Brasil tem mais de um caso de passageiro indisciplinado por dia, diz estudo
Confusões como a do voo da Gol que, antes mesmo de partir de Salvador rumo a São Paulo na quinta (2), acabou em agressão física, retirada de 15 passageiros do avião e atraso de uma hora na chegada a Congonhas, são mais comuns do que se imagina: mais de um caso, em média, acontece todos os dias no Brasil.
A conclusão é de um levantamento da Abear (Associação Brasileira de Empresas Aéreas) divulgado na segunda (6), que levou em consideração incidentes com passageiros indisciplinados registrados entre 2019 e 2022. Somente no último ano, foram 585 ocorrências, um recorde dos últimos quatro anos.
Em 2019, antes da pandemia, este número era significativamente menor: 304 incidentes. Em 2020, os casos — assim como os voos — diminuíram bastante e 222 ocorrências foram registradas. Em 2021, o número voltou a crescer e já superava o período pré-pandemia com 434 incidentes. Na média do período de quatro anos, foram 386,2 registros por ano, isto é, pouco mais do que um por dia.
No ano passado, 9% de todos os casos envolveram agressões físicas leves ou violentas (um aumento de 2% em relação a 2021). 36% das agressões aconteceram durante o voo e 64% ainda em solo, como foi o caso da Gol. Do total de casos violentos dos últimos quatro anos, 42% aconteceram no solo, 32% na aeronave — antes de levantar voo ou desembarcar — e 26% durante o voo.
Esses dados trazem à tona um problema que tem preocupado empresas aéreas, autoridades aeronáuticas e aeroportos em todo o mundo, pois os casos vêm crescendo assustadoramente e geram impactos negativos em toda a cadeia do transporte aéreo."
Explica o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz.
Isto porque, segundo Sanovicz, briga ou desordem durante apenas um voo gera um "efeito dominó", que não afeta apenas os passageiros daquele voo, como atrasa os seguintes, impacta o tráfego aéreo e o gerenciamento de pilotos e comissários no atendimento ao público.
Agressões e ameaças vêm crescendo
O estudo da associação ainda analisa e classifica a gravidade do comportamento do passageiro em três níveis:
Categoria 1: afeta a segurança, higiene ou a boa ordem nos processos de check-in e embarque ou gera transtornos menores a bordo da aeronave, mas que podem ser rapidamente controlados por um funcionário ou tripulante da empresa. Não há intervenção da autoridade policial. Este tipo de comportamento correspondeu a 28% dos casos em 2021 e a 39% em 2022.
Categoria 2: afeta a segurança, higiene ou a boa ordem nos processos de check-in e embarque, sua atitude é desafiante. Requer apoio do supervisor de aeroporto ou de segurança para conter este passageiro. Na aeronave não acata as instruções proferidas pela tripulação. Este tipo de comportamento correspondeu a 59% dos casos em 2021 e a 43% em 2022.
Categoria 3: afeta consideravelmente a segurança, higiene ou a boa ordem de outros passageiros. Seu comportamento é agressivo e violento, incluindo agressão física e/ou ameaças. Este tipo de comportamento correspondeu a 13% dos casos em 2021 e a 18% em 2022.
Os números revelam o crescimento dos casos de transtornos menores e também de casos de violência e ameaças, enquanto incidentes de categoria 2 — em que o passageiro não acata instruções da tripulação — caiu entre 2021 e 2022.
Aéreas defendem punições
A Abear, que hoje representa Abaeté, Boeing, Gol, Gollog, Latam, Latam Cargo, Rima, Sideral e Voepass no Brasil, revelou ainda que participa de um grupo de trabalho da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e tem defendido junto ao Governo Federal a definição de "regras claras para o gerenciamento dos casos, incluindo punições mais severas".
Entre as alternativas sugeridas pela associação estão multas, indenização dos prejuízos e, em casos mais graves, proibição de voar. "Assim como tem sido feito pelo resto do mundo, é vital que haja uma regulamentação que inclua os casos em solo e puna principalmente os casos mais graves. Estamos colaborando com a Anac nesse sentido, apresentando todos os dados e fatos dos últimos anos", relata Sanovicz.
Os casos de indisciplina de bordo cresceram durante a pandemia em todo o mundo. Companhias aéreas europeias, assim como as americanas Delta, American Airlines, United Airlines e Southwest têm suas próprias listas de passageiros banidos de voar.
Desde 2021, a agência reguladora americana, Federal Aviation Administration (FAA), possui política de 'tolerância zero' e impõe multas de até US$ 37 mil (quase R$ 192 mil) aos passageiros desordeiros, além de encaminhar investigações criminais ao FBI (Federal Bureau of Investigation, a polícia federal americana).
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