Pirâmides e piscinas naturais marcam Yucatán, a face desconhecida do México
O mar azul celeste com a areia branca do caribe mexicano já deve ter passado algumas vezes na tela do seu celular pelas redes sociais. Cancún, Playa del Carmen e Tulum se tornaram destinos-obsessão dos brasileiros.
Mas na mesma costa leste mexicana, um pouco mais para dentro do Golfo do México, há uma parte pouco conhecida (e explorada) da Península de Yucatán que tem atraído cada vez mais turistas de olho em um pouco mais de sossego.
Com mais de 3 mil cenotes (cavernas subterrâneas de águas profundas), uma riquíssima herança maia em construções e pirâmides e uma gastronomia ancestral, o estado de Yucatán tem despontado como destino no México.
Até porque, de praias silvestres à arquitetura colonial de arcadas espanholas, dos mercados ao ar livre aos museus históricos, há muito o que desbravar nessa região autêntica, ainda preservada de um processo de gentrificação.
Contra a gentrificação
Os locais, aliás, fazem o máximo para manter assim: que o turismo seja gradativo, evitando o modelo massivo que tomou as areias brancas e fofas não muito longe dali. "Queremos que as pessoas venham pela riqueza que temos, não pelo que pode ser transformado", diz Michelle Fridman.
O projeto de criar um trem ligando antigos caminhos maias, encabeçado pelo governo federal, tem sido rechaçado por isso: os moradores têm dúvida de que impacto turístico ele poderia trazer para a região. Há medo de um processo de "cancunização", como dizem.
Por enquanto, querem manter seus lugares interessantes e desconhecidos como interessantes e desconhecidos. Até, pelo menos, que cidades como Valladolid, uma antiga aldeia colonial de atmosfera cool, se transforme na nova Tulum.
Até lá, há muito o que aproveitar: o centro histórico da cidade de alma maia e influência espanhola ainda guarda o valor dos artesanatos autênticos (como os que estão à venda no Mercado de Artesanias), feitos por gerações.
O huipil maia (o vestido de algodão branco adornado com bordados coloridos e em formato de flores que é a vestimenta oficial das mulheres) está na maioria das barracas, assim como pequenas esculturas de figuras religiosas e pirâmides.
Pirâmides sagradas
Essa, aliás, é uma das principais razões de se visitar essa região mexicana: a mais famosa é a de Kukulcán, no sítio arqueológico de Chichén Itzá, construída em homenagem ao deus homônimo representado por uma serpente emplumada.
Nos últimos dias, a pirâmide ganhou a imprensa e as redes sociais quando um turista decidiu subir uma de suas quatro escadarias, algo proibido pelas autoridades locais.
Não longe dali, também, está a pirâmide do Adivinho, em Uxmal, com 40 metros de altura e inaugurada em 560 d.C. A construção chama atenção por suas formas arredondadas feitas com as enormes pedras de calcário carregadas sem ajuda de animais.
Gastronomia ancestral
Mas a tradição maia está muito além das construções: a gastronomia é um dos valores preservados até hoje. Na pequena Halachó, vilarejo no interior do estado, o chef Wilson Alonzo abriu o Yaaxche, um restaurante e centro etnogastronômico.
Mais que servir receitas típicas de seus ancestrais, como a cochinita pibil (porco marinado em achiote e cozido em um buraco feito no chão) e o xec (uma salada fresca com laranjas habaneros frescos, coentro e zapote), ele promove workshops e aulas para os interessados.
"É uma forma de difundir as nossas receitas, ao mesmo tempo que oferecemos uma maneira mais prática de quem nos visita conhecer profundamente nossa cultura", ele diz. Entre oficinas de culinária e visitas a mercados, Alonzo quer mostrar as sofisticadas técnicas de cozinha dos maias, como o cozimento com pedras quentes.
Por muito tempo, achou-se que nossa cozinha era menor. Mas meu trabalho aqui é apresentar toda a riqueza de uma população ancestral, que já cozinhava com muitos passos antes de ser colonizada.
A gastronomia, aliás, é um dos maiores atrativos de Yucatán: o estado acaba de sediar a edição latino-americana dos 50 Best, o prêmio mais importante da cena de restaurantes no mundo. A ideia é pegar os turistas pelo estômago.
Capital colonial
A celebração ocorreu em Mérida, a mais charmosa e interessante cidade da região, com sua arquitetura colonial, atmosfera de cidade do interior e clima de balneário — ainda que a praia mais próxima, Progresso, esteja a 40km de distância.
Mérida tem clima de férias: bares e restaurantes do centro histórico sempre cheios, ruas largas e arborizadas, boas lojas e cafés. Não a toa, é a principal escolha como sede para quem visita a região.
A estrutura hoteleira — e imobiliária — não para de crescer. Além de cadeias internacionais, empresários têm criado hotéis mais autêntico para atrair um público que procura estadias únicas.
É o caso do Wayam Mundo Imperial, que tenta trazer um pouco de natureza para dentro da construção com 52 suítes. Aproveitando a estrutura de um palacete colonial, é o primeiro hotel sustentável com certificação LEED da cidade.
De aulas de ioga a um restaurante de cozinha fresca e saudável (Cuna), é uma boa opção para quem quer aproveitar a cidade a pé. Longe 30 minutos dali, entretanto estão os quartos mais cobiçados da região.
Luxo e integração
O Chablé é uma espécie de resort natural de luxo em Chocholá, uma vila que foi construída onde um asteroide caiu há mais de 65 milhões de anos. Laureado pela salva natural que cresceu ali, o hotel é uma imersão na alma maia.
Por sua capacidade de integrar elementos da natureza com uma arquitetura arrojada e sustentável, o hotel ganhou o premio de hospedagem com a melhor arquitetura do mundo em 2017, pela Prix Versailles — concedido pela Unesco.
Cada uma das 38 habitações tem sua própria piscina e o SPA usa um cenote natural como fonte de água. Tudo construído para manter preservada ao máximo a natureza, integrando o turismo com o entorno. Uma meta perseguida em Yucatán, pelo menos até quando for possível.
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