Pastel de nata tem história secular, concurso e regras para ficar perfeito
Na base, uma massa folhada estaladiça, que se quebra em pequenas lâminas a cada mordida e produz um som que entrega a crocância. Por dentro, um creme suave de ovos e leite, que deve escorrer levemente enquanto espalha cremosidade. Sim, estamos falando do pastel de nata, um dos chamados doces conventuais mais conhecidos de Portugal mundo afora.
Aliás, há até mesmo um concurso anual que elege o melhor de Lisboa, realizado durante o Congresso de Cozinheiros, organizado pelas Edições do Gosto. Neste ano, o primeiro lugar ficou com a Casa do Padeiro, seguida pela Aloma e pela Pastelaria Patyanne.
Assim como boa parte dos doces portugueses, o popular pastel, que para nós, brasileiros, tem mais pinta de tortinha, surgiu dentro das instituições religiosas portuguesas, mais precisamente nos conventos.
Origem incerta, mas portuguesa (com certeza)
O historiador de gastronomia Virgílio Nogueiro Gomes, que também preside o júri do concurso, diz que a origem da primeira receita dos pastéis de nata é um tanto quanto nebulosa, como de outros tantos preparos.
O registro da primeira receita é do Convento De Santa Clara D´Évora, de 1729. Mas, antes disso, em 1710, freiras de Braga já o vendiam", explica.
O doce, aliás, seria uma derivação do pastel de leite, que está no caderno de receitas da Infanta Dona Maria, considerado o primeiro livro de registros de receitas escritas de Portugal."O recheio é idêntico, mas, não explica detalhes da massa folhada", completa Nogueiro.
O segredo da perfeição
E, vale reforçar, na composição do pastel de nata, a massa folhada é um componente fundamental, que precisa estar em equilíbrio com o recheio.
A gente costuma dizer que comemos o pastel de nata com a palma da mão virada para cima, na altura do peito, para aparar os pedacinhos que devem cair da massa crocante".
Já o recheio é um doce de ovos com leite que pode ser reforçado com baunilha e casca de limão. "É preciso haver equilíbrio, pois o excesso de gosto de um desses ingredientes é considerado um defeito", explica. Quem preferir, aliás, pode "temperar" o pastel de nata com canela em pó ou açúcar refinado.
Outro cuidado necessário para garantir a qualidade do pastel de nata é com o tempo de forno. "A gente gosta quando olha para o pastel de nata e o vê bronzeado, mas, não queimado. Olhando pelo fundo, é o possível ver a espiral da massa folhada. E se tiver pontos negros, significa restos de gordura deixados na forma", finaliza o especialista
Pastéis de Belém só tem em um lugar
Assim como acontece com tantos outros produtos, o sucesso de um pastel de nata, em especial, acabou virando sinônimo da iguaria aos olhos dos mais desavisados. Trata-se dos Pastéis de Belém, cuja fábrica abriu as portas em 1857 e fica ao lado do Mosteiro dos Jerônimos, um dos cartões postais de Lisboa.
De acordo com o gerente da marca, Miguel Clarinha, a confusão talvez se dê por falta de conhecimento mais aprofundado sobre a história do doce de quem é de fora de Portugal.
O pastel de Belém tem uma receita base muito semelhante à dos pastéis de nata, com algumas diferenças nos ingredientes e no modo como são misturados. Para ser um pastel de Belém, deve ser fabricado e comercializado aqui, neste local. Fora daqui, são apenas pastéis de nata".
Ele reforça que a receita do pastel de Belém surgiu no início do século 19, no Mosteiro dos Jerônimos, vizinho de uma fábrica de refinamento de açúcar, de onde hoje saem as fornadas.
"A receita foi adquirida por um empresário local, Domingos Alves, que começou a produzi-lo neste espaço. A receita e o modo de fabricação seguem inalterados desde século 19".
O que mudou, ao longo dos duzentos anos de história, foi a popularidade dos pastéis de Belém. Quando se passa pela frente do endereço, sempre há filas, seja para comprar os pastéis para comer em casa, seja para conseguir uma mesinha no espaço que comporta, atualmente, 300 pessoas sentadas entre os salões interno e a área externa.
"Produzimos 20 mil pastéis de Belém por dia e, em uma estimativa, recebemos de entre três e cinco mil pessoas diariamente".
É sempre bom reforçar, de todo mundo, já que sim, os Pastéis de Belém viraram uma atração turística à parte. Em termos de popularidade, talvez só encontrem concorrência na Manteigaria, outro ícone da gastronomia de Portugal.
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