Corpos em evidência, bichos, festa: o que fica da Semana de Alta-Costura
Há tempos não se via uma Semana de Alta Costura que atraísse tantas atenções para além da bolha fashionista como a que acabou nesta quinta (26), em Paris.
Logo na abertura, as cabeças ultra realistas de animais por Schiaparelli permearam as redes, em interpretações diversas e com a pressa própria da internet em logo proferir opiniões.
A mesma pressa que não conversa com a avaliação mais minuciosa necessária da alta-costura. A moda, nesse período, é bem menos literal e tão mais sobre processos, possibilidades, sonhos e reflexões do que um textão na timeline.
Mas, para além do caos do Inferno de Dante, Paris se mostrou atenta e pé no chão para os tempos contemporâneos.
Aparições, ainda que tímidas, de outros corpos além dos magérrimos. Passarelas minimalistas, com destaque para as peças e não tanto para os cenários mega elaborados.
O escapismo urgente traduzido tanto em slip dresses e o desejo sonhar no conforto de casa bem como no extremo oposto de uma noite intensa de festa e curtição como num grande Carnaval de Armani ou até rasgar a meia, como em Valentino.
Os tempos são outros, a moda também será.
É possível pensar em um corpo mais confortável de ser quem se é — longe, ainda bem longe, do ideal.
Seja à mostra em sua sensualidade de Mugler, seja na ausência de saltos nas botas de Chanel, bem como as bermudas e comprimentos médios dos looks, ou até na máxima "o vestido é meu e eu uso como eu quiser" de Viktor and Rolf, mesmo que isso signifique usá-lo de cabeça para baixo.
Mesmo em Dior, tão rígida em outros tempos, houve espaço para um corpo mais fluido.
O que fica da semana
Ainda que a ideia de tendência seja levemente ultrapassada, é possível reunir interpretações do tempo confluindo entre as grifes.
Os bichos e as flores
Ok, não precisa ser um grande especialista de moda para compreender que, sim, temáticas da fauna e flora estarão em alta. É preciso voltar os olhares à natureza.
Schiaparelli deixou bem evidente, numa leitura literal, porém outras marcas carregaram suas interpretações do ecossistema. Chanel trouxe os florais bordados em surpreendentes slip dresses e Dior com um longo casaco com aspecto de folhagens à la expressionismo de Van Gogh.
A vida é uma festa
Se estamos falando de alta costura, é claro que queremos altas doses de glamour. E nada mais efetivo para dar esse tom do que um bom brilho. Além disso, após anos de reclusão, o desejo de cair na noite e celebrar a vida é latente.
Valentino é mestre em traduzir esse olhar, com decotes, brilhos e franjas que dançam junto com o corpo. Juntamente a outras construções com laçarotes, neon e mangas bufantes, quase pronto para um grande e luxuoso Carnaval.
Nessa festa momina, inclusive, Armani Privé também entra em sua interpretação de um arlequim sofisticado. Ou ainda o look preto de Schiaparelli com forma de ampulheta em vidrilhos com cara de dancefloor, bem como o longo de vidrilhos com perfume 1920 de Dior.
Já Gaultier criou o próprio brilho sem usar nem uma lantejoula, causando a sensação de luz utilizando milhares de agulhas, como no macacão lavanda.
Recortes e decotes
Não seria Mugler se não falássemos dos recortes inusitados de suas peças utilizadas por 10 das 10 musas pop do mundo. Nesta temporada, o sexy sem ser medo de ser sexy seguiu como proposta da grife em couro, renda, transparências e brilho.
Mas a pele à mostra também surge em Schiaparelli, Valentino, Dior e nos vestidos fluidos de Fendi, que mais pareciam uma camisola caindo e revelando, não tão acidentalmente, o que há por baixo dela. Há espaço para a ultra sensualidade junto a quase recatada.
Mãos que fazem história
O feito à mão é o ponto base da alta-costura. A manufatura, a habilidade única, o tempo de produção? tudo nesse sentido é hipervalorizado quando se fala do mais alto patamar da moda.
Portanto, observar peças como o bolero bordado de pérolas de Schiaparelli, o tomara que caia rendado de Fendi ou todas as aplicações em Chanel, bem como as agulhas de Gaultier, é rememorar o valor daquilo que é produzido pelas mãos que contam as histórias do que se veste.
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