Neve e lama: fotógrafo viaja o mundo em busca do futebol de rua raiz
O futebol não é jogado apenas em suntuosos estádios como os vistos na atual Copa do Qatar.
Ao redor do mundo, a bola rola sobre a areia de praias desertas, em becos de grandes cidades, na lama da floresta e até entre as geleiras da Antártida.
É isso o que mostram as imagens feitas pelo fotógrafo e jornalista brasileiro Caio Vilela (@futebolsemfronteiras).
Nas últimas duas décadas, rodou o planeta para retratar cenas de partidas de futebol disputadas nas ruas de centros urbanos e nas mais diversas paisagens naturais do globo — e onde os jogadores não eram astros milionários como Neymar ou Messi, mas pessoas comuns, das mais diferentes culturas e feições.
Tive a ideia de fotografar futebol de rua durante uma viagem que fiz ao Irã em 2003.Estava em uma praça da cidade de Yazd, vi uma molecada jogando bola e bati uma foto.
O brasileiro conta que ficou encantado com a imagem que produziu, que juntava a plasticidade do futebol com as paisagens iranianas.
Caçada por campinhos
"Até hoje, já fiz fotos de futebol em mais de 110 países, em todos os Estados brasileiros e até na Antártida", relata ele. "No começo, era só um hobby. Mas, depois, virou um projeto de trabalho, com as fotografias dando origem a publicações, como o livro 'Futebol Sem Fronteiras', que lancei em 2010".
Em suas andanças, Caio se deparou com o futebol sendo jogado em terrenos nevados da Rússia, junto a rios da Amazônia, ao lado de vulcões de Galápagos e em diminutos espaços de cimento no meio de grandes cidades.
Nas viagens, minha ideia é flagrar o futebol em locais que simbolizem o destino que estou visitando.
E, para encontrar as partidas, ele desenvolveu algumas técnicas.
"No período do fim da tarde, quase sempre tem gente jogando bola em algum lugar, não importa se é no Qatar ou em Santa Catarina", conta.
"Por isso, quando chego a um destino desconhecido, tento descobrir onde a molecada joga bola no final da tarde e dou uma rodada por esses pontos a pé, de bicicleta ou de táxi. Busco campinhos, praças. Não procuro campos estruturados e de tamanho oficial. Quanto mais improvisado for o lugar, melhor".
Segundo Caio, os taxistas costumam ser uma boa fonte de informação para encontrar esses lugares.
"E também tento localizar os próprios boleiros. Quando vejo uma molecada com camisa de futebol na rua, pergunto para eles onde a turma joga".
Do Iêmen à Antártida
Com tantas viagens realizadas ao redor do globo, Caio retratou partidas e brincadeiras envolvendo o futebol em locais extremamente inusitados.
"No Iêmen, fotografei jovens jogando bola descalços e usando uma espécie de saia masculina do mundo árabe chamada 'futah'. E o campinho ficava em cima do leito seco de um rio, com uma cidade histórica chamada Shibam ao fundo. Foi um cenário incrível para fotos".
Já durante uma viagem de navio nas águas da Antártida, a embarcação parou em uma ilha da região, para que os turistas pudessem admirar lobos-marinhos que vivem no local.
"A tripulação do navio era russa. E, durante a parada, alguns deles desceram em terra com uma bola, para jogar futebol enquanto os turistas passeavam. Esqueci dos lobos-marinhos e fiquei fotografando eles com a bola, no meio das paisagens geladas da Antártida".
E o Brasil, logicamente, é um país que rendeu muitas fotos para Caio.
Aqui, é possível encontrar cenas de futebol em quase todos os lugares. No Amapá, por exemplo, fotografei o 'futlama'. Quando baixa o nível do rio Amazonas, sobram espaços enormes de leito de rio onde a turma coloca traves e joga, com lama voando para todo lado. Há até campeonatos de 'futlama'.
E há muitos locais que impressionaram Caio com sua beleza.
"No Irã, tirei fotos de meninos jogando bola na praça central da cidade de Isfahan, com diversas obras-primas da arquitetura persa ao redor", descreve Caio.
"Já em Mianmar, me deparei com o pessoal curtindo um futebol entre os templos budistas de Bagan. E até nos terrenos acidentados do Nepal, entre as montanhas do Himalaia, tive a chance de fotografar partidas".
E o Caio se arrisca nas quatro linhas?
Tais viagens rendem grandes imagens — e também marcantes interações humanas.
Muitas vezes, ao fotografar as partidas, sou convidado para jogar. Mas sou um baita perna de pau.
"Mas, mesmo assim, o futebol vira uma maneira de me conectar com as pessoas dos lugares que estou visitando", completa.
"Em uma parte remota da Rússia, por exemplo, um nativo disse que ia me mostrar um lugar onde a molecada jogava bastante. E me levou a um orfanato, em uma área rural. Cheguei lá, tinha um campinho de futebol e fiz amigos na base da mímica, pois ninguém falava inglês. Depois, me convidaram para ir a uma festa na casa de uma família. E em outros países também já fiz grandes amizades com as pessoas que retratei".
Para Caio, "o maior aprendizado dessas viagens é perceber que o futebol é realmente um idioma universal, uma força que une os mais diferentes povos do mundo".
O brasileiro tem diferentes publicações que trazem suas fotos de futebol de rua feitas nos mais diversos cantos do globo - algumas delas, inclusive, lançadas no exterior, em países como Alemanha, França e Reino Unido.
Para conhecer os livros lançados por Caio Vilela, acesse: https://caiovilela.com.br/pt/livros/
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