Casa em favela de BH concorre a prêmio mundial de arquitetura; veja
Na visão de um morador feliz, "meu barraco". Para o mundo, uma casa dignamente indicada a prêmio. E quando a gente pergunta ao arquiteto Fernando Maculan, um dos autores da obra, ele resume, com humildade:
Uma casa feita de materiais utilizados na favela, mas com um sistema construtivo que permite mais ventilação e iluminação, além de outras soluções que a tornam eficiente"
É assim que a Casa da Vila Pomar do Cafezal, na comunidade Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, MG, está concorrendo ao prêmio do Archdaily na categoria Construção do Ano 2023. Em um terreno anguloso de cerca de 70 m², foi erguida por muitas mãos.
Algumas delas são do Coletivo Levante (@coletivo.levante), que assina a autoria da casa, unindo um time de arquitetos, estudantes e engenheiros, liderados por Fernando Maculan e Joana Magalhães, para elaborar projetos, angariar fornecedores e apoiadores para fazer arquitetura na periferia.
Uma casa "igual", mas diferente
De longe, a casa se camufla na paisagem. O bloco de 8 furos, um clássico nas comunidades, recebeu selamento e pronto: sua fachada estava finalizada. "Só que o tijolo foi assentado na horizontal e revela sua face frisada, algo pouco comum no morro, uma vez que assentar o bloco em pé é mais rápido e faz com que o material renda mais", explicam os arquitetos, que fizeram diferente pensando em tornar a casa mais fresca.
O bloco aparece também como cobogó, ou combinado a blocos de concreto, mostrando que o conhecimento pode transformar um material ordinário em uma casa eficiente.
"Nos preocupamos em observar com cuidado questões referentes ao fluxo das águas de chuva e sua absorção no terreno; em fazer pouca intervenção no solo; oferecer ventilação e iluminação naturais de forma generosa, além do controle de temperatura com elementos leves como as peças roliças de eucalipto e a vegetação. E, claro, aproveitar ao máximo a vista, que é extraordinária e que não se vê igual lá do asfalto", contam.
Usamos o que é corriqueiro na casa, mas com qualidades extras que possam ser copiadas — sim, copiadas — pelos vizinhos." Fernando Maculan, arquiteto
Vaquinhas e mutirões
Tudo o que envolve uma casa custa caro, você sabe. Por isso, Kdu arrecadou fundos para algumas das etapas. O que mais onera a obra, curiosamente, é transportar o material da entrada até a construção, segundo os arquitetos do coletivo. "Conseguimos que empresas, fornecedores abraçassem a ideia, mas outras coisas, como mão de obra, precisam ser pagas", conta Amanda Castilho.
É aí que os mutirões mostram sua força, muito comuns na favela. "Um pedreiro ajuda a fazer a casa do outro, para que todos tenham suas casas", conta Fernando.
"O Kdu é gestor do centro cultural Lá da Favelinha, uma pessoa chave na comunidade e que nos ensinou muito. Tem que ter predisposição de viver o que é a favela. Pensar o projeto de dentro pra fora, e não o contrário", acrescenta.
Com a indicação ao prêmio, o grupo que envolve mais de 10 profissionais com projetos no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia ganhou força para sonhar com mais obras em comunidades da periferia. O próprio Kdu, que batizou o coletivo, não para de comemorar.
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