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Do burlesco ao bloco: tapa-mamilo é moda sexy antiga que conquistou a folia

Integrante da banda da Espetacular Charanga do França, bloco de São Paulo - Nelson Antoine/UOL
Integrante da banda da Espetacular Charanga do França, bloco de São Paulo
Imagem: Nelson Antoine/UOL

Gabi Dourado

Colaboração para Nossa

18/02/2023 04h00

Estrelas, corações, brilhos... os mamilos ganham outras cores e formas durante o Carnaval. É que o "tapa-mamilo", acessório cujo nome é autoexplicativo, costuma ganhar as ruas de quem gosta de curtir a grande festa de fevereiro.

O calor, o suor e a sensação de maior liberdade para deixar o corpo à mostra abrem caminhos para deixar os seios adornados apenas por adesivos.

De onde surgiu essa moda é difícil apontar, mas a consultora de imagem e estilo Mariella Fassanaro busca em diferentes fontes as possíveis inspirações para essa prática.

Acho que se for tentar lembrar de referências culturais e históricas a esse respeito vou pensar, antes de tudo, no show burlesco, naquela sensualidade toda que mostrava quase tudo", avalia.

Do strip a Elvira

Show de Dita Von Teese, em 2014, uma das referências atuais do show burlesco - Larry Marano/Getty Images - Larry Marano/Getty Images
Dita Von Teese, em 2014, uma das referências atuais do burlesco
Imagem: Larry Marano/Getty Images

O termo burlesco foi incorporado, nos anos 1860, aos shows de variedades nos Estados Unidos apresentados em teatros ou cabarés, com cunho erótico e striptease.

Lembram de Moulin Rouge? E do icônico quarteto formado por Christina Aguilera, Lil'Kim, Mya e Pink em "Lady Marmalade"? Lá está o burlesco. Inclusive Lil'Kim chamou atenção no Video Music Awards da MTV em 199 com o acessório. "Aí o tapa-mamilo com tassel era o mostra-esconde, o quase", reforça Fassanaro sobre a referência.

Lil'' Kim no MTV Video Music Awards -  Brenda Chase/Online USA, Inc. -  Brenda Chase/Online USA, Inc.
Lil'' Kim no MTV Video Music Awards
Imagem: Brenda Chase/Online USA, Inc.

Os tassels dançantes logo remetem à Elvira, a rainha das trevas, na cena em que os seios determinam os movimentos do acessório grudado aos mamilos.

Vê-se, portanto, que essa história de grudar elementos para cobrir os mamilos não é exatamente uma prática apenas do Carnaval brasileiro.

Na moda da passarela (do samba)

A moda, aliás, faz uso desse elemento nas passarelas, como tom Ford em 2003 e Anthony Vaccarello em 2017 para Saint Laurent.

Yves Saint Laurent, em 2003  - Penske Media via Getty Images - Penske Media via Getty Images
Yves Saint Laurent, em 2003
Imagem: Penske Media via Getty Images
Yves Saint Laurent, em 2017 - Jonas Gustavsson/MCV Photo For The Washington Post via Getty Images - Jonas Gustavsson/MCV Photo For The Washington Post via Getty Images
Yves Saint Laurent, em 2017
Imagem: Jonas Gustavsson/MCV Photo For The Washington Post via Getty Images

Porém, é impossível não associar à nossa festa momina, uma vez que pintar o corpo ou deixá-lo à mostra com pouca roupa faz parte da brincadeira. "(saindo da referência burlesca) Vou direto para o Carnaval da Sapucaí, com as rainhas de bateria cobrindo o corpo com maquiagem, adesivo e tapa-sexo", comenta a consultora.

Sim, as musas do Carnaval utilizam dos mais diversos artifícios para compor as fantasias. Já nos ensaios deste ano, diversas celebridades apostaram no acessório como Paolla Oliveira, Viviane Araújo e Dandara Mariana. Bem como Deborah Secco e a fantasia de Bruna Surfistinha para o Baile da Vogue.

Paolla Oliveira no ensaio técnico da Grande Rio - Daniel Pinheiro/AgNews - Daniel Pinheiro/AgNews
Paolla Oliveira no ensaio técnico da Grande Rio
Imagem: Daniel Pinheiro/AgNews
Deborah Secco no Baile da Vogue - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Deborah Secco no Baile da Vogue
Imagem: Reprodução/Instagram

Assim a prática invade as ruas de todo o país, independente do formato de festa brincada em cada Estado. Depois de 2015, com o Carnaval ganhando força em circuitos alternativos e em outras cidades além das mais famosas pela tradição carnavalesca, a forma de se vestir (ou despir) para curtir a rua foi tomando forma.

Feminismo na pele

Mulher pula carnaval com tapa-mamilo - Bruno Santos/ Folhapress - Bruno Santos/ Folhapress
Mulher pula carnaval com tapa-mamilo
Imagem: Bruno Santos/ Folhapress

Além disso, movimentos como "free the niple", "não é não", "meu corpo, minha regras" e o "body positive" trouxeram mais autoconfiança nas mulheres para usar o que quisessem durante a folia.

Isso porque o Carnaval traz a possibilidade de colocar pra fora desejos reprimidos durante os dias comuns — e isso inclui a forma de lidar com o corpo. "Acho que a expressão da sensualidade é muito injustamente colocada na prateleira da vulgaridade. Noto certo receio de parecer minimamente sensual para não ser mal interpretada ou lida exclusivamente sob essa perspectiva", reflete Mariella.

Eu sempre incentivo que a gente desenvolva essa feminilidade como for natural pra cada uma sem tanta vergonha de ser, sem tanta repressão, porque parece às vezes que existe uma voz castradora que impede essa expressão de sensualidade de ser vivenciada".

Foliona usa tapa-mamilo no Bloco Chora Me Liga - Fernando Maia | Riotur - Fernando Maia | Riotur
Foliona usa tapa-mamilo no Bloco Chora Me Liga
Imagem: Fernando Maia | Riotur

Medo de assédio

O assédio, porém, segue como o maior medo de quem gostaria de fazer uso dos tapa-mamilos. A fisioterapeuta Luanna Andrade, de 28 anos, chegou a comprar para usar no Carnaval junto com algumas amigas, mas ainda não conseguiu fazer uso do acessório.

O desejo de usar veio a partir dessa vontade de ter uma certa liberdade com o corpo. Mas ficamos receosas com o assédio, pela segurança, pela exposição e também por medo do julgamento por pessoas conhecidas", comenta.

Mariela também reflete sobre esse receio: "O patriarcado ainda é uma nuvem pesadíssima julgando mulheres, podando, condenando. A gente ainda tem muito o que avançar na liberdade individual", conclui.