Tapa-sexo: como a polêmica peça mudou a história do Carnaval
Ele tem poucos centímetros, mas carrega muita história — e polêmica — no Carnaval brasileiro.
Essa é aquela época do ano onde invariavelmente você ouvirá o termo "tapa-sexo" assim que começam os desfiles das escolas de samba.
Para quem vê o Carnaval hoje, não imagina que as passistas das escolas de samba usavam vestidos na avenida até os anos 1960. E só na década seguinte, na onda da contracultura, tivemos os primeiros biquínis na avenida.
A pele cada vez mais exposta entre as passistas das agremiações seria um presságio da nudez que surgiria nos anos seguintes, como o clássico desfile de Monique Evans à frente da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1991, grávida de Bárbara Evans.
Mas ela não foi a primeira. Em 1988, Enoli Lara fez história no Carnaval brasileiro: foi a primeira a desfilar nua. Saiu pela União da Ilha do Governador somente com uma pintura corporal e um par de botas. No ano seguinte, com o samba-enredo "Festa Profana", dispensou até o calçado: usou somente um véu.
Da ousadia de Enoli, veio o regulamento
A resposta da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) veio em 1990: "proibição da genitália desnuda".
Revoltado com o que considerou um ato de censura, Joãosinho Trinta concebeu o enredo "Todo Mundo Nasceu Nu", na Beija-Flor. Em um dos carros alegóricos, o ator Jorge Lafond se apresentou com a genitália coberta, porém, com uma decoração que deixava bem claro seus contornos.
Após este fato, o regulamento ganhou um adendo: proibida a "genitália desnuda ou decorada".
No especial "Genitália (quase) desnuda", publicado pelo UOL Entretê em 2018, Enoli lembrou o episódio, celebrando: "Virei uma lenda".
Um eterno símbolo sexual do Carnaval. A nudez é um ato performático, um exercício de liberdade, é a fantasia da alma. Enoli Lara
Jeitinho brasileiro em poucos centímetros
Como driblar o regulamento? Mostrar a pintura corporal com o mínimo de adornos cobrindo a pele? Os carnavalescos trabalharam em todos os Carnavais seguintes com estes adornos — cada vez menores —, o que se tornou quase que uma "competição" a cada ano em busca do menor tapa-sexo.
Um dos primeiros casos bem-sucedidos foi o da modelo Melissa Benson, da Imperatriz Leopoldinense, que, em 1992, desfilou quase inteiramente nua embaixo de uma cascata artificial. Neste mesmo Carnaval, um adesivo mal colocado no modelo Torez Bandeira fez a Beija-Flor ser penalizada no artigo da "genitália desnuda". A perda de pontos ocasionou a demissão do carnavalesco Joãozinho Trinta.
Em 2008, a modelo Viviane Castro desfilou na São Clemente como musa. Segundo ela, o corpo estaria protegido por um artefato de 3,5 cm de espessura e da cor da pele. Sua explicação não convenceu a Liesa, que tirou 0,5 ponto da escola de Botafogo, que acabou rebaixada.
Amo usar tapa-sexo. A mulher fica muito sexy, os homens adoram. Recebo muito mais cantada quando estou de tapa-sexo do que quando estou com uma fantasia normal. Renata Frisson, em entrevista ao UOL Entretê, em 2018
Colado ou encaixado
Por ser tão pequeno, o tapa-sexo necessita de uma aplicação especial, que pode ser com um encaixe ou colado na pele com o auxílio de um emplastro adesivo, daqueles usados em lesões musculares. Perder a peça durante o desfile pode render uma perda importante de pontos para a agremiação.
Entre as passistas procuradas pela reportagem na época, a maior parte preferiu pelo adorno encaixado, e não adesivo.
"Usei em 2015 a primeira vez. O menor foi com 3 cm. Não incomoda em nada. Já usei os dois e prefiro o de encaixe. O de colar nunca mais", disse Ju Isen.
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