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Após 65 anos, explosão de disco voador em praia de Ubatuba ainda é mistério

Praia de Toninhas, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo - Getty Images/iStockphoto
Praia de Toninhas, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Reginaldo Pupo

Colaboração para Nossa

28/12/2022 04h00

A tranquilidade da bucólica praia das Toninhas, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo no início de tarde de 7 de setembro de 1957 foi interrompida por um burburinho entre os banhistas, que apontavam para algo estranho que repentinamente surgiu no céu e emanava uma luz intensa.

De acordo com relatos de testemunhas à época, o disco voador em altíssima velocidade estava prestes a se chocar com a água quando conseguiu realizar uma manobra brusca para cima, evitando o choque. Mas, inexplicavelmente, acabou explodindo em seguida. Após a explosão, vários estilhaços em chamas caíram sobre o mar e na areia da praia, próximo aos banhistas.

Alguns desses fragmentos foram recolhidos pelos populares, que relataram que o material era leve como papel, apesar do aspecto metálico.

Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise
Imagem: Arquivo pessoal

Em pouco tempo, o fato inusitado ganhou as manchetes dos jornais e revistas à época e chamou a atenção dos militares, que também recolheram amostras para pesquisas do que restou da explosão e, segundo ufólogos, tais análises continuam secretas até hoje.

Não há informações sobre se aquele objeto voava remotamente ou se era conduzido por algum tipo de tripulação. Também não há relatos sobre o surgimento de corpos ou algum vestígio de vida. Não há relatos sobre a localização do que teria restado da nave após a explosão, pois, segundo as testemunhas, ela teria se desintegrado por completo.

Um morador da praia das Toninhas que testemunhou a queda da nave enviou uma carta anônima para o jornal "O Globo", contando detalhes sobre o incidente. No envelope, endereçado ao colunista Ibrahim Sued, a testemunha colocou alguns dos fragmentos recolhidos na praia.

"Aqui, anexo uma pequena amostra do material, que não sei a quem devo confiar para análise", disse o autor da carta (Veja íntegra no pé da matéria).

Análises intrigantes

Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise
Imagem: Arquivo pessoal

A reportagem de "O Globo" sobre o caso em Ubatuba foi publicada em 14 de setembro de 1957, com base na carta enviada pelo morador. A notícia chamou a atenção do ufólogo Olavo Fontes, renomado investigador de OVNIs (Objetos Voadores Não-Identificados) à época. O colunista, que não teria acreditado na história, apesar de ter publicado o relato, repassou os fragmentos para o especialista.

Os fragmentos foram enviados pelo ufólogo para o então Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão do Ministério da Agricultura, sob responsabilidade da tecnologista química Luiza Maria Barbosa, que fez as primeiras análises.

Laudo do Ministério da Agricultura, à época, atestando a pureza dos fragmentos - Reprodução - Reprodução
Laudo do Ministério da Agricultura, à época, atestando a pureza dos fragmentos
Imagem: Reprodução

Em um laudo emitido em 24 de setembro daquele ano, a profissional atestou que os fragmentos tinham aspecto metálico, de cor cinza, baixa densidade e que pesavam, cada um, aproximadamente 0,6 grama. "A análise espectrográfica revelou a presença de magnésio (Mg) em alta concentração e ausência de qualquer outro elemento metálico", atestou a química, que era responsável pelo então Laboratório da Produção Mineral do Ministério da Agricultura.

Outros testes, realizados em 1970, demonstraram que o material sofreu uma "fusão solidificada unidirecional", uma espécie de mistura a frio, técnica impossível para a época. Uma observação adicional é que o magnésio é um material leve, resistente, mas também facilmente inflamável.

Diante dos resultados dos testes, chegou-se à conclusão de que os fragmentos foram fabricados, pois na natureza terrestre não existe magnésio com esta concentração de pureza, de 99,99%.

Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise
Imagem: Arquivo pessoal
Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fragmentos do disco voador que explodiu em Ubatuba, durante análise
Imagem: Arquivo pessoal

Mais dois exames foram feitos no Brasil a pedido do ufólogo. Outra parte dos fragmentos foi enviada para a APRO (Aerial Phenomena Research Organization), uma organização de pesquisa de fenômenos aéreos nos Estados Unidos, juntamente com os relatórios dos resultados obtidos anteriormente.

Ele também entregou um fragmento ao major Roberto Caminha, do Exército, e ao comandante José Geraldo Brandão, da Marinha, para que fossem analisados no âmbito militar. No entanto, ele nunca recebeu os resultados.

