Drinque com DNA paulistano, Caju Amigo resiste aos novos tempos
Hebe Camargo e o marido, Lélio; Ruy Mesquita, "dono" do jornal "O Estado de São Paulo"; o multimilionário Olacyr de Moraes; Júlio Cesar de Toledo Piza, ex-presidente da Bolsa de Valores de São Paulo; os apresentadores de TV (e concorrentes) Chacrinha, Bolinha e Flávio Cavalcante; os lendários restaurateurs Giancarlo Bolla e Giovanni Bruno; o clã Faria, do Banco Real; a colunista social Alik Costakis; e mais um séquito de jornalistas, empresários, políticos, publicitários, jogadores de futebol, artistas, etc.
Em comum: todos iam ao confessionário do lendário bar-restaurante Pandoro, em São Paulo, purgar suas máculas com fartas doses de Caju Amigo, o drinque oficial da casa.
Sim, Caju Amigo, possivelmente o mais paulistano de todos os drinques e coquetéis, criado em 1974 — há quem discorde — pelo barman Guilhermino Ribeiro dos Santos, então titular do balcão do Pandoro. O drinque mais clássico feito com a fruta típica do Nordeste, que caiu nas graças da intelligenza da Paulicéia da época.
Aliás, poucos drinques podem ser tão umbilicalmente associados a um bar especifico como a tabelinha Caju Amigo e Pandoro.
Vê um caju, amigo", a expressão dos clientes acabaria por batizá-lo. Reza a lenda.
Clássico sem complicação
A receita é básica e simples: suco de caju concentrado, açúcar ou xarope de açúcar, gim (há quem use vodca, ou até mesmo cachaça), caju em calda e/ou compota caseira de caju, fatias da fruta em generosa proporção. Voilà.
Aqui e ali, alguns poucos experts usam pulos-do-gato na finalização: água com gás, gotas de sakê, de Angostura bitter, etc.
"Pra falar do Caju Amigo tem que ter uma certa milhagem de balcão de bar", brinca o longevo bartender Kascão Oliveira. "Eu dou consultoria para vários bares e restaurantes, e onde posso, incluo o Caju Amigo na carta de drinques", diz. "E curiosamente, já noto uma nova geração interessada em conhecê-lo".
Atualmente, Oliveira prepara seus no Boteco Garotinha, na rua Pamplona, em São Paulo.
A febre dos anos 2000
Oliveira divide a história do Caju Amigo em três fases, a primeira, ainda nos anos 50, quando, alega, a bebida teria sido criada, por um bartender de apelido Fumaça, cujo nome perdeu-se no tempo.
"Depois veio o sucesso, a fase do Guilhermino no Pandoro, que foi quem o aperfeiçoou e deu notoriedade. E a explosão na virada dos anos 2000, quando, na reabertura do Pandoro, com novos sócios, chegava a haver picos de até 1200 drinques vendidos por noite.
A febre era tamanha que às vezes, os garçons, por brincadeira ou marketing, paravam os ônibus na rua (obs: avenida Europa, nos Jardins), subiam com a bandeja na mão e davam copos de Caju Amigo de graça pra quem lá estivesse ".
Copiado aqui e ali, ao longo do tempo, no entanto, o Caju Amigo foi ficando à deriva — para isso também contribuiu o abre-fecha e as mudanças (de donos, inclusive) do próprio Pandoro, que fechou de vez em 2011.
Revisitado
"Aqui ele nunca saiu de cartaz", assegura Carlito Batista de Góes, há 33 anos titular do bar do famoso restaurante Dinho's, ex-Dinho's Place. "Desde sempre ele faz parte da nossa carta. Muita gente ainda pede. E quando bebe o primeiro, não consegue beber só um".
No Dinho's, uma compota de caju, feita na casa, dá o realce definitivo à mistura.
E que ninguém ouse chamar de batida. O Caju Amigo é um coquetel. Ponto.
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