Após escândalo, Balenciaga renasce sóbria e longe do 'look Kim Kardashian'

Comandada por Demna Gvasalia, a Balenciaga se fez onipresente no último ano. Só se falava da grife — fosse pelas suas estratégias chamativas de marketing, as coleções deslumbrantes de alta-costura ou a moda absurda proposta pelo diretor criativo.

O topo do pódio, consecutivamente ocupado pela etiqueta espanhola, firmava sua importância como uma das marcas de moda mais influentes em todo o mundo.

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Tudo isso virou de cabeça para baixo no final do ano passado. No último bimestre de 2022, mais especificamente em novembro, a marca virou alvo de críticas e cancelamento ao divulgar uma campanha que associava crianças a práticas sexuais.

Como se recuperar de uma acusação tão grave? A primeira escolha deles foi sumir. Seus apagões nas redes sociais já eram frequentas, mas depois da polêmica, foi total. Até mesmo o perfil @demnagram, comandado por um fã e abraçado por Demna como parte de divulgação da marca, ficou dias sem sequer um post. O que quase não se via acontecer.

Depois disso, veio a fase do pedido de desculpas público. No Instagram, assumiu o erro da grife e se responsabilizou por ele.

Posteriormente, em entrevista para a "Vogue" norte-americana, Gvasalia afirmou que, partir de agora, mudará a forma com que trabalha: "Decidi voltar às minhas raízes na moda, bem como às raízes da Balenciaga, que é fazer roupas de qualidade — não criar imagem ou buzz".

Além disso, anunciou uma parceria de três anos com a National Children's Alliance, instituição que apoia a acompanha crianças que sofreram abusos.

Desfile do recomeço

O resultado dessa "nova fase" é o que foi apresentado pela grife em seu primeiro desfile após todas as controvérsias, para a coleção Ready-to-Wear de Outono 2023 durante a Paris Fashion Week, há poucos dias.

Desta vez não havia uma passarela coberta por lama. Muito menos névoas que faziam com que os modelos parecessem travar uma luta contra si mesmos. Tudo surgiu com o minimalismo ao máximo. O cenário escolhido pelo designer era todo branco, quase infinito.

Tinha ainda mais significado: o Carrousel du Louvre foi onde Demna surpreendeu o público pela primeira vez com a Vetements — marca a qual ele fundou junto ao irmão Guram Gvasalia, nos anos 2000. É também considerado um dos berços dos desfiles parisienses. Bom ponto para "nascer de novo".

Desta vez, sem celebridades na primeira fila. Em nenhuma delas.

O tom claro era o plano de fundo perfeito para os 54 looks apresentados pela grife, em sua maioria na cor preta e resgatavam marcas registradas da etiqueta — tal como Demna revelou que faria, como os ombros marcados e a alfaiataria confortável.

Destacam-se nos looks as calças de alfaiataria duplas, criando movimento para as pernas e quase fazendo alusão a um humano com quatro pernas. Nada muito exagerado. Os volumes, por sua vez, já fazem parte da Balenciaga de Demna.

Apareceram em sobretudos, blazers cruzados com seis botões e nos vestidos com ombreiras à la realeza. As peças justas, como contraste, foram protagonizadas pelos bodysuits colados aos corpos dos modelos, fossem eles homens ou mulheres.

Sai logomania, entram flores

Vale apontar ainda que as logos extra-grandes, que escreviam Balenciaga para quem quisesse ver, não marcaram presença. Ao que tudo indica, não é o melhor momento para gritar aos quatro ventos o glamour por estar vestindo Balenciaga.

Isso, como mencionado indiretamente por Demna, funcionará agora a partir da qualidade e originalidade dos modelos criados por ele. Sempre respeitando o legado deixado por Cristóbal Balenciaga.

Nesta coleção, a estampa mais gritante foram as florais, em vestidos esvoaçantes.

Para não dizer que Demna deu dez passos para trás, sua essência "absurda" se fez presente, por mais que menos escandalosa. À exemplo disso, apresentou um moletom com capuz em formato quadrado e roupas vestidas como armadura. Nessa última, a altura dos ombros chegava às bochechas.

Tudo isso acompanhado, é claro, dos óculos escuros quase alienígenas, sucesso da marca abraçado por Kim Kardashian, por exemplo.

Será que tem solução?

Como a Balenciaga vai retornar após o escândalo que derrubou a grife? Provavelmente, mais silenciosa. A missão de fazer "a moda pela moda" de Demna não é exatamente algo difícil para o designer, reconhecido pela sua criatividade.

Uma das tarefas mais difíceis a serem assumidas pela etiqueta é recuperar o status social. Ou melhor, os famosos que ajudaram a construir a ponte entre entretenimento e moda criadas pela grife espanhola.

Kim Kardashian, Rihanna e Alexa Demie, de "Euphoria", eram algumas das celebridades que desfilavam suas roupas. Desde toda a polêmica, não se viu elas — ou quaisquer outras famosas — vestindo suas criações pelas ruas.

Quem terá coragem de vestir a Balenciaga pela primeira vez em um tapete vermelho e colocar as mãos no fogo pela marca e sua "reinvenção"? Talvez, antes, seja necessário outro desfile dos Simpsons.