Só falta chegar na balada: no mundo e no Brasil, rum surge como o novo gim
Finda a edição em Londres do RumFest UK 2022, a maior celebração mundial em torno do destilado, Ian Burrell, CEO, fundador do evento (em 2007) e (título oficial) Global Rum Ambassador ("Embaixador Global do Rum"), era só contentamento.
Afinal, não só o grandioso encontro, onde se bebe e se vendem os melhores rums do mundo, voltou a ser presencial, como angariou estatísticas midiáticas impressionantes.
Não por acaso, em plena terra do gim, o RumFest UK tem influenciado o surgimento de congêneres mundo afora, nos EUA (Miami, Nova York, Chicago, São Francisco), Europa (Paris, Estocolmo, Praga), Ásia (Hong Kong) e Caribe (Ilhas Maurício).
O rum é o "novo gim"?
A julgar por sua rica complexidade sensorial de aromas e sabores, pode ser sim.
Burrell e um naipe de especialistas e produtores brasileiros bancam essa aposta. Após o tsunami mundial do gim da ultima década, chegou a hora e a vez do destilado obtido a partir do melaço de cana de açúcar cujas origens apontam para o século 17, e que começou a ser produzido como medicamento (!), antes de celebrizar-se como birita oficial de piratas e corsários (e isso não é fake news).
E não só produtores. Publicações especializadas como a bíblia "Drinks International", da Inglaterra, já há muito têm alertado sobre um trinômio que acreditam ser irreversível: consumo mundial nas alturas, ativado, claro, pela coquetelaria; qualidade e até sofisticação na produção, expressas na atual "onda" do rum premium, extra-premium e envelhecido; e, para fechar, salto de qualidade também na produção do rum branco, durante muito tempo considerado apenas um "primo pobre".
A alta atinge EUA, mercados europeus (Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Espanha) e ainda Austrália e Canadá. Na Europa, pela primeira vez nos últimos anos as vendas de rum premium superaram as do "queridinho" gim, em um crescimento estimado em 165%.
Mais: de olho no futuro, recentemente a Brown-Forman, gigante mundial de bebidas, "dona" de grifes do quilate de Jack Daniel's, adquiriu a peso de ouro de um grupo espanhol (Spain's Distillers United Group) o Diplomático, famosa marca de rum venezuelano. Já outra gigante do setor, a Diageo, é proprietária do lendário Zacapa, da Guatemala, tido como um dos melhores do planeta.
Todos esses indicadores expressam uma "troca de imagem": puxado pela coquetelaria, o rum, finalmente, está sendo levado a sério como um spirit de alta qualidade.
Também no Brasil
Por aqui, após o boom do gim nacional, e em que pese o obvio monopólio de marcas industriais (Montilla, Havana Club, Barcardí), rum não-industrial de alta qualidade tem surgido.
Ainda que em números modestos, não raro produtores de cachaça já diversificam seu portfólio investindo no novo filão (afinal, o alambique de produção é o mesmo). Em alguns casos, essa diversificação funciona como abre-alas para a cachaça, turbinando suas vendas.
"Acredito que é algo em progressão que pode vir a ser grande como o gim", afirma Joseph Van Sebroeck, produtor do rum Cavendish (e da cachaça Dona Filó). "Talvez não chegue ao mesmo status, mas está claro que o mercado vai crescer muito no Brasil, como já acontece na Europa e nos EUA".
Embora veja produtores de cachaça como ele já se movimentando, seu curioso parâmetro faz todo o sentido.
Falta o rum ser descoberto por novos públicos e chegar no camarote da balada, como o uísque e o gim".
Sócio-diretor da renomada cachaça gaúcha Weber Haus e, mais recentemente, do rum Señor Weber, o empresário Evandro Weber também é entusiasta. "As bebidas à base de cana logo terão o seu novo momento", aposta.
"Sempre participo de festivais internacionais e tenho visto muito rum de qualidade aparecendo, o que não era comum há não muito tempo atrás. Até porque ainda há muito trabalho a ser feito pelas grandes empresas que definem o que será boom no segmento de bebidas".
Estudioso do tema, o empresário Vicente Bastos Ribeiro, ex-consultor econômico da ONU em Nova York, é o produtor à frente da Fazenda Soledade (Nova Friburgo, RJ), que desde 1977 destila cachaças premiadas em festivais internacionais. Mais recentemente, também engarrafa o rum premium Soledade, nas versões branca e envelhecida (em ipê).
"O momento é do rum", afirma. "É algo que tem sido muito falado em festivais internacionais, que chegou o momento de o rum 'chegar junto'", brinca.
"Há uma alta maior até na Europa que nos EUA. Na Inglaterra e principalmente na França, que têm conexão histórica com o rum agrícola de suas ex-colônias. Também vejo grande potencial para o rum brasileiro", diz, afirmando que a maior parte de sua produção é exportada para a França.
Vale lembrar: rum não é cachaça
Como a vodca, o rum "não tem dono", não tem denominação de origem. E assim como a cachaça, divide a mesma "matriz" a cana-de-açúcar. Ambos não poderiam ser mais diferentes.
Enquanto a cachaça deriva da garapa, do caldo da cana fresco, o rum é um destilado obtido a partir do melaço, ou seja, do caldo cozido da cana. Enquanto o rum poder ser feito em qualquer latitude, cachaça, para levar esse nome, só no Brasil.
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