Risco de queda e sem banheiro: brasileiro viaja de carona em trem de carga
Nos últimos anos, mochileiros do mundo inteiro têm sido atraídos para uma inusitada aventura na África.
Na Mauritânia, um trem carregado com minério de ferro realiza periodicamente viagens entre o interior e o litoral do país, indo do polo de mineração de Zouérat até o porto de Nouadhibou, no oceano Atlântico, em um percurso de aproximadamente 700 quilômetros.
Na rota, por causa da precariedade do sistema de transportes da Mauritânia, muita gente local sobe nos vagões para viajar rumo à costa — cruzando, durante longas horas, o deserto sentada sobre o minério de ferro.
E, há algum tempo, a prática virou moda entre destemidos viajantes estrangeiros.
O brasileiro Cainã Ito (@caina.ito), por exemplo, viveu essa aventura.
Na companhia de um amigo, ele pulou em um dos vagões do trem em Zouérat.
Subimos as escadinhas de um dos vagões e nos instalamos lá em cima, sobre o minério de ferro.
O brasileiro diz que esse ingresso no trem não é cobrado — e que não há nenhum aviso ou pessoa, em solo, coibindo a prática.
E, com a estrutura sobre os trilhos em movimento, começa uma jornada inesquecível — que, no caso de Cainã, durou aproximadamente 16 horas.
Sentado no vagão, você consegue ver todo o deserto em volta. Mas, rapidamente, fica com o corpo coberto de pó de minério de ferro.
Para proteger o rosto, o brasileiro usou, enrolado na cabeça, um turbante típico da Mauritânia. E, para lidar com a falta de qualquer coisa parecida com serviço de bordo, levou comida na mochila.
Banheiros, logicamente, também não existem nesses compartimentos de carga.
"Para um homem, fazer o 'número 1' não é tão difícil. Você abre o zíper e faz em algum cantinho do vagão", relata ele. "E, por sorte, ninguém precisou fazer 'o número 2'".
Camarote sobre trilhos
Embalada pelo barulho de dezenas de pesadíssimos vagões correndo sobre os trilhos, a viagem cruza paisagens desérticas extremamente remotas da Mauritânia, com o horizonte marcado por montanhas escuras e vilarejos no meio do nada.
Sentados sobre o minério de ferro, os viajantes observam tudo como se estivessem em um rústico camarote móvel.
Durante o dia, o deserto, com sua areia alaranjada, parece se estender ao infinito, envolto frequentemente por altíssimas temperaturas, que passam facilmente dos 40º C. E, quando a noite chega, o céu costuma ficar tomado por estrelas.
Levei saco de dormir, pois sabia que iríamos acabar dormindo na viagem. E já estava mentalmente preparado para a falta de conforto.
E há algumas táticas para deixar a parte noturna da viagem menos dolorida.
"Muitas pessoas usam o trem para transportar suas mercadorias. E, entre esses produtos, estão sacos de farinha, que acabam virando nossa 'cama' nos vagões, deixando as coisas um pouco mais confortáveis".
Mesmo oferecendo tantas experiências únicas, esta viagem, segundo o brasileiro, exige atenção do turista.
"Nunca ouvi histórias de pessoas que caíram do trem. Mas existe um fator de risco na viagem. Acontecem trancos nos vagões. Por isso, é importante tentar se manter encostado e evitar ficar em pé. Não dá para ficar de bobeira nas beiradas", explica ele.
Chuva no deserto
Porém, mesmo tomando cuidado, Cainã enfrentou perrengues durante e após a jornada.
"Depois da viagem, me senti um pouco doente, pois acabei inalando muito pó de minério de ferro", relata. "E é realmente difícil tirar esse pó do corpo. Foram necessários pelo menos quatro banhos".
O brasileiro ainda enfrentou uma situação extremamente inusitada na viagem: pegou uma forte chuva em pleno deserto.
"Eu estava dormindo e, de repente, comecei a sentir chuva. Inicialmente, foi algo bom, porque a água tirou um pouco do pó do meu corpo. Mas, depois que a chuva foi embora, passei por um momento de muito frio, com o vento batendo em mim. Tive que me encolher no saco de dormir".
Cainã já esteve em muitos países — e a viagem de trem na Mauritânia está entre as experiências mais únicas que ele já viveu em suas jornadas.
O brasileiro tem um podcast no qual fala sobre viagens, chamado "Mochileiros sem Pauta". E há um episódio dedicado à Mauritânia.
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