Topo

Tecido felpudo para qualquer estação é tendência que bomba do TikTok ao DIY

João Guilherme, uma das celebridades que aderiram ao fuzzy effect - Reprodução/Instagram
João Guilherme, uma das celebridades que aderiram ao fuzzy effect Imagem: Reprodução/Instagram

Rafaela Artero

Colaboração para Nossa

09/12/2022 04h00

Que o TikTok é um grande criador de tendências isso a gente já sabe, mas ele também pode ajudar os designers a tornarem suas peças em hit ou criar um movimento. Entre várias tendências da rede social que buscam, nas roupas, o conforto emocional estão o tie-dye no início da pandemia em 2020 e, nos últimos meses, o dopamine dressing.

E elas não estão sós: o fuzzy effect, como é chamado pelos usuários da plataforma, traz de volta peças confortáveis, felpudas e com uma cara de "podrinho", dependendo de como estilizado, com o uso do tecido mohair.

Quem apresentou suéteres com esse efeito foi a japonesa Needles, em uma coleção de outono-inverno em 2018. Mas foi com o knitwear da marca italiana Marni, que Francesco Rizzo, diretor criativo, colocou em sua coleção masculina de 2019 que ele bombou.

Cardigã de mohair da japonesa Needles - Divulgação - Divulgação
Cardigã de mohair da japonesa Needles
Imagem: Divulgação
O fuzzy effect na Marni da coleção de 2019 - Getty Images - Getty Images
O fuzzy effect na Marni da coleção de 2019
Imagem: Getty Images

Com as estampas e combinações nada óbvias da grife italiana, o mohair ganhou destaque com as mais diferentes peças da marca — suéteres, gorros, saias e slides — e fez a festa dos fashionistas do Tik Tok e das celebridades, como a modelo Hailey Bieber, o k-idol Jung Wooyoung e estrelas da NBA, como PJ Tucker e Shai Gilgeous-Alexander.

Com o inverno se aproximando no hemisfério norte, outras grandes marcas da moda adotaram o mohair em suas coleções, como Bottega Veneta, Isabel Marant, Supreme, Fendi, Saint Laurent, Rick Owens e Ralf Simons.

Entre os novos designers, como Aimé Leon Dore e ERL, o "felpudo" também pegou. A Nong Rak, novata meio tailandesa meio americana que caiu na graças de Marc Jacobs, agora tem as mais diferentes peças tricotadas com a lã de mohair à mão.

Hailey Bieber de Nong Rak - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Hailey Bieber de Nong Rak
Imagem: Reprodução/Instagram
Peça da UMS458 + Felipe Fanaia - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Peça da UMS458 + Felipe Fanaia
Imagem: Reprodução/Instagram

Por aqui, a UMS458 apresentou em parceria com Felipe Fanaia na 50ª Casa dos Criadores cardigãs com o tal do efeito fuzzy, semelhante a textura do mohair. No mercado de segunda mão, o site de resale americano Poshmark viu a procura de cardigãs aumentar em 104% em 2019.

Moda revisitada

Mas o tecido já é um conhecido da moda — e da história —- bem antes de viralizar na rede. Ele pode parecer novo para a gen Z, mas já era utilizado há muito tempo. No século 19, na Turquia, as cabras de angorá, produtoras do pelo fofinho que dá origem ao mohair, eram cruzadas e criadas para poder dar conta da febre que o tecido virou na Europa.

Cena de "Paris, Texas", de Wim Wenders - Reprodução - Reprodução
Cena de "Paris, Texas", de Wim Wenders
Imagem: Reprodução

Nos anos 70, o suéter de mohair era queridinho do movimento punk pela possibilidade de dar um aspecto podrinho para os looks. Já em 1984, surgiu uma das peças mais icônicas do cinema: o suéter pink de mohair usado por Nastassja Kinski no filme "Paris, Texas", dirigido por Wim Wenders.

Nos anos 90 esse aspecto ganhou os grunges, como o cardigã que Kurt Cobain usou no MTV Unplugged do Nirvana em 1993. Peça que, inclusive, foi leiloada suja e manchada com marcas de cigarros por uma pequena fortuna em 2019: US$ 334 mil.

Kurt Cobain, no MTV Unplugged, em novembro de 1993 - Getty Images - Getty Images
Kurt Cobain, no MTV Unplugged, em novembro de 1993
Imagem: Getty Images

O lado B de tanta fofura

A história recente da moda com o tecido, porém, não é nada fofa e confortável como ele. O mohair tem origem no pelo da cabra de angorá, amplamente criada na África do Sul e, além de ser uma lã cara e difícil de se conseguir, ela entrou na lista de não recomendadas por associações de proteção aos animais e foi banida por marcas como Zara, Topshop, Mango, H&M e GAP.

Cabras cujos pelos dão origem ao tecido mohair - Gamma-Rapho via Getty Images - Gamma-Rapho via Getty Images
Cabras cujos pelos dão origem ao tecido mohair
Imagem: Gamma-Rapho via Getty Images

Em 2018, o PETA fez uma série de denúncias de extração ilegal e maus tratos após investigarem 12 fazendas que criavam os animais na África do Sul.

Por isso, muitas marcas adotaram uma versão sintética do tecido que trouxesse a textura da lã para as peças. Outras também usam a opção do upcycling, como é o caso da Nong Rak, do casal Cherry W. Rain-Phuangfueang e Home Phuangfueang:

"Passamos grande parte do tempo comprando fios naturais vintage, estoque morto e de segunda mão, bem como nos conectando com pequenas fazendas dos EUA que oferecem fios de pequenos lotes livres de crueldade", contam os designers em entrevista ao site Culted.

DIY felpudo

E como outra tendência do Tik Tok é o faça você mesmo, até das suas próprias roupas, é possível encontrar usuários na rede tricotando as suas próprias peças de mohair (geralmente sintético) e dando ideias de como produzir roupas e acessórios, indo de croppeds até laços para enfeitar os cabelos.

Tricô de mohair da Concept - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Echarpe em Mohair produzido por Simone Beltrão
Imagem: Reprodução/Instagram

Para Clara Kato, professora de artes manuais no knit café Novelaria, em São Paulo, a dica para quem quer tricotar com o mohair, seja natural ou sintético, é usar agulhas finas e ter calma, pois é uma lã fina e delicada.

Por ser bem leve, é uma boa pedida para todas as estações do ano, por isso é bastante procurado", termina a professora.