Neste hotel você pode dormir em dois países ao mesmo tempo; conheça
Nos montanhas francesas — ou suíças, dependendo do seu referencial — está um hotel que guarda um pedaço da trajetória da Europa: este é o Arbez ou L'Arbezie, como também é chamado, uma acomodação única em que se pode dormir em dois países ao mesmo tempo.
O motivo por trás desta particularidade é um tratado de fronteiras ainda do século 19, além de uma série de perrengues históricos. O primeiro deles aconteceu em dezembro de 1862, quando Napoleão 3º da França decidiu remarcar a fronteira entre França e Suíça, que levaria à assinatura do Tratado de Dappes em fevereiro do ano seguinte.
Por causa da demora para o acordo, um sujeito chamado Ponthus, que teria sua terra dividida pelo novo documento, decidiu construir uma casa bem no meio da divisa e contra todas as orientações das autoridades suíças. O objetivo? Facilitar seu esquema de contrabando.
Como o tratado estabeleceu que nenhum direito ou negócio adquirido durante o processo de ratificação seria afetado pela mudança da fronteira, Ponthus pôde manter a casa. Então, ele divide o imóvel em dois: um bar do lado francês e um comércio do lado suíço — o que seria ideal para as atividades ilegais, segundo relatam os proprietários do hotel em seu site.
Ponthus morreria em 1895, mas os filhos herdaram o negócio e decidiram transformá-lo em um hotel. Posteriormente, em 1921, um deles, Jules-Joseph Arbez, batizou o local de "Hôtel Franco-Suisse" (ou Hotel Franco-Suíço), que passou a atrair interessados em esquiar na região.
No entanto, com a Segunda Guerra Mundial, o futuro Arbez se tornou um local de resistência. Justamente por causa da fronteira que passa pelo meio do hotel, ele não poderia ser totalmente ocupado pelos alemães que invadiram a França.
Segundo uma reportagem da CNN americana, foi assim que surgiu uma situação curiosa: nazistas podiam entrar no andar térreo, mas não podiam subir as escadas — que estavam em território suíço. Em 1940, Max Arbez, filho de Jules-Joseph, aproveitou a questão técnica para abrigar judeus, fugitivos e pilotos ingleses durante o conflito.
Junto a sua esposa Angèle, Max facilitou a fuga ou a passagem estratégica de centenas de homens e mulheres, o que lhe rendeu o agradecimento público do general Charles de Gaulle por atos de coragem, além do reconhecimento póstumo do Yad Vashem, Memorial Mundial do Holocausto em Israel, que o declarou "Justo Entre As Nações" pelas vidas de judeus salvos.
Com o fim da guerra, o Arbez reabriu ao público totalmente, enquanto a Suíça tentava novamente remarcar o território, sem sucesso. No fim, os dois países chegaram a um acordo: para os suíços, o hotel é francês; para os franceses, o hotel é suíço.
Brincando com a situação, Max Arbez posteriormente proclamou o hotel como principado de Arbézie em 1958 e o micro-país ganhou uma bandeira triangular, no formato do terreno e até um brasão, que hoje pode ser visto pelo hotel. Em 1962, este terreno "neutro" ainda acabou escolhido como local para serem assinados os Acordos de Évian, que deram fim à guerra entre França e Argélia.
O hotel segue fazendo história. Alexandre Peyron, gerente da casa cuja família trabalha lá há gerações, revelou à CNN que meses após o 11 de setembro recebeu a visita de membros de um órgão de segurança internacional, não identificado, que investigavam a possibilidade de que um agente operacional da Al-Qaeda tenha cruzado a fronteira se hospedando no Arbez.
Nem por isso, a natureza do hotel mudou, com o marco divisório no quintal. Alguns quartos permanecem binacionais porque estão localizados bem sobre a divisa, como é o caso do número 9, o que rendeu à gerência ter que decidir quais medidas sanitárias — francesas ou suíças — aplicariam durante a covid-19. Segundo Peyron, eles optavam pelas mais rígidas, para não gerar violação.
A casa também continua tendo sua brasserie, isto é, um restaurante de cardápio franco-suíço que tem como especialidade o seu fondue. O queijo, aliás, é um dos grandes atrativos da sua região, além dos passeios de barco pelos lagos ao seu redor e o esqui nas estações ao redor do Arbez.
Para se hospedar na propriedade histórica, não é preciso desembolsar fortunas. Há pacotes que contemplam toda a família. Um quarto para uma ou duas pessoas, por exemplo, custa 89 euros (R$ 502,40) por dia. Já o quarto para três sai por 109 euros ou R$ 615,30.
Por fim, uma acomodação para quatro pessoas, sendo dois adultos e duas crianças, tem diária de 129 euros ou R$ 728,20. Reservas ou informações de orçamentos e serviços podem ser obtidos no site do Hotel Arbez.
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