Em 1970, os engenheiros metalúrgicos Walter Walker e Robert Johnson, da Companhia Dow, dos Estados Unidos, analisaram um dos fragmentos, também a pedido de Fontes, e fizeram novas descobertas quanto à estrutura do material. As análises chegaram à mesma conclusão que a primeira.

Meteorito é descartado

Garry Nolan, pesquisador da Universidade de Stanford - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Garry Nolan, pesquisador da Universidade de Stanford
Imagem: Arquivo pessoal

Outros fragmentos chegaram às mãos de Garry Nolan, professor em patologia e que comanda um dos laboratórios da Universidade de Stanford (EUA). Há dez anos, ele analisa fragmentos coletados em incidentes com OVNIs, já publicou centenas de artigos científicos e até foi acionado pela CIA para analisar casos inexplicáveis e bizarros nos Estados Unidos.

Segundo Nolan, os fragmentos poderiam ser de um objeto semelhante a um meteorito, mas a suspeita logo foi descartada, pois, de acordo com ele, tratava-se de magnésio em alto grau de pureza, inexistente em nossa tabela periódica.

O fato da composição isotópica se apresentar diferente do magnésio terrestre é algo extraordinário, considerando que o Universo é composto dos mesmos elementos químicos constantes da tabela periódica", avalia Nolan.

Pesquisas continuam

Nos Estados Unidos, além da Universidade de Stanford e da Companhia Dow, a Nasa também avaliou o material.

Muitos dos fragmentos se perderam durante as pesquisas por vários institutos, empresas e universidades, pois precisaram ser incinerados para obter os resultados e algumas amostras acabaram, segundo os ufólogos, guardadas a sete chaves pelas autoridades militares brasileiras.

O ufólogo Edison Boaventura Junior mostra fragmentos da explosão em Ubatuba - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O ufólogo Edison Boaventura Junior mostra fragmentos da explosão em Ubatuba
Imagem: Arquivo pessoal

O ufólogo e pesquisador brasileiro Edison Boaventura Júnior, um dos especialistas no caso de Ubatuba, conta que em 2016 recebeu uma carta de uma pessoa que dizia ser filho de um militar do Exército. No envelope havia quatro fragmentos que seriam da explosão do disco voador.

Para certificar-se de que o material de fato tinha ligação com o incidente em Ubatuba, no ano seguinte, Boaventura encaminhou o material para análise qualitativa e quantitativa para o Laboratório de Caracterização Tecnológica da USP (Universidade de São Paulo), que também evidenciou a pureza do magnésio.

Dois anos depois, o ufólogo recebeu uma informação de que outros fragmentos estavam expostos no Museo OVNI, na Argentina, onde teve a oportunidade de ver e tocar o material, que faze parte daquele acervo.

O ufólogo Edison Boaventura Junior, no Museo OVNI, na Argentina, onde há mais fragmentos da explosão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O ufólogo Edison Boaventura Junior, no Museo OVNI, na Argentina, onde há mais fragmentos da explosão
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo Boaventura, o metal também foi analisado por especialistas em meteoritos metálicos que também descartaram completamente se tratar de detritos espaciais, levando em consideração a estrutura e a composição química das amostras.

Os quatro fragmentos que o ufólogo Edson Ventura recebeu por meio de carta anônima - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os quatro fragmentos que o ufólogo Edson Ventura recebeu por meio de carta anônima
Imagem: Arquivo pessoal

"A Ciência continua interessada nestes fragmentos, nestes metamateriais. Os militares brasileiros escondem a verdade sobre este incidente em Ubatuba. Uma coisa é certa, onde há fumaça, há fogo. Esperemos com paciência os próximos capítulos desta intrigante história ufológica", finalizou Boaventura.

Veja íntegra da carta, enviada ao colunista Ibrahim Sued, de "O Globo":

"Como leitor assíduo do jornal, quero proporcionar-lhes um verdadeiro furo jornalístico a respeito dos discos voadores, se é que acredita na existência deles. Até alguns dias atrás eu mesmo não acreditava. Mas enquanto pescava na companhia de vários amigos, em Ubatuba, vi um disco voador aproximando-se da praia numa velocidade incrível, prestes a chocar-se contra as águas, quando, num impulso fantástico, elevou-se rapidamente e explodiu. Atônitos, acompanhamos o espetáculo, de chamas e fragmentos que mais pareciam fogos de artifício. Esses pedaços caíram quase todos sobre o mar, mas muitos caíram perto da praia, o que facilitou o recolhimento de uma parte do material. Aqui, anexo uma pequena amostra do material, que não sei a quem devo confiar para análise. Nunca li artigos que relatassem sobre pedaços desprendidos de UFOs, a menos que as autoridades militares tenham também impedido essas publicações. Certo de que este assunto muito lhe interessará, mando-lhe duas cópias desta".