Fogo, cães-robôs e 'look de sexo': a temporada dos desfiles espetaculares
Moda nunca foi só sobre roupas e na última temporada de desfiles das grandes grifes em Paris, Londres e Milão não faltaram surpresas, sejam elas polêmicas ou dignas de um espetáculo.
Nesse período aconteceu de tudo um pouco: modelos foram incendiados no meio da passarela, cenários feitos de camisinha tomaram conta de um desfile, roupas mudaram de cor instantaneamente com o uso de luz e modelos foram despidas. Pela gravidade ou até mesmo por robôs.
A AVAVAV, etiqueta com sede em Florença e Estocolmo, comandada pela diretora criativa Beate Karlsson, por exemplo, viralizou nas redes sociais ao ter o show visto como desastroso. Mas, na verdade, era um desastre proposital. As críticas ganharam força depois que um vídeo do desfile alcançou mais de 85 milhões de visualizações no TikTok.
Os acontecimentos caóticos aconteciam em sequência: saltos se quebravam enquanto as modelos andavam, suas roupas caíam e eram rasgadas e, quando tudo já parecia turbulento o bastante, a parede do local foi abaixo no final do espetáculo.
A ideia de Karlsson era tecer uma crítica ao luxo. Tal qual como muitos dizem que Demna Gvsalia faz com a Balenciaga. Em suas redes sociais, ela nomeou a estratégia como "Finja até quebrar" — ou "fake it til you break it", em inglês. Em resumo, o plano era mostrar a vulnerabilidade e o medo da imperfeição que é gerado em contextos de luxo.
Eu me perguntei: por que é que o luxo é tão sério? Por que nos esforçamos para ser perfeitos? A má qualidade ainda pode ser luxuosa?", explicou Beate Karlsson em um comunicado à imprensa.
O desfile da Avavav quer, portanto, desafiar o terror da imperfeição que permeia o mundo do luxo. "Há algo muito interessante sobre a vergonha e o que acontece quando estamos vulneráveis", acrescentou a diretora artística. Daí a ideia de roupa que se destrói. Ainda que reservassem peças bem feitas por baixo.
Mirando na Geração Z, os looks que se destacaram foram um moletom oversized usado com as distintivas botas Moonster, minