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Além de chardonnay e sauvignon blanc: vinhos brancos para sair da mesmice

Vinho branco não precisa ser sempre igual. Conheça algumas variedades para estimular o paladar - Getty Images/iStockphoto
Vinho branco não precisa ser sempre igual. Conheça algumas variedades para estimular o paladar
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Sergio Crusco

Colaboração para Nossa

27/01/2023 04h00

Chardonnay, sauvignon blanc e a outrora desconhecida torrontés, que se deu bem em terras argentinas e já virou moda no Brasil, estão sempre nas bocas. É quase certeza de que você já tenha provado algum vinho branco feito com essas uvas. Ou mesmo bebido litros e litros deles.

Nada errado em gostar de uvas que ganharam popularidade mundial, só que a quantidade absurda de experiências que podemos ter quando se pensa em vinho não pode ficar restrita a duas ou três castas.

Para quem também acredita que "vinho é só tinto", é bom lembrar que os brancos também oferecem possibilidades sensoriais infinitas e são os que mais combinam com nosso clima tropical.

A quem não quer ficar no samba de uma uva só, sommelier e consultor Adiu Bastos, fanático por uvas raras e a reportagem de Nossa fizeram uma seleção de castas brancas diferentonas ou pouco conhecidas, mas que são facilmente encontradas por aí.

Gewürztraminer

Gewürztraminer: uma das opções para sair da mesmice em vinhos brancos - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Gewürztraminer: uma das opções para sair da mesmice em vinhos brancos
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Geralmente, este vinho traz aromas de lichia, manga, rosas, grapefruit. "São vinhos bastante perfumados e agradam bastante os brasileiros, que têm uma queda por bebidas aromáticas. Nesse sentido, é uma uva bem sedutora", diz Adiu Bastos.

Sua acidez comedida nos faz ter a sensação de que determinados vinhos são mais adocicados — outro ponto positivo para o bico doce brasileiro. Essa característica torna fácil a harmonização com pratos condimentados das culinárias orientais ou da cozinha brasileira.

O que provar: o Vinho Velho do Museu Branco (Magazine Luiza) é, segundo Adiu, uma das melhores expressões da gewürztraminer no Brasil. Produzido pelo Atelier Carrau com uvas cultivadas na Campanha Gaúcha, tem acidez mais elevada, o que garante tempo de guarda e evolução.

Outros bons exemplares da gewürz são o francês Famille Hugel Classic Gewürztraminer (World Wine), o argentino Luigi Bosca Gewürztraminer Granos Nobles (Decanter) e o brasileiro Casa Valduga Terroir Gewürztraminer (Famiglia Valduga).

Macabeo ou viura

Macabeo é uva espanhola de vinhos fáceis de beber - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Macabeo é uva espanhola de vinhos fáceis de beber
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Dependendo da região, esta uva passeia por vários terroirs da Espanha com grande versatilidade. O resultado geralmente é fresco, fluido, com ótima acidez e fácil de beber. Traz notas de casca de limão, melão e muitos toques herbais no nariz. Na boca os aromas se repetem e ainda vêm com frutas polpudas como pera e damasco. Envelhecida em madeira, a macabeo ganha abaunilhado.

A casta ainda está bastante restrita ao seu território de origem, por isso é bom investir em rótulos espanhóis. Na companhia das uvas Parrellada e Xarel.lo, ela também entra na composição dos cavas, os espumantes típicos da Catalunha.

O que provar: Adiu indica Parajes del Valle Macabeo (Wine & Co.), da região de Manchuela. É fruto de agricultura orgânica e vinificado com leveduras selvagens. Traz fruta madura (maçã, pêssego), nozes e amêndoas, em contraste com a elevada acidez.

La Muela Macabeo (Grand Cru), Microcósmico Macabeo Valdejalon (Cellar Vinhos), Algairen Macabeo (Grand Cru) e Navaldar Bodegas D Mateus Rioja Viura (Taninos Wine Store) são outras boas opções.

Viognier

Viognier, a nova queridinha do pedaço - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Viognier, a nova queridinha do pedaço
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Bastante aromática, esta é outra uva que, de acordo com Adiu Bastos, tem tudo a ver com o perfil do paladar brasileiro. O crescente número de rótulos nacionais elaborados com esta cepa, típica do sul da França, confirma seu status de nova queridinha do pedaço.

Ela traz bastante fruta (manga, pêssego), cascas de cítricos e uma explosão de aromas florais no nariz. Na boca, sua acidez normalmente não é pronunciada e, por isso, pode desagradar a quem busca vinhos mais vibrantes nesse quesito.

Seu par perfeito são os queijos franceses de massa mole, como o brie, ou adocicados, como o gruyère. É boa companhia para o fondue.

O que provar: da América do Sul, Adiu cita o uruguaio Overground Viognier (Vinci Vinhos) como uma das decisões mais acertadas, pela tipicidade que o enólogo Gabriel Pisano, da Viña Progreso, consegue extrair das frutas.

Do Brasil, Amitié Viognier (Amitié), com quatro meses de passagem por carvalho. Do Chile, Casa Silva Terroir de Familia Viñedo de la Costa Viognier (Vinhos do Mundo Store). Da região de Roussillon, na França, Les Fleurs Sauvages Viognier Pays d'Oc IGP (Zahil).

Riesling

Riesling teve fama injusta no Brasil - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Riesling teve fama injusta no Brasil
Imagem: Getty Images/iStockphoto

A riesling, coitada, passou por um período de pouco prestígio aqui no Brasil, por conta da má fama dos xaroposos vinhos alemães da garrafa azul. Na verdade, os liebefarumilch são misturas de riesling com outras uvas menos nobres.

Nada contra blends, mas provar um riesling de verdade é uma das experiências mais intensas que se possa ter no mundo dos brancos. "São vinhos de acidez cortante, eletrizante, de muita mineralidade e salinidade, além de uma fruta encantadora", ensina Adiu.

Embora seja cultivada ao redor do mundo, é difícil encontrar exemplares com a mesma tipicidade dos alemães ou da Alsácia, na França — a salada de frutas de aromas (limão, abacaxi, pera, maçã, limão, damasco), aliada à acidez e ao cherinho chamado pelos especialistas de petrolado (lembra plástico).

Dica: se não quiser rieslings doces (sim, eles existem e podem ser maravilhosos), procure no rótulo a palavra "trocken", que quer dizer "seco". Outra: a casta riesling itálico, popular no Brasil, às vezes vem descrita como Riesling no rótulo, mas trata-se de outra uva. Pegadinha.

O que provar: Pfaffmann Riesling Trocken (Weinkeller) é uma ótima oportunidade para entrar no mundo do Riesling alemão na base do bom custo-benefício: a garrafa tem um litro e entrega todas as características típicas da casta.

Alguns Rieslings mais complexos são Wittmann Niersteiner Riesling Trocken Premier Cru VDP (Weinkeller), Eugen Müller Riesling Trocken Charisma (Decanter) e o alsaciano Albert Boxler Riesling Reserva (Cellar Vinhos). Do Chile, Adiu indica Casa Marin Riesling Miramar (Rootstock Vinhos) como bom exemplar nascido fora do território europeu.

Vinhos Verdes

Vinhos verdes têm tudo a ver com o clima e o paladar brasileiro - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Vinhos verdes têm tudo a ver com o clima e o paladar brasileiro
Imagem: Getty Images/iStockphoto

A região dos Vinhos Verdes, no norte de Portugal, é um buquê de uvas brancas interessantes, que têm em comum a acidez exuberante e grande potencial aromático. Combinam perfeitamente com o clima brasileiro e com nossa gastronomia, incluindo os pratos mais apimentados.

As uvas mais importantes do pedaço são loureiro, avesso e alavrinho. Loureiro é a mais ácida e refrescante, com toques herbais e de frutas tropicais pronunciados. Avesso traz frutas mais maduras, nozes e a mesma acidez solar. Alvarinho é mais encorpada, frutada e, em geral, de acidez mais comportada.

Elas aparecem em vinhos monovarietais ou em cortes, acompanhadas de outras cepas brancas como azal, trajadura, arinto. Como ponto positivo, há uma grande variedade de estilos e de preços de vinhos verdes no mercado, desde os rótulos mais ligeiros até grandes vinhos de guarda.

O que provar: os vinhos de alvarinho dos produtores Anselmo Mendes e Quinta do Soalheiro são exemplos nobres da casta. Invista em Anselmo Mendes Muros Antigos Alvarinho (Decanter) ou em Soalheiro Alvarinho (Mistral).

