Casa em favela de BH ganha prêmio mundial de arquitetura; veja
Deu Brasil! A casa do artista Kdu dos Anjos, na comunidade Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte (MG), foi a grande campeã do prêmio do Archdaily, um dos mais importantes da arquitetura mundial, na categoria "Casa do Ano". A informação foi comemorada pelo artista em seu perfil do Instagram.
Juro que estou em prantos, não sei nem o que falar. Por enquanto fica aqui o meu 'só força'. Esse prêmio é para todas as periferias do mundo. Amanhã tem festa na favela!"
O Coletivo Levante, responsável pelo projeto, também celebrou o feito: "Estamos muito felizes com o resultado! Em primeiro lugar, queremos agradecer demais a todo mundo que colou com a gente, votou e ajudou a colocar a favela no topo do mundo!"
Esperamos que o projeto da Casa no Pomar do Cafezal possa inspirar muitos outros nas periferias do Brasil. Aqui, a periferia é o centro!"
Conheça a história da "Casa do Ano"
Na visão de um morador feliz, "meu barraco". Para o mundo, a Casa do Ano de 2023. E quando a gente pergunta ao arquiteto Fernando Maculan, um dos autores da obra, ele resume, com humildade:
Uma casa feita de materiais utilizados na favela, mas com um sistema construtivo que permite mais ventilação e iluminação, além de outras soluções que a tornam eficiente"
A Casa da Vila Pomar do Cafezal, que venceu grandes nomes da arquitetura do mundo inteiro para ganhar o título, foi construída por muitas mãos em um terreno anguloso de cerca de 70 m² na comunidade na região centro-sul de Belo Horizonte.
Algumas delas são do Coletivo Levante (@coletivo.levante), que assina a autoria da casa, unindo um time de arquitetos, estudantes e engenheiros, liderados por Fernando Maculan e Joana Magalhães, para elaborar projetos, angariar fornecedores e apoiadores para fazer arquitetura na periferia.
Uma casa "igual", mas diferente
De longe, a casa se camufla na paisagem. O bloco de 8 furos, um clássico nas comunidades, recebeu selamento e pronto: sua fachada estava finalizada. "Só que o tijolo foi assentado na horizontal e revela sua face frisada, algo pouco comum no morro, uma vez que assentar o bloco em pé é mais rápido e faz com que o material renda mais", explicam os arquitetos, que fizeram diferente pensando em tornar a casa mais fresca.
O bloco aparece também como cobogó, ou combinado a blocos de concreto, mostrando que o conhecimento pode transformar um material ordinário em uma casa eficiente.
"Nos preocupamos em observar com cuidado questões referentes ao fluxo das águas de chuva e sua absorção no terreno; em fazer pouca intervenção no solo; oferecer ventilação e iluminação naturais de forma generosa, além do controle de temperatura com elementos leves como as peças roliças de eucalipto e a vegetação. E, claro, aproveitar ao máximo a vista, que é extraordinária e que não se vê igual lá do asfalto", contam.
Usamos o que é corriqueiro na casa, mas com qualidades extras que possam ser copiadas — sim, copiadas — pelos vizinhos." Fernando Maculan, arquiteto
Vaquinhas e mutirões
Tudo o que envolve uma casa custa caro, você sabe. Por isso, Kdu arrecadou fundos para algumas das etapas. O que mais onera a obra, curiosamente, é transportar o material da entrada até a construção, segundo os arquitetos do coletivo. "Conseguimos que empresas, fornecedores abraçassem a ideia, mas outras coisas, como mão de obra, precisam ser pagas", conta Amanda Castilho.
É aí que os mutirões mostram sua força, muito comuns na favela. "Um pedreiro ajuda a fazer a casa do outro, para que todos tenham suas casas", conta Fernando.
"O Kdu é gestor do centro cultural Lá da Favelinha, uma pessoa chave na comunidade e que nos ensinou muito. Tem que ter predisposição de viver o que é a favela. Pensar o projeto de dentro pra fora, e não o contrário", acrescenta.
Com a conquista ao prêmio, o grupo que envolve mais de 10 profissionais com projetos no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia ganha força para sonhar com mais obras em comunidades da periferia. O próprio Kdu, que batizou o coletivo, não para de comemorar:
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