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Brasileira entra no seleto clube dos maiores exploradores do mundo

A montanhista e médica Karina Oliani - Karina Oliani (foto: Divulgação)
A montanhista e médica Karina Oliani
Imagem: Karina Oliani (foto: Divulgação)

Eduardo Vessoni

Colaboração para Nossa

09/02/2023 04h00

Não basta ser aventureiro e desembarcar nos lugares mais remotos do planeta. É preciso deixar sua pegada socioambiental para um mundo melhor.

Anualmente, o seleto The Explorers Club elege 50 exploradores que têm mudado o mundo com seus trabalhos em diferentes áreas do conhecimento, como antropologia biológica, arqueologia marinha e até pesca indígena.

Conhecido como EC50, o título reconheceu este ano especialistas de 23 países, entre eles, a paulistana Karina Oliani, montanhista e médica especializada em emergência e resgate em áreas remotas.

Pode até parecer mais um título no currículo de experiências extremas dessa primeira brasileira a subir o K2 e a primeira sul-americana a escalar as duas faces do Everest.

Parece, mas não é.

Karina Oliani no K2, uma das montanhas mais perigosas do mundo, entre o Paquistão e a China - Divulgação - Divulgação
Karina Oliani no K2, uma das montanhas mais perigosas do mundo, entre o Paquistão e a China
Imagem: Divulgação

Esse título amarra tudo o que eu já fiz em toda a minha vida. [O EC50] é um dos maiores reconhecimentos que alguém da aventura e da medicina em áreas remotas pode receber.

Sem falar na honra de ter seu nome em meio a exploradores icônicos de expedições históricas do início do século passado, como Sir Ernest Shackleton e Robert Falcon Scott.

"Numa época em que a ciência está muitas vezes sob ataque, precisamos garantir que essa próxima geração de cientistas e educadores tenha acesso a plataformas e recursos para conduzir e promover seu trabalho", declarou em nota Richard Garriott de Cayeux, presidente do The Explorers Club.

Karina durante escalada no Alasca, nos EUA (foto: Divulgação) - Divulgação - Divulgação
Karina durante escalada no Alasca, nos EUA
Imagem: Divulgação

Caminho das pedras

Assim como Karina também contou para a reportagem, um dos critérios para entrar nessa lista de exploradores é que o candidato tenha inspirado pessoas.

E inspiração é o que não falta na vida dessa médica de 40 anos que, mesmo após ser mãe, não deixou de rodar o mundo. Com apenas 11 meses de vida, sua filha Kora já esteve em oito países, entre eles Bolívia, Nepal e Omã.

Você não inspira com falação, mas através do exemplo. Ao longo da carreira, recebi milhares de mensagens de mulheres que se inspiraram em mim por eu ser mãe e exploradora.

Mas isso não é tudo.

A montanhista Karina Oliani - Karina Oliani (foto: Divulgação) - Karina Oliani (foto: Divulgação)
A montanhista Karina Oliani
Imagem: Karina Oliani (foto: Divulgação)

Após ser convencida a se inscrever pelo colega Mark Hannaford, professor da Escola de Medicina da Universidade de Exeter, na Inglaterra, Karina teve que reunir documentos que comprovassem sua formação científica e suas conquistas.

Pelas suas contas, foram enviados para análise do comitê do clube mais de 50 documentos, entre diplomas, comprovantes de conclusão de expedições, fotografias e registros em vídeo.

Entre as ações sociais que Karina já encabeçou está a criação do Instituto Dharma, em 2016, juntamente com Andrei Polessi, com o objetivo de levar medicina especializada para áreas remotas do Brasil, como Piauí e Amazônia, e em países como Angola, Uganda e Índia.

Karina Oliani (foto: Divulgação) - Karina Oliani (foto: Divulgação) - Karina Oliani (foto: Divulgação)
Karina Oliani é especializada em resgates em situações extremas
Imagem: Karina Oliani (foto: Divulgação)

Karina é fundadora também da Abmar (Associação Brasileira de Medicina de Áreas Remotas e Esportes de Aventura), uma sociedade médica pioneira no Brasil que levou esse conceito para as principais universidades de Medicina do país, como Santa Casa, USP e Unifesp.