Da uva loureiro, procure provar Aphros Loureiro (Wine Lovers), Quinta do Ameal Loureiro (Qualimpor) ou Adega Ponte de Lima Loureiro (Pão de Açúcar). Da uva Avesso, Covela Avesso (Sonoma) e ABCDarium Avesso (Casa Santa Luzia) são ótimos exemplares.

Por fim, vale prestar atenção nos alavrinhos bacanas que apareceram na América do Sul nos últimos anos, sobretudo no Uruguai e no Brasil. Garzón Reserva Albariño (World Wine), Guahyba Revolução Branco (Guahyba Estate Wines) e Hermann Alvarinho Matiz (Decanter) são boas pedidas.

Moscato de Alexandria

Moscatel de Alexandria - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Moscatel de Alexandria
Imagem: Getty Images/iStockphoto

A moscato de Alexandria é outra uva bem aromática, "uma guirlanda de flores e frutas tropicais", no dizer do sommelier.

Tangerina, raspas de laranja, lichia, pêssego, mel, rosa e flores brancas são algumas notas de aroma desta uva que faz parte da grande família das moscatéis. É comum encontrar vinhos doces elaborados com ela, que origina excelentes bebidas secas também, inclusive espumantes.

O que provar: o vinho Cacique Maravilla Naranja (Boutique do Vinho Artesanal), seco e cítrico, é indicado pelo especialista como uma grande expressão da Moscatel de Alexandria no Chile. Vinhos laranjas são macerados com as cascas das uvas brancas e ganham a cor âmbar.

Tinaja Moscatel (Domínio Cassis) é outro laranja que vale a prova. No Brasil, temos os brancos Cristofoli Moscato de Alexandria (Cristofoli) e Valparaiso Vitale Moscato de Alexandria (The Blend Wines).

Assyrtiko

O vinho grego Lyrarakis Voila Assyrtiko PGI 2018 - David Silverman/Getty Images - David Silverman/Getty Images
O vinho grego Lyrarakis Voila Assyrtiko PGI 2018
Imagem: David Silverman/Getty Images

Quem manja de vinho grego abre um sorriso de satisfação ao ouvir a palavra assyrtiko, uva branca mais célebre do país.

Os aromas e sabores cítricos, a alta acidez, os toques florais (flor-de-laranjeira e jasmim), de cera de abelha e a leve picância de gengibre no paladar estão mais próximos de nós, uma vez que o interesse pelos vinhos gregos têm crescido no Brasil, com novas importações.

Essas características casam com nosso clima tropical, fazendo dos vinhos de assyrtiko uma boa companhia para comidas do mar e de rio da nossa gastronomia, dos camarões de lagoa de Santa Catarina aos gordurosos peixes de rio amazônicos.

O que provar: Estate Argyros Santorini Cuvee Mosinori (Monter Dictis) é um dos grandes exemplares de Assyrtiko importados para o Brasil. Tem grande capacidade de guarda, avaliada em cerca de 15 anos.

Monograph Assyrtiko (Mistral), Lyrarakis Vóila Assyrtiko IGP Crete (Monte Dictis) e Thalassitis Gaía (Mistral) são outras opções.

Encruzado

Encruzado, uva do Dão que merece sua atenção - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Encruzado, uva do Dão que merece sua atenção
Imagem: Getty Images/iStockphoto

A encruzado está longe de ser um fenômeno de popularidade mundial, mas quem sabe das coisas tem essa uva típica da região do Dão em alta conta. Dela são feitos alguns dos vinhos brancos mais delicados e elegantes de Portugal.

Limão, ervas, pêssego, damasco e melão estão entre seus aromas mais evidentes. Próprios para o envelhecimento em madeira, por causa da boa acidez, os vinhos de encruzado ganham notas de nozes e também pode surgir o aroma petrolado (cheirinho de plástico) no buquê.

O que provar: Vinha dos Amores Encruzado (Zatto Market), da Casa de Santar, é um dos grandes exemplares de Encruzado disponíveis no Brasil. A passagem de 12 meses por carvalho francês aporta notas tostadas e de baunilha.

Prove também Quinta dos Carvalhais Encruzado 2018 (Zahil), Casa da Passarella O Enólogo Encruzado (Premium Wines), Pedra Cancela Vinha da Fidalga Encruzado (Total Vinhos), Quinta da Falorca Encruzado (World Wine) e Ribeiro Santo Encruzado (Woods Wine).