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Meninos Rei leva moda colorida do subúrbio de Salvador para o mundo

Meninos Rei na SPFW n54  - Marcelo Soubhia/@agfotosite
Meninos Rei na SPFW n54 Imagem: Marcelo Soubhia/@agfotosite

Fernando Barros

Colaboração para Nossa

12/02/2023 04h00

O que o look da cantora Iza na semifinal do "The Voice Brasil" em dezembro do ano passado e as estampas da Ala das Baianas da Mangueira no Carnaval do Rio este ano têm em comum? Ambos levam a assinatura da Meninos Rei, marca criada pelos irmãos baianos Junior Rocha (42) e Céu Rocha (41).

Com produções exclusivas para celebridades e participação desde 2021 na São Paulo Fashion Week, a marca é um dos destaques da nova geração da moda.

Hoje, despontando no cenário nacional, tudo começou como uma forma de experimentação há oito anos no subúrbio ferroviário de Salvador. Na época, os irmãos confeccionavam poucas peças para uso pessoal e a pedido de amigos.

Apostando em cores vibrantes, estampas chamativas, tecidos afros combinados em patchwork, modelagens amplas e peças que vão de camisas e jaquetas a calças e macacão, Junior e Céu querem valorizar a nossa ancestralidade africana e reconectar a moda com o estilo que emana das ruas.

O começo

Junior e Ceu Rocha, ao final do desfile da Meninos Rei na SPFW  - cabello.photo - cabello.photo
Junior e Ceu Rocha, ao final do desfile da Meninos Rei na SPFW
Imagem: cabello.photo

A relação dos irmãos com a moda está presente desde a infância. "Já com 10, 11 anos, gostávamos de nos vestir diferentes dos nossos amigos e tivemos muita liberdade dentro de casa para podermos nos expressar", conta Céu Rocha.

"Nossa mãe levava a gente para lojas de tecidos para escolher o que queríamos, meu pai era desenhista técnico e nossas avós e tias costuravam, então era algo que sempre esteve à nossa volta".

Junior Rocha completa e relembra que ambos trabalharam em lojas de roupas e esse envolvimento com a moda se intensificou atuando no varejo. "Eu também trabalhei com Margareth Menezes durante 20 anos, primeiro como stylist e depois fazendo a produção pessoal dela", relembra.

A marca surgiu no subúrbio ferroviário de Salvador com uma produção pequena, para amigos mesmo e, inicialmente, eram só camisas. "Depois, percebemos que podíamos desdobrar o nosso produto e fazer outras peças para complementar o visual", contam.

A virada

Para os irmãos, tudo mudou com a chegada da grife à São Paulo Fashion Week, em 2021.

Todo mundo que trabalha com moda quer chegar nesse lugar. A gente sabe que marcas como a nossa, que estão fora do eixo Rio-SP, têm dificuldade para ter seu trabalho reconhecido", diz Céu.

Jojo Todynho desfila para Meninos Rei na SPFW - Marcelo Soubhia/agfotosite - Marcelo Soubhia/agfotosite
Jojo Todynho desfila para Meninos Rei na SPFW
Imagem: Marcelo Soubhia/agfotosite
Desfile da Meninos Rei na SPFW n54 - Marcelo Soubhia/agfotosite - Marcelo Soubhia/agfotosite
Desfile da Meninos Rei na SPFW n54
Imagem: Marcelo Soubhia/agfotosite

Hoje, oito anos depois da criação da marca, o maior desafio para a dupla é se manter no mercado. "Muitas vezes, é difícil furar certos bloqueios e fazer com que o nosso trabalho chegue em grandes empresas, veículos e instituições daqui", conta Céu.

A gente é de Salvador, mora aqui e quer ser reconhecido dentro da nossa cidade, no entanto, já fomos para o Sudeste, para a maior passarela de moda da América Latina, que é a São Paulo Fashion Week, já levamos a Bahia para fora do país e não conseguimos o patrocínio de ninguém daqui", lamenta Junior.

Passarela diversa

Nos desfiles da Meninos Rei, sempre houve um olhar para a diversidade na moda. E proposital.

"Por muito anos, a moda alimentou um padrão eurocentrado: branco, magro, alto, mas atualmente não dá para fingir que a diversidade não está aí. Corpos negros, gordos, com deficiência existem e não são minorias como quiseram nos fazer acreditar um dia", afirma Céu.

A moda da Meninos Rei não alimenta esse sistema que adoece e mata pessoas, ela é inclusiva, respeita e trabalha com resgate de autoestima e valorização pessoal. As marcas que não estiverem atentas a isso estão no caminho errado e vão ficar para trás", crava.

Nos corpos famosos

Ivete e Margareth vestem Meninos Rei - Fred Pontes - Fred Pontes
Ivete e Margareth vestem Meninos Rei
Imagem: Fred Pontes
Erika Januza veste Meninos Rei - @erikajanuza - @erikajanuza
Erika Januza veste Meninos Rei
Imagem: @erikajanuza
Iza veste Meninos Rei - @alexsantanaphotographer - @alexsantanaphotographer
Iza veste Meninos Rei
Imagem: @alexsantanaphotographer

Margareth Menezes foi a primeira celebridade a usar a Meninos Rei. A lista que se seguiu é extensa: Iza, Carlinhos Brown, Ivete, Gilberto Gil, Larissa Luz, Deborah Secco, Jojo Todynho, Tia Má. "Rihanna e Beyoncé, podem chegar também", brinca Céu.

Em 2022, a Meninos Rei fez a sua primeira incursão internacional, na Semana de Moda de Milão a convite de Kel Ferey, uma estilista que tem um projeto onde leva marcas brasileiras para desfilar em Milão.

Europeu não é acostumado a usar estampas e a receptividade ao nosso mix foi muito boa: eles aplaudiram de pé e isso é muito gratificante para nós. Impulsiona a continuar fazendo o que a gente faz", dizem.

Para frente, uma revolução

Coleção Cápsula Amor e Asè, da Meninos Rei - @euvinysoares - @euvinysoares
Coleção Cápsula Amor e Asè, da Meninos Rei
Imagem: @euvinysoares

Num exercício de futurologia, daqui a 10 anos, Céu vislumbra fazer historia dentro do mercado de moda. "Vejo a Meninos Rei reconhecida como sinônimo de transformação", diz.

Para 2023, os planos incluem ter próprio espaço físico para atendimento. Hoje a grife funciona em um ateliê em Salvador, em Itapuã, onde os irmãos trabalham com quatro costureiras numa cadeia de produção pequena. "Queremos também apostar na expansão da marca e na internacionalização. Vamos com tudo", se anima Céu.

Se pedir, em poucas palavras, como os irmãos definem a marca, as respostas são igualmente grandiosas.

Meninos Rei é amor, é respeito, ancestralidade e resistência".