"Isso transformou demais a realidade do Brasil, pois antes não tínhamos médicos especializados em 'wilderness medicine' (algo como "medicina selvagem", em tradução literal), lembra essa médica que se especializou no assunto, nos Estados Unidos.

Karina Oliani, em vulcão na Etiópia (foto: Divulgação - Divulgação - Divulgação
Karina Oliani, em vulcão na Etiópia
Imagem: Divulgação

Explore como uma garota

A boa notícia da edição 2023 do The Explorers Club 50 não é só ter uma brasileira na lista dos "indivíduos extraordinários que estão mudando o mundo", mas também uma maior representatividade feminina.

Dos 50 exploradores nomeados, 27 são mulheres que atuam em áreas como exploração subaquática (Emmanuelle Bardout), ecofeminismo (Bhavita Bhatia) e paleoclimatologia (Gina Moseley).

Emmanuelle Périé-Bardout - Under The Pole/Reprodução - Under The Pole/Reprodução
A exploradora Emmanuelle Périé-Bardout
Imagem: Under The Pole/Reprodução

"Finalmente, as pessoas estão começando a serem reconhecidas, sem preconceito, pelo seu trabalho. Já tem muita mulher praticando esportes de aventura que antes eram feitos só por homens", analisa Karina.

Esse novo cenário pode ser visto inclusive nos grupos de expedições de montanha que Karina organiza, por exemplo, para o Campo Base do Everest, em que 80% hoje em dia é formado por mulheres.

"Finalmente, o mundo está vendo que machismo é algo infundado", conclui.

E quando Karina está assim, digamos, de bobeira, tem até tempo para ser Mulher de Ferro por um dia. Em 2020, ela encarou o desafio de voar, no interior da Inglaterra, com uma mochila a jato, uma parafernália de turbinas acopladas ao próprio corpo.

Em 2021, Karina entrou também para o Guinness World Records por ter atravessado a tirolesa mais longa sobre um lago de lava, em um vulcão ativo na Etiópia.

Como é o Clube de Exploradores

Esse exclusivo clube foi fundado em Nova York, em 1904, com o objetivo de promover estudos de campo multidisciplinares e explorações científicas.

A honraria máxima concedida é a "Medalha dos Exploradores" ("The Explorers Club Medal", em inglês) que, anualmente, elege um membro ou não membro do clube por suas contribuições nas áreas de pesquisa científica, expedições ou bem-estar da humanidade.

Capitão Roald Engelbregt Gravning Amundsen  - UniversalImagesGroup/Getty Images - UniversalImagesGroup/Getty Images
Capitão Roald Engelbregt Gravning Amundsen
Imagem: UniversalImagesGroup/Getty Images

Em outras palavras, é como reunir em uma mesma sala de jantar nomes como Roald Amundsen, norueguês líder da primeira expedição ao Polo Sul; Ernest Shackleton, irlandês conhecido por uma das mais incríveis expedições à Antártica; e Cândido Rondon.

Aliás, esse militar sertanista de Mato Grosso, morto há mais de 60 anos, é o único brasileiro a ter recebido pelo clube a seletíssima "Medalha dos Exploradores".

Conhecido como o "Domador dos Sertões", devido às suas complexas expedições para instalação de telégrafos em áreas remotas do interior do Brasil, Rondon foi premiado com a "The Explorers Medal", em 1919.

Em 2013, foi a vez do cineasta James Cameron ('Titanic' e 'Avatar'), homenageado por sua viagem submarina até a Depressão Challenger, o ponto mais profundo do oceano, na Fossa das Marianas.

James Cameron posa para fotos no Deepsea Challenger - Jason LaVeris/FilmMagic - Jason LaVeris/FilmMagic
James Cameron posa para fotos ao lado do submarino
Imagem: Jason LaVeris/FilmMagic

Outra curiosidade do Clube são os exclusivos jantares temáticos anuais, que Karina estará presente este ano para receber seu título, com ingressos que variam de US$ 350, para membros do clube com menos de 35 anos de idade, a US$ 100 mil, com direito a 12 pessoas em uma mesa VIP.

Subir as montanhas mais altas do planeta pode até não ser novidade para Karina Oliani, difícil mesmo vai ser encarar o famoso cardápio de pratos nada convencionais do evento, como baratas, larvas e tempura de aranha.