Bolinho de chuva, bolo e torta: as saborosas tradições do Dia de Reis
Para os cristãos, o dia 6 de janeiro é quase tão importante quanto o Natal — é nessa data, chamada Dia de Reis, Festa dos Santos Reis ou Epifania, que se celebra a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus.
Tradições do Dia de Reis
Tradição europeia trazida por imigrantes, o Dia de Reis mantém-se como uma festa religiosa das mais bonitas no interior do Brasil. Grupos folclóricos de Reisado, usando trajes coloridos, desfilam pelas ruas e vão de casa em casa levando música para celebrar sua fé.
Nos grandes centros, essa tradição se perdeu, mas o Dia de Reis continua sendo de festa: é quando se desmontam a árvore de Natal e o presépio e se saboreia um doce especial, que varia conforme o país de origem. Típico de Portugal e Espanha, o Bolo Rei, ou Roscón de Reyes, tem formato de rosca e cobertura enfeitada.
O desenho remete a uma coroa, com frutas secas e cristalizadas que lembram pedras preciosas.
Adriana Lira, da confeitaria Dona Doceira, em São Paulo.
A massa tradicional é preparada com fermento biológico e tem mais cara de pão do que de bolo. "Fica semelhante à massa de brioche", diz Adriana, que adota uma versão simplificada e mais rápida em sua loja, com fermento químico.
Uma surpresa para o rei
Já na França, famílias se reúnem para compartilhar a Galette des Rois — feita com massa folhada, ela recebe recheio de creme frangipane, à base de farinha de amêndoas e rum.
Todos esses doces têm um aspecto em comum: manda a tradição que um pequeno brinde seja escondido dentro da massa, e o sortudo que o encontra vira rei (ou rainha) por um dia.
No passado, se usava uma simples fava, mas o costume foi sendo incrementado e, hoje, é comum que o brinde seja uma pequena figura do presépio, em porcelana.
Francês de Toulouse, o padeiro e confeiteiro Pascal Abadie, proprietário da rede Jules L'art Du Pain, em São Paulo, conta que o ritual rende gostosas brincadeiras em família.
Escondemos uma imagem de porcelana na galette. Quem a encontra recebe uma coroa de papel dourado e pode mandar nos parentes ao longo do dia.
Pascal Abadie
Para evitar favorecimentos, a tarefa de fatiar o doce cabe ao membro mais velho, enquanto o mais jovem, que será encarregado de distribuir as fatias, se esconde embaixo da mesa. Ainda assim, ele admite, rola trapaça.
"Uma pesquisa do jornal Le Parisien constatou que 97% dos franceses seguem o ritual, mas 58% deles dão um jeitinho para que o brinde vá parar no prato de uma criança."
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Já os cristãos árabes têm uma forma bem diferente de celebrar o Dia de Reis. Esse é o dia em que, para relembrar o batismo de Jesus, eles preparam uma série de doces fritos, de diferentes formatos, como explica a historiadora Claire Boyle no portal Arab America:
Todos são mergulhados em xarope caseiro, referência ao mergulho de Cristo durante o batismo no Rio Jordão.
Claire Boyle
Uma dessas receitas lembra bastante o nosso bolinho de chuva — o Awamát, Auame ou Awwameh consiste em bolinhas de massa que, depois de fritas, ganham brilho na calda de açúcar com água de flor de laranjeira.
De tão saborosas, essas tradições nem sempre se limitam ao 6 de janeiro. Na França, diz Pascal, o ritual se repete em todos os fins de semana de janeiro. "Servimos a galette como sobremesa ou no café da tarde", finalizou.
*Texto original publicado em 06/01/2023.
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