silvia Venturini Fendi, nos anos 1990.
Nessa década o estilista começou a chamar a atenção com os acessórios em couro e foi contratado por Tom Ford para criar as bolsas da Gucci, em 2002.
Depois de 13 anos de carreira, após a saída de Frida Giannini, em 2015, Alessandro tornou-se o diretor criativo da marca e trouxe uma nova Gucci para as passarelas — sendo premiado pelo Conselho de Moda Britânico por causa das criações originais.
Há momentos em que os caminhos se divergem por causa das diferentes perspectivas que cada um de nós pode ter. Hoje termina para mim uma jornada extraordinária.
Durante esse longo período, a Gucci foi minha casa, minha família adotiva. A esta família, a todas as pessoas que apoiaram e cuidaram dela, envio os meus mais sinceros agradecimentos, o meu maior e mais sincero abraço. Junto com eles eu desejei, sonhei, imaginei. Sem eles, nada do que construí teria sido possível. A eles vai o meu mais sincero desejo: que vocês continuem cultivando seus sonhos, a matéria sutil e intangível que faz a vida valer a pena", escreveu o diretor criativo em seu comunicado se despedindo da marca.
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