Lapônia ou Polo Norte? Afinal, onde mora o Papai Noel?
Papai Noel vive no Polo Norte. Pode parecer uma afirmação tão cristalizada no imaginário coletivo quanto a imagem do velho barbudo de vermelho. Só que ela é, ao mesmo tempo, vaga o suficiente para abrigar muitas interpretações.
De que Polo Norte estamos falando? O geográfico, o ponto mais setentrional da Terra? Ou o magnético, o ponto para onde apontam as linhas do campo magnético do planeta? — e que é variável, o que faria do Papai Noel um velho nômade.
No Brasil dos trópicos, que herdou tradições natalinas europeias e as adaptou, até certo ponto, à realidade local, o endereço do presenteador é algo um tanto nebuloso e pouco importante. Mas em países do norte do globo existe uma certa disputa geopolítica a respeito.
Papai Noel Americano
Nos Estados Unidos, a cidade que leva o assunto mais a sério é North Pole, no Alasca. Apesar do nome, ela fica a 2.700 quilômetros do Polo Norte — está fora inclusive do Círculo Polar Ártico. Mas a forçação de barra geográfica não a impediu de se autoafirmar como endereço de Noel. Há várias ruas com nomes natalinos, e a principal (ou única) atração local é uma loja chamada Santa Claus House.
O país ainda conta com um vilarejo chamado Santa Claus, na Geórgia, e até uma cidade fantasma, que também se chama Santa Claus, no Arizona. Popular entre os anos 1930 e 1950, ela foi abandonada nos anos 1970.
Papai Noel canadense
As mudanças climáticas mudaram a paisagem do Ártico. Com o degelo, novas rotas marítimas surgiram e a exploração de gás e petróleo criaram algumas tensões entre os países banhados pelo oceano.
Em 2013, russos e canadenses estavam nessa. Os países aumentaram a presença militar no Polo Norte, o que provocou um curioso debate no Congresso do Canadá. Um parlamentar defendeu que o país deveria proteger o Polo Norte e o Papai Noel, que são canadenses, "apesar de a oposição liberal achar que não".
Justin Trudeau, hoje primeiro-ministro e, à época, líder dos liberais, retrucou: "Todo mundo sabe que o Papai Noel é canadense. Seu código postal é H0H 0H0", disse, segundo uma reportagem da agência France-Presse.
Não é piada. O código, referência ao "hohoho", existe e é usado para quem quer enviar cartinhas ao velhinho. Além disso, em 2008, em uma formalidade, o Ministério da Imigração concedeu cidadania canadense ao Papai Noel.
"O governo do Canadá deseja ao Papai Noel o melhor em suas tarefas de véspera de Natal e quer que ele saiba que, como cidadão canadense, ele tem o direito automático de reentrar no Canadá assim que sua viagem ao redor do mundo estiver concluída", declarou o ministro.
O gesto, aparentemente pueril, se deu no mesmo contexto em que o governo da época queria aumentar sua soberania nas águas do Ártico, lembrou o jornal "Toronto Sun". Um movimento que EUA, Rússia, Noruega e Dinamarca também estavam fazendo, mas sem apelar diretamente para o carisma de um personagem universal.
Papai Noel Escandinavo
A Suécia tem um parque temático dedicado ao Papai Noel na cidade de Mora. Na Noruega, Drobak é a cidade natalina. Para os dinamarqueses, ele vive na Groenlândia (a grande ilha é um território da Dinamarca). Segundo algumas lendas, ele morava em um vulcão na Islândia.
Mas ninguém trata do assunto com mais empenho do que a Finlândia. Na tradição local, Korvatunturi, uma montanha na fronteira com a Rússia, é a morada do fabricante de brinquedos mais famoso do mundo.
Nos anos 1980, Rovaniemi, cidade destruída na Segunda Guerra e reconstruída seguindo o desenho de uma cabeça de rena, deu os passos mais significativos. Ela ganhou uma Vila do Papai Noel, um parque temático e uma agência de correio feita para receber e responder cartinhas de Natal.
Capital da Lapônia finlandesa, Rovaniemi apostou no turismo. Noel ganhou passaporte finlandês e virou garoto-propaganda local. Até o aeroporto da cidade, um dos principais da Finlândia, é "o aeroporto oficial do Papai Noel".
O Círculo Polar Ártico de fato atravessa a região, e Rovaniemi está um pouco mais próxima do Polo Norte do que a própria North Pole, no Alasca. Isso ajuda, é claro, mas a relação da Lapônia com o Natal é fruto de um marketing bem-sucedido.
A Finlândia foi quem aproveitou melhor a premissa genérica e vaga de que o personagem vive em algum ponto de uma região desabitada e que, oficialmente, não pertence a nenhum país. Mas, como vimos, não é só ela que alega a nacionalidade de Noel.
Também não é exclusividade nórdica. Toda essa relação com o frio extremo é algo um tanto recente na milenar história de Noel. Como lembra Gerry Bowler em "Papai Noel - Uma Biografia" (Planeta), a lenda do velhinho presenteador começou com são Nicolau, um bispo que teria vivido no século 4º d.C. em Mira, uma antiga cidade turca. Por isso, até o governo da Turquia promove o local como a verdadeira terra do Papai Noel.
Ruínas bizantinas na costa do Mediterrâneo, um pedaço ensolarado de litoral, em um país de maioria muçulmana. Esse sim é um Natal diferente.
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