Cidade mais bonita da Sicília tem mergulho na história e vizinha 'erótica'

Quem está de olho na reta final da segunda temporada de "The White Lotus" já reparou: estamos na Sicília. E não se trata de qualquer pedaço da ilha bem na ponta da bota italiana. A maior parte da série da HBO foi gravada na cidade de Taormina, autonomeada a "mais bela cidade" da região.

E quem a visita compra esse slogan com facilidade: de um lado, o azul a perder de vista do Mar Jônico, do outro, o misterioso (e ativo) vulcão. E no meio de tanta natureza-ostentação, uma cidade repleta de história milenar e o charme de um balneário europeu ainda discreto perto de praias vizinhas.

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Uma cidade entre portas

Como muitas cidades antigas que já foram protegidas por muralhas, como é o caso de Taormina, é fácil se guiar pelas portas. Aqui, a Messina e a Catania introduzem o turista ao Corso Umberto, um boulevard de onde saem as incontáveis vielas e região que concentra de hotéis cinco estrelas a bed & breakfasts, de pequenas cantinas a luxuosos wine bars.

Achou impressionante as imagens da abertura de "The White Lotus"? Algumas delas foram produzidas em uma das lojas mais charmosas da cidade e destaque do "centrinho", a L' Agorà.

Bem no meio no Corso Umberto, uma praça aberta, com vista panorâmica para o mar, chama atenção. A Piazza IX Aprile abriga alguns dos monumentos mais importantes da cidade, como a Torre do Relógio, construída na Idade Média sobre ruínas helênicas; a Igreja de San Giuseppe, de estilo barroco do século 17; a igreja de Sant'Agostino, de estilo gótico do século 15.

Caminhando em direção à Porta Catania, mais um passeio pela história ao se deparar com a Catedral de San Nicolo, construída no século 13 e reconstruída nos século 15, 16 e 18. Não muito distante dali, o ex-convento de San Domenico — locação da segunda temporada de "The White Lotus", como você já viu aqui em Nossa.

Do outro lado do Corso, próximo ao Arco di Porta Messina, seguindo sentido Piazza San Pancrazio, o sentimento é que, se tropeçar, cai em tempos ainda mais remotos. É irresistível (e gratuito) espiar as ruínas tomadas e bizantinas cercadas por um... estacionamento, e explorar a singela Igreja de São Pancrazio, construída sobre ruínas de um templo grego e de uma cidade helênica.

Também deste lado da cidade, pela Via Teatrino Romano, está o Palazzo Corvaja, palácio medieval do século 14, e o Teatro Odeon, uma diminuta construção romana do século 2. Tudo altamente "xeretável".

Na Itália, faça como... os gregos

Seguindo pela região, pela Via Teatro Greco, uma das atrações mais imperdíveis da cidade: ruínas impressionantes e preservadíssimas do centro de diversões dos períodos helênico e romano na cidade. Se na ocupação grega, este era o lugar das peças e espetáculos musicais, sob o império romano, virou arena para gladiadores e batalhas sangrentas. Neste período, a plateia tinha mais de 5,4 mil lugares.

Na Idade Média, o espaço foi utilizado de forma bem menos glamorosa e abrigava material para a edificação de palácios e igrejas.

Aberto ao público e com ingresso comum a 10 euros, o teatro de proporções enormes é passeio obrigatório e museu a céu aberto, com uma das vistas mais impressionantes da cidade.

No rumo de volta do teatro para o centro, há também a imperdível Villa Comunale Duca Colonna Di Cesaro, o jardim botânico local.

Não deixe de dar uma olhada nas lojinhas que oferecem de produtos a base de limão siciliano (claro), a peças de artesanato local, com mosaicos coloridos e as famosas "testa di moro" e até camisetas e canecas de "O Poderoso Chefão".

"Mangia que te fa bene"

Parece um clichê, mas é impossível chegar a qualquer canto da Itália sem pensar em boa comida e boa bebida, e nestes quesitos Taormina não decepciona.

É no emaranhado de ruelas, mais precisamente na Via di Giovanni, que surge colorida e sempre lotada uma das maiores instituições culinárias de Taormina: o Bam Bar.

No local são servidas as granitas mais tradicionais da região, com direito a acompanhamento de um enorme brioche (parece estranho, mas provando faz todo sentido). Se falar que vem do Brasil, pode dar a sorte de ouvir um gerente empolgadíssimo sobre sua amizade com Alexandre Pato e Ronaldinho Gaúcho.

