Bruxas e túneis: fomos à cidade subterrânea mais mal-assombrada da Escócia
"Ok, pessoal. Entrar nos vaults pode ser claustrofóbico e causar mal-estar. Se quiserem retornar, avisem. De jeito nenhum tentem andar sozinhos, vocês podem se perder", adverte com firmeza a guia turística Claire, que trabalha em uma das dezenas de agências que oferecem passeios mal-assombrados na cidade de Edimburgo, capital da Escócia.
Os "vaults" que a guia menciona são galerias úmidas e sufocantes que formam uma cidade subterrânea secular. São várias escotilhas conectadas por corredores, largos e estreitos, que ganharam fama de lugar mais sinistro do Reino Unido e que, no passado, abrigou muitas das personas non gratas de Edimburgo.
Essas galerias escuras já foram lar de pessoas que não podiam circular nas ruas. Ladrões, assassinos, ciganos, prostitutas. Tudo o que a sociedade escocesa não gostava se escondia aqui.
Hoje, basta caminhar alguns metros no centro de Edimburgo para esbarrar em alguma agência que oferece os famosos tours de terror. Sucesso entre os turistas, as excursões que custam em média 15 libras são imperdíveis para quem deseja conhecer o lado mais obscuro da história da Escócia.
Os tours, na maior parte das vezes feitos a pé, começam com os turistas se reunindo em um ponto de encontro predeterminado. Então, os guias direcionam o grupo para os locais mais famosos enquanto contam histórias que explicam por que Edimburgo tem a fama de cidade mal-assombrada.
"Nessa praça, mulheres acusadas de bruxaria eram queimadas", "aqui é o local onde os ladrões tinham as mãos decepadas", "a maioridade legal em Edimburgo era de 8 anos."
A história da cidade subterrânea
Passeio macabro favorito dos turistas, a cidade subterrânea de Edimburgo foi literalmente esquecida por décadas. As galerias foram redescobertas apenas em 1980, quando um morador encontrou a cidade perdida enquanto quebrava paredes para reformar sua casa.
Diversos objetos como pratos, talheres, copos, calçados e até mesmo ossadas humanas foram encontrados nas galerias subterrâneas, indicando que o local abrigou centenas de pessoas no passado.
O que mais impressiona os turistas que visitam a cidade subterrânea de Edimburgo é que, na verdade, as galerias são os arcos de uma ponte. Construída em 1785, a South Bridge possui 300 metros de comprimento e 19 arcos, que passaram a ser abrigo de pessoas das classes mais pobres da época.
A ponte foi construída para nivelar um declive na cidade. Em cima dela, foram inaugurados diversos comércios, tornando a região um dos lugares mais disputados da Escócia.
Inicialmente, os comerciantes usavam os arcos subterrâneos da ponte para guardar mercadorias, por causa da umidade, eles abandonaram essa prática, e foi aí que os arcos foram ocupados por pessoas que permaneceram em condições insalubres por décadas, até que os arcos foram finalmente fechados na metade do século XIX.
Uma curiosidade dramática que reforça o tom macabro do local é que a primeira pessoa a cruzar a South Bridge estava morta. Segundo documentos da época, a alta sociedade de Edimburgo elegeu a esposa de um influente juiz para ser a primeira pessoa a atravessar a ponte. Dias antes do evento, a mulher teria morrido sem explicação, e o seu cortejo acabou inaugurando a ponte recém-construída.
Caça às bruxas
A sinistra cidade subterrânea de Edimburgo é só um dos elementos que fizeram a capital escocesa ganhar fama de mal-assombrada. De acordo com registros históricos, entre os séculos XVI e XVII, Edimburgo foi uma das cidades da Europa que mais torturou e matou mulheres acusadas de bruxaria.
Para quem se interessa pelo assunto, o museu nacional da Escócia abriga sessões inteiras que contam a história da caças às bruxas, que normalmente acontecia em momentos de crise e convulsão social.
Torniquetes, barris com espetos pontiagudos e lanças afiadas são alguns dos objetos de tortura utilizados na época que sobreviveram para contar a história.
Estima-se que pelo menos 4 mil escoceses foram torturados e mortos por violar a Lei da Bruxaria entre 1563 e 1736, e cerca de 85% deles eram mulheres.
O país não trata a perseguição como tabu, e até hoje é comum as autoridades escocesas pedirem desculpas pelo passado. "Foi uma injustiça em uma escala colossal, impulsionada pelo menos em parte pela misoginia em seu sentido mais literal, ódio às mulheres", disse, em um discurso de dia das mulheres, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon.
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