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Pau do Índio e Axé são as bebidas típicas que agitam o Carnaval de Olinda

O "Pau do Índio" é um clássico das ladeiras de Olinda - Roberta Guimaraes/UOL
O "Pau do Índio" é um clássico das ladeiras de Olinda Imagem: Roberta Guimaraes/UOL

De Nossa

19/02/2023 04h00

Por trás de toda aquela energia nas ladeiras de Olinda, há um (na verdade, dois) segredos bem guardados: Pau do Índio e Axé, duas bebidas criadas na cidade e que garantem o pique dos foliões.

Apesar de misturas de ervas com cachaça — as "garrafadas" — serem uma prática existente no Brasil desde o século 19, foi só nos anos 1970 que surgiu o Pau do Índio do Cardoso: nome completo da versão original deste que é um dos mais tradicionais drinques das festas pernambucanas.

Como a alcunha sugere, a bebida foi criada pelo Sr. Antonio Cardoso, que vivia no número 91 da Rua do Amparo, onde ainda é comercializada pelos filhos que seguiram com o negócio. Sua receita é secreta, mas a mistura inclui ervas, especiarias, raspas do bastão de guaraná e cachaça, conforme revelou reportagem do UOL em 2014.

"Seu Cardoso" criou o mix em seu bar, onde costumava vender as primeiras doses aos clientes, antes de o negócio se popularizar. Após um sonho com um indígena, ele teria aperfeiçoado a alquimia, incluindo novos ingredientes.

Seu Antonio e o "Pau do Índio" em Olinda - Roberta Guimaraes/UOL - Roberta Guimaraes/UOL
Seu Antonio e o "Pau do Índio" em Olinda
Imagem: Roberta Guimaraes/UOL
A famosa casa na Rua do Amparo em Olinda, onde é produzida a bebida - Roberta Guimaraes/UOL - Roberta Guimaraes/UOL
A casa na Rua do Amparo, onde é produzido
Imagem: Roberta Guimaraes/UOL

Olindenses repetem que Pau do Índio não dá ressaca, mas isso não quer dizer que uns goles extras não "subam" à cabeça. "É uma bebida fortíssima, que todo Carnaval derruba muito turista desavisado", revelou José Ataíde, autor do livro "Olinda, Carnaval e Povo" à Folha de SP. em 1995.

Segundo o pesquisador, o nome não tem nada a ver com os genitais de indígenas, e seria uma homenagem à natureza de seus principais ingredientes — aroeira e quixaba — que são retiradas de árvores ou "paus". Vendido em garrafinhas, o Pau do Índio virou uma tradição da saída dos blocos nos últimos quase 50 anos.

Pau do Índio do Cardoso, de Olinda - Roberta Guimaraes/UOL - Roberta Guimaraes/UOL
A versão pequena da garrafa do Pau do Índio do Cardoso: aditivo para a folia
Imagem: Roberta Guimaraes/UOL

Que Axé é esse?

Na mesma rua onde nasceu o Pau do Índio, na região do sítio histórico de Olinda, foi criado há cerca de 30 anos também o Axé de Fala ou simplesmente Axé, como é conhecido este outro licor muito popular do Carnaval local, feito a base de cachaça, açúcar, extrato de ervas, água, mel e semente de guaraná.

Há variações, é claro, na mistura, especialmente porque o Axé foi se adaptando nas mãos de diferentes produtores ao longo do tempo, mesmo tendo sido temporariamente proibido pela Vigilância Sanitária em 2017 pela falta de regulamentação à época. Entre alguns dos mais reconhecidos está a produção da família Axé e a da família Castro.

A Casa do Axé, comandada por Shirley Castro, se orgulha atualmente de ser registrada no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) com sua receita de família, que chega a render 60 mil garrafas vendidas em um mês de folia. Sua unidade ainda vem acompanhada, à parte, de bisnaga de mel e duas sementes de guaraná com casca para brindar.

Depois de beber o licor com o mel e as sementes, já descascadas, a dica é mascar as sementes que sobraram. "São energéticas, evitam que a pessoa fique muito bêbada", garantiu ao Diario de Pernambuco Jipson Silva de Moura, o Pitta, esposo de Shirley que também comanda o negócio.

Doce e com alto poder de embriaguez — há 30% de teor alcoólico, segundo reportagem da Folha de Pernambuco —, a bebida é bem-sucedida por também ser barata: garrafinhas de 200 ml saem por cerca de R$ 6 enquanto meio litro custa R$ 15.

Batizado com a saudação em iorubá de reverência à força dos orixás das religiões africanas, o Axé demonstrou sua potência nas ruas e acabou virando bloco de Carnaval. O Troço Etílico Carnavalesco Um Axé É Pouco sai às ruas no sábado de Carnaval, a partir da Praça do Carmo, perambula por diversas ladeiras até retornar à Rua do Bonfim, onde é encerrado na Casa do Axé.