Bar que é ícone carioca recebe globais e tem a mureta mais famosa do Rio
A Urca está na lista dos lugares mais visitados por quem está de passagem ou mora no Rio de Janeiro. Além de ter a Baía de Guanabara como 'quintal', o bairro abriga varias opções turísticas, entre elas um dos principais cartões-postais da cidade maravilhosa, o Pão de Açúcar. Esse ano, a ida até lá ganhou outro status. Um dos bares cariocas mais antigos, o Bar Urca, foi reconhecido este ano Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico do Rio.
A casa oitentona (completou 8 décadas em 2019), localizada na esquina da Rua Cândido Gaffrée com João Luiz Alves, atravessou três gerações da família Gomes e ajudou a criar a tradição de bebericar e petiscar na mureta mais famosa da capital carioca, apreciando um dos finais de tarde mais instagramáveis do país.
Especializado em culinária portuguesa, o negócio é composto por bar e restaurante. Mas é a mureta que ganha a maioria dos cliques e posts nas redes sociais.
O destaque é sempre para a cerveja com petiscos típicos, tendo ao fundo o pôr do sol pintando de alaranjado a Guanabara.
Uma casa portuguesa, com certeza
O bar era o sonho do português Armando Gomes, o Seu Gomes, como era chamado carinhosamente pelos frequentadores. Tanto que esteve à frente da administração por 84 anos, até falecer em 2012, aos 96, passando o legado a Armando Filho, 72, e os dois netos, Armando, 43, e Rodrigo, 45.
"Meu pai sempre quis ter um lugar na Urca dedicado à gastronomia portuguesa. Ele já tinha tido outras casas na Zona Sul, mas era apaixonado pela Urca. Gostava tanto daqui que, um tempo depois, até se mudou para cá para unir o útil ao agradável", revela Armando Filho.
O que chamou a atenção de Seu Gomes é o mesmo que atrai visitantes até hoje. Além da paisagem, a calmaria e a sensação de acolhimento que o bairro proporciona.
A Urca é o sonho de todo carioca e brasileiro porque é um cantinho pequeno do Rio, com oito mil habitantes, treze ruas e a maioria das casas são preservadas ou tombadas" Armando Filho
Tradição da mureta é mantida até hoje
O prédio histórico abrigava o antigo Bar Tabajara, que mudou de nome quando foi adquirido pela família Gomes, em 1939. O negócio iniciou só com o bar, que até hoje mantém a mesma proposta.
"Lá na frente (no bar) só temos umas quatro mesas de apoio, aquelas mais altas, mas os clientes preferem mesmo é ficar na mureta", reforça Armando Filho.
Num bate-papo entre amigos ou em família, principais frequentadores do lugar, os visitantes podem escolher entre dezenas de lanches e petiscos lusitanos, começando pelos tradicionais bolinhos de bacalhau e sardinha, além de pastéis e empadas.
Armando Filho diz que o segredo para atrair o público não está só na culinária, mas também na temperatura da cerveja.
Meu pai sempre gostou de cerveja 'canela de pedreiro'. Por isso colocamos no gelo por mais de doze horas antes de servir, além de alguns truques com sal e álcool" Armando Filho
A procura pela bebida fez o empresário criar o seu próprio rótulo de cerveja artesanal, em 2020, para harmonizar com as receitas à base de pescados e crustáceos.
O restaurante só foi reaberto em 1990, quando Armando Filho chegou para ajudar o pai nos negócios. O salão fica no andar superior do prédio, onde antes havia um depósito. A vista do alto é outro presente para quem ocupa um dos 66 lugares.
Lá os clientes podem conhecer um pouco da tradição culinária deixada pela matriarca da família, Maria Gomes, com pratos como bobó de camarão, camarão na moranga, caldeirada e moqueca de peixe com camarão e variados pratos com bacalhau, a estrela da casa, servidos com fartura.
Meu pai dizia que, o fato de as pessoas saírem sempre levando uma quentinha significava que tinha gostado muito e que estava levando para casa para comer no jantar ou no outro dia" Armando Filho
Clientes e funcionários têm relação de amizade
O clima de aconchego de um dos cantos mais charmosos da Cidade Maravilhosa não é restrito só ao bairro, mas também à convivência entre quem trabalha ali e os clientes cativos.
Manuel Garcia dos Santos, 55 anos, é um dos funcionários mais antigos. Trabalha há 17 anos no bar e já passou por quase todas as funções até chegar à gerência. Com tanto tempo de casa, Manuel conhece a maioria dos clientes. Assim como ele, muitos garçons são próximos dos frequentadores mais assíduos.
"A gente conhece grande parte deles, exceto no caso dos turistas. O pessoal da vizinhança sempre nos procura diretamente para fazer reserva ou solicitar o pedido. Alguns até nos trazem presente no aniversário"
Para manter a clientela fiel, Manuel aposta no tratamento vip dos frequentadores.
O segredo é você tratar bem o cliente, saber o nome dele, chamá-lo pelo nome. Monitorar quando ele chega, perguntar como está. Eles sempre ficam muito satisfeitos com esse tratamento"
Clientes estrelados
Entre os frequentadores que podem ser vistos facilmente por lá, estão alguns famosos, revela Manuel.
"Pedro Bial e Lenine são assíduos por aqui. A Maria Gadu também vem quando está no Rio e traz até turistas, mas também vem muitos jornalistas de esporte da TV Globo, como Reginaldo Leme e Marcos Uchoa. Todos são muito simples e simpáticos", diz.
Mas o público cativo também conta com vizinhos, que fazem do bar a extensão de casa. Gente como o administrador João Quintadilha, 69 anos, que diz que frequenta o bar desde que começou a ter idade para ir até lá. Ele elogia a qualidade dos produtos e serviços do bar.
"Eu gosto de tudo, o atendimento, o local, a vista, a segurança e principalmente a qualidade da comida, da bebida. Até hoje levo amigos para conhecer o bar e eles vão pela primeira vez, ficam apaixonados e voltam", conta.
Da assiduidade nasceu a amizade com Seu Gomes, que sempre rendia boas conversas e convites para o aniversário dele no bar. "Até hoje passo todo dia oito de maio lá para beber em homenagem a ele".
A amizade se estendeu para o filho, que nem a divergência no futebol conseguiu afastar. "O Armando é vascaíno e eu sou flamenguista doente, mas a gente brinca com isso".
Para o herdeiro do bar, o título de Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico do Rio de Janeiro representa um reconhecimento da história da casa.
Nos sentimos muito honrados, pois reconhece importância histórica, mas também turística do bar. Só temos a agradecer"
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