Vale se perder pelas muitas vielas da região e descobrir onde quer almoçar, jantar, provar arancinis "do tamanho de um punho" (como disse uma colega britânica), tomar um gelato ou beber um limoncello acompanhado de um bom doce siciliano. Mas se for para provar o lendário, que seja o do "Mago dos Canollis" e se for para provar canolli, que seja o de ricota com frutas.

Procura uma cantina para jantar "like a local", num lugar mais escondidinho? Corra para a Tischi Toschi, seu atendimento caloroso e seu menu reduzido, tradicional e delicioso (morra de amores pelo queijo de cabra frito).

Quer uma refeição sofisticada regada aos emocionantes vinhos do Etna e arrematados com saborosas grappas? Colado à muralha da Porta Catania e ao belo Palazzo Dei Duchi di Santo Stefano (construído no século 13), está Osteria RossoDiVino. Se a ideia é algo mais descontraído, mas também com a cara de Taormina (tradução: cercado de "teste di moro"), nem precisa ir muito longe: peixes e pastas no CutiLuDissi.

Drinques sofisticados para arrematar o dia de andança? O point é o terraço do luxuoso Hotel Metropole, com direto a apresentações de jazz com vista para uma costa iluminada e para a praça central.

Para os turistas mais "mão na massa", uma das atrações locais mais bacanas são as aulas de culinária local no restaurante Porta Messina — foi aqui que Nossa produziu (ou tentou) a verdadeira pizza siciliana.

Isola Bella: a joia local

Quem assistiu aos últimos episódios de "The White Lotus" ouviu uma história um tanto macabra sobre uma pequena ilha de Taormina, na Baia Delle Sirene. Isola Bella, na verdade, tem tintas bem menos dramáticas que as Mike White usou na série.

Tratava-se de um território particular da britânica Florence Trevelyan e sua família, de 1890 até 1990. Desde então, a reserva ecológica passou a ser administrada pelo governo local e explorada turisticamente.

Para chegar à ilha - aberta somente na temporada turística (maio a outubro) - há até um teleférico que sai e volta para Taormina a 3 euros.

Bate-volta em Castelmola

De Taormina, se vê uma pequena vila no alto de um morro. Como chegar lá? Três maneiras: alugar um carro e se aventurar pelas íngremes e estreitas estradas da região, pegar um ônibus com frequência e lotação bem variadas ao longo do ano ou... caminhar. Caminhar bastante.

Para quem escolhe usar as pernas, há recompensas. Quase metade do caminho é pela "Via Crucis", em que a história de Cristo é recontada durante a subida.

Finalizada a dura primeira etapa, a 398 metros acima do nível do mar, também é possível visitar a Igreja Madonna della Rocca, encrustada em uma rocha e fundada em 1640. Ao lado dela estão as ruínas do que um dia foi o Castelo Taormina, ou Castello Saraceno, do século 11.

A praça central — hoje feita de estacionamento e rodoviária — já foi o terraço de um antigo castelo medieval (daí o nome da vila).

Olhando para os lados, tudo lembra uma fortaleza — e era! A edificação e as muralhas do século 10, feitas de pedras vulcânicas claras, surgiram como um dos centros de proteção da cidade durante o domínio greco-bizantino e assim seguiu diante de invasões de árabes, franceses e espanhóis.

Caminhando entre essas passagens medievais, uma erótica surpresa: aparecem um, dois, cinco, quinze... figuras de pênis. Sim, muitos deles.

Ao contrário dos registros históricos de orgias de Pompeia, esse fogo de Castelmola não passa de uma esperta jogada de marketing do Bar Turrisi, aberto em 1947, reformulado por herdeiros dos fundadores em 1975.

Na falta de uma marca para concorrer com o castelo medieval ou a vista para o mar-turquesa, decidiram que o falo seria a logomarca. E deu certo: não tem quem não tire pelo menos uma foto de tanta potência criativa.

Para finalizar o passeio, de volta à praça central, o tradicional Caffè S. Giorgio (fundado em 1700) oferece soda, Aperol Spritz, gelatto, granita, mas faz maior alarde com seu vinho de amêndoas, produzido desde 1907 e delícia tipo exportação.

*a jornalista viajou a convite da HBOMax