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Corpos em evidência, bichos, festa: o que fica da Semana de Alta-Costura

Desfile da Mugler na Semana de Alta-Costura de Paris Primavera/Verão 2023 - JULIEN DE ROSA / AFP
Desfile da Mugler na Semana de Alta-Costura de Paris Primavera/Verão 2023
Imagem: JULIEN DE ROSA / AFP

Gabi Dourado

Colaboração para Nossa, de Fortaleza

28/01/2023 04h00

Há tempos não se via uma Semana de Alta Costura que atraísse tantas atenções para além da bolha fashionista como a que acabou nesta quinta (26), em Paris.

Logo na abertura, as cabeças ultra realistas de animais por Schiaparelli permearam as redes, em interpretações diversas e com a pressa própria da internet em logo proferir opiniões.

A mesma pressa que não conversa com a avaliação mais minuciosa necessária da alta-costura. A moda, nesse período, é bem menos literal e tão mais sobre processos, possibilidades, sonhos e reflexões do que um textão na timeline.

Kyle Jenner de Schiaparelli - Arnold Jerocki/Getty Images - Arnold Jerocki/Getty Images
Kyle Jenner de Schiaparelli
Imagem: Arnold Jerocki/Getty Images
Doja Cat de Schiaparelli - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Doja Cat de Schiaparelli
Imagem: Reprodução/Instagram

Mas, para além do caos do Inferno de Dante, Paris se mostrou atenta e pé no chão para os tempos contemporâneos.

Aparições, ainda que tímidas, de outros corpos além dos magérrimos. Passarelas minimalistas, com destaque para as peças e não tanto para os cenários mega elaborados.

Paloma Elsesser no desfile da Mugler - Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images - Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images
Paloma Elsesser no desfile da Mugler
Imagem: Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images

O escapismo urgente traduzido tanto em slip dresses e o desejo sonhar no conforto de casa bem como no extremo oposto de uma noite intensa de festa e curtição como num grande Carnaval de Armani ou até rasgar a meia, como em Valentino.

Os tempos são outros, a moda também será.

É possível pensar em um corpo mais confortável de ser quem se é — longe, ainda bem longe, do ideal.

Viktor & Rolf, na Semana de Alta-Costura de Paris - Peter White/Getty Images - Peter White/Getty Images
Viktor & Rolf, na Semana de Alta-Costura de Paris
Imagem: Peter White/Getty Images

Seja à mostra em sua sensualidade de Mugler, seja na ausência de saltos nas botas de Chanel, bem como as bermudas e comprimentos médios dos looks, ou até na máxima "o vestido é meu e eu uso como eu quiser" de Viktor and Rolf, mesmo que isso signifique usá-lo de cabeça para baixo.

Mesmo em Dior, tão rígida em outros tempos, houve espaço para um corpo mais fluido.

O que fica da semana

Ainda que a ideia de tendência seja levemente ultrapassada, é possível reunir interpretações do tempo confluindo entre as grifes.

Os bichos e as flores

Ok, não precisa ser um grande especialista de moda para compreender que, sim, temáticas da fauna e flora estarão em alta. É preciso voltar os olhares à natureza.

Chanel, na Semana de Alta-Costura de Paris - Estrop/Getty Images - Estrop/Getty Images
Chanel, na Semana de Alta-Costura de Paris
Imagem: Estrop/Getty Images
Christian Dior, na Semana de Alta-Costura de Paris - Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images - Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images
Christian Dior, na Semana de Alta-Costura de Paris
Imagem: Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images

Schiaparelli deixou bem evidente, numa leitura literal, porém outras marcas carregaram suas interpretações do ecossistema. Chanel trouxe os florais bordados em surpreendentes slip dresses e Dior com um longo casaco com aspecto de folhagens à la expressionismo de Van Gogh.

A vida é uma festa

Se estamos falando de alta costura, é claro que queremos altas doses de glamour. E nada mais efetivo para dar esse tom do que um bom brilho. Além disso, após anos de reclusão, o desejo de cair na noite e celebrar a vida é latente.

Valentino é mestre em traduzir esse olhar, com decotes, brilhos e franjas que dançam junto com o corpo. Juntamente a outras construções com laçarotes, neon e mangas bufantes, quase pronto para um grande e luxuoso Carnaval.

Desfile da Valentino na Semana de Alta-Costura de Paris Primavera/Verão 2023 - JULIEN DE ROSA / AFP - JULIEN DE ROSA / AFP
Desfile da Valentino na Semana de Alta-Costura de Paris Primavera/Verão 2023
Imagem: JULIEN DE ROSA / AFP

Nessa festa momina, inclusive, Armani Privé também entra em sua interpretação de um arlequim sofisticado. Ou ainda o look preto de Schiaparelli com forma de ampulheta em vidrilhos com cara de dancefloor, bem como o longo de vidrilhos com perfume 1920 de Dior.

Já Gaultier criou o próprio brilho sem usar nem uma lantejoula, causando a sensação de luz utilizando milhares de agulhas, como no macacão lavanda.

Recortes e decotes

Não seria Mugler se não falássemos dos recortes inusitados de suas peças utilizadas por 10 das 10 musas pop do mundo. Nesta temporada, o sexy sem ser medo de ser sexy seguiu como proposta da grife em couro, renda, transparências e brilho.

Fendi, na Semana de Alta-Costura de Paris - Vittorio Zunino Celotto/Getty Images - Vittorio Zunino Celotto/Getty Images
Fendi, na Semana de Alta-Costura de Paris
Imagem: Vittorio Zunino Celotto/Getty Images

Mas a pele à mostra também surge em Schiaparelli, Valentino, Dior e nos vestidos fluidos de Fendi, que mais pareciam uma camisola caindo e revelando, não tão acidentalmente, o que há por baixo dela. Há espaço para a ultra sensualidade junto a quase recatada.

Mãos que fazem história

O feito à mão é o ponto base da alta-costura. A manufatura, a habilidade única, o tempo de produção? tudo nesse sentido é hipervalorizado quando se fala do mais alto patamar da moda.

Desfile de Jean Paul Gaultier na Semana de Alta-Costura de Paris Primavera/Verão 2023 - Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images - Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images
Desfile de Jean Paul Gaultier na Semana de Alta-Costura de Paris Primavera/Verão 2023
Imagem: Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images

Portanto, observar peças como o bolero bordado de pérolas de Schiaparelli, o tomara que caia rendado de Fendi ou todas as aplicações em Chanel, bem como as agulhas de Gaultier, é rememorar o valor daquilo que é produzido pelas mãos que contam as histórias do que se veste.