Turistas participam de caçada a cogumelos em meio a floresta gaúcha
Cada passo é dado com cuidado na floresta de Pinus em São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha. Munidos de cestas de vime, os turistas mantêm o olhar atento ao chão, tomado por folhas secas, em busca dos cogumelos.
Pequenas elevações na forração de folhas podem ser um indício da existência de um cogumelo. E procurar nas bordas da floresta ajuda na busca, recomenda o biólogo Jeferson Timm, que acompanha e passa orientações aos visitantes durante o passeio. Uma delas é saber identificar as espécies.
A caçada de cogumelos é promovida há seis anos pelo Parador Hampel, do chef Marcos Livi, ponto de partida da "expedição". Os passeios ocorrem aos domingos, com início às 9h30, entre maio e junho, meses propícios para o crescimento dos fungos devido à umidade e temperaturas amenas.
Dali, o grupo parte de carro à mata para a caçada que dura o dia todo e percorre três áreas diferentes: o Parque Natural Municipal da Ronda, uma propriedade particular parceira do Hampel e o entorno do próprio hotel.
Como saber se é comestível ou não?
Timm explica que não há uma característica específica que ajude a identificar se o cogumelo é próprio para consumo ou não. A recomendação dele é conhecer as espécies comestíveis e, caso haja dúvida, não ingeri-las. Porém, algumas espécies tóxicas são mais fáceis de reconhecer.
Conhecido popularmente como "pum de veia", o cogumelo escleroderma tem formato de bola do tamanho de um limão que, quando apertada, solta um vapor acinzentado.
Também não é difícil identificar o Porcini, apreciado na gastronomia. O píleo, como é chamado o "chapéu" dos cogumelos, tem tonalidade amarronzada. Já o estipe — o caule do fungo — é grosso e esbranquiçado. Durante a caçada, o biólogo fatiou um Porcini e distribuiu para quem estava a sua volta. In natura, lembra nozes.
Na natureza, não é difícil encontrar exemplares deste tipo de 1 quilo a 2 quilos — o quilo pode chegar a R$ 200.
O casal de administradores Daiane Boff e João Ricardo Kist, 37 anos, não demorou muito para encher a cesta com Porcini, desconhecidos por eles até então. Coletaram cerca de 20 cogumelos deste tipo.
Em casa, depois da caçada, usaram o ingrediente das mais diferentes formas: picado na manteiga, com massa, no omelete e assado com carne. "E ainda tem uma porção congelada esperando para fazer um creme", conta Daiane, nove dias após a caçada.
Para o casal de Porto Alegre, a caçada permitiu um contato diferente com a comida. "Foi uma experiência única, muito interessante. O ato de coletar alimento, ainda mais algo tão saboroso, é muito diferente do que estamos habituados", diz João.
"[Foi] Um conhecimento novo que trará uma mudança nos nossos costumes. Sempre que avistarmos o ambiente que o cogumelo pode crescer, vamos procurá-lo", acrescenta Daiane.
Cogumelo não pode ser lavado
Após ser retirado, a orientação é limpar com uma faca a base que fica em contato com o solo, já que o cogumelo não pode ser lavado (o que não vale para os desidratados). Ao se fazer isso, evita-se que a terra "suje" as outras partes do cogumelo.
A uruguaia Victoria Glumcher, 64, que possui uma pousada em Lindolfo Collor, a cerca de 100 quilômetros dali decidiu participar da caçada para saber identificar as espécies e, quem sabe, montar um passeio parecido em sua propriedade, inicialmente para amigos.
Victoria não coletou muitos cogumelos, mas a amiga dela, a biológa Ana Claudia Pereira, 38, aceitou dividir com ela. "Hoje preparei os últimos cogumelos. Achei a caçada uma experiência muito interessante e enriquecedora, diferente de tudo que já fiz até agora", conta a aposentada.
O idealizador da caçada
Chef de cozinha Marcos Livi percebeu um potencial mal explorado e decidiu lançar caçada aos cogumelos.
"Todo mundo vinha para cá, os chefes, os extrativistas e daqui a pouco começo a olhar nas redes sociais vendendo Porcini por R$ 100 o quilo, R$ 150, a R$ 80. E eu digo, 'mas de onde está saindo esse Porcini?' E o morador local e os donos das propriedades nem sabiam do que se tratava."
"Eu acho que nós vamos ter atingido nosso objetivo quando aquele mesmo cara que vende pinhão na beira da estrada estiver vendendo cogumelo", diz chefe de cozinha Marcos Livi.
A caçada custa R$ 480 por pessoa. Além da caçada e da aula teórica, o valor inclui almoço com diferentes tipos de carnes, saladas e sobremesas — o churros é divino. Uma sala é reservada para os participantes do passeio, onde são preparadas receitas com cogumelos, mas também podem fazer a refeição em área aberta.
O ponto de partida da caçada é no Parador Hampel, a cerca de 5 quilômetros do Centro de São Francisco de Paula. A cidade fica a 120 quilômetros de Porto Alegre e 44,5 quilômetros de Gramado.
Quem vem de outras partes do Brasil — ou do mundo — pode desembarcar no Aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha, e seguir viagem de carro, ônibus ou até de bicicleta.
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