Bolinho de chuva, bolo e torta: as saborosas tradições do Dia de Reis

Para os cristãos, o dia 6 de janeiro é quase tão importante quanto o Natal — é nessa data, chamada Dia de Reis, Festa dos Santos Reis ou Epifania, que se celebra a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus.

Tradições do Dia de Reis

Tradição europeia trazida por imigrantes, o Dia de Reis mantém-se como uma festa religiosa das mais bonitas no interior do Brasil. Grupos folclóricos de Reisado, usando trajes coloridos, desfilam pelas ruas e vão de casa em casa levando música para celebrar sua fé.

Nos grandes centros, essa tradição se perdeu, mas o Dia de Reis continua sendo de festa: é quando se desmontam a árvore de Natal e o presépio e se saboreia um doce especial, que varia conforme o país de origem. Típico de Portugal e Espanha, o Bolo Rei, ou Roscón de Reyes, tem formato de rosca e cobertura enfeitada.

O desenho remete a uma coroa, com frutas secas e cristalizadas que lembram pedras preciosas.
Adriana Lira, da confeitaria Dona Doceira, em São Paulo.

Roscon de Reyes, tradição da Espanha que no Brasil é conhecida como Bolo de Reis
Roscon de Reyes, tradição da Espanha que no Brasil é conhecida como Bolo de Reis Imagem: Getty Images/iStockphoto

A massa tradicional é preparada com fermento biológico e tem mais cara de pão do que de bolo. "Fica semelhante à massa de brioche", diz Adriana, que adota uma versão simplificada e mais rápida em sua loja, com fermento químico.

Uma surpresa para o rei

Galette des Rois, da Jules L'art Du Pain
Galette des Rois, da Jules L'art Du Pain Imagem: Divulgação

Já na França, famílias se reúnem para compartilhar a Galette des Rois — feita com massa folhada, ela recebe recheio de creme frangipane, à base de farinha de amêndoas e rum.

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Todos esses doces têm um aspecto em comum: manda a tradição que um pequeno brinde seja escondido dentro da massa, e o sortudo que o encontra vira rei (ou rainha) por um dia.

No passado, se usava uma simples fava, mas o costume foi sendo incrementado e, hoje, é comum que o brinde seja uma pequena figura do presépio, em porcelana.

Francês de Toulouse, o padeiro e confeiteiro Pascal Abadie, proprietário da rede Jules L'art Du Pain, em São Paulo, conta que o ritual rende gostosas brincadeiras em família.

Escondemos uma imagem de porcelana na galette. Quem a encontra recebe uma coroa de papel dourado e pode mandar nos parentes ao longo do dia.
Pascal Abadie

Para evitar favorecimentos, a tarefa de fatiar o doce cabe ao membro mais velho, enquanto o mais jovem, que será encarregado de distribuir as fatias, se esconde embaixo da mesa. Ainda assim, ele admite, rola trapaça.

"Uma pesquisa do jornal Le Parisien constatou que 97% dos franceses seguem o ritual, mas 58% deles dão um jeitinho para que o brinde vá parar no prato de uma criança."

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Até o Oriente

Já os cristãos árabes têm uma forma bem diferente de celebrar o Dia de Reis. Esse é o dia em que, para relembrar o batismo de Jesus, eles preparam uma série de doces fritos, de diferentes formatos, como explica a historiadora Claire Boyle no portal Arab America:

Todos são mergulhados em xarope caseiro, referência ao mergulho de Cristo durante o batismo no Rio Jordão.
Claire Boyle

Bolinho de chuva árabe faz referência à passagem bíblica
Bolinho de chuva árabe faz referência à passagem bíblica Imagem: Getty Images/iStockphoto

Uma dessas receitas lembra bastante o nosso bolinho de chuva — o Awamát, Auame ou Awwameh consiste em bolinhas de massa que, depois de fritas, ganham brilho na calda de açúcar com água de flor de laranjeira.

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De tão saborosas, essas tradições nem sempre se limitam ao 6 de janeiro. Na França, diz Pascal, o ritual se repete em todos os fins de semana de janeiro. "Servimos a galette como sobremesa ou no café da tarde", finalizou.

*Texto original publicado em 06/01/2023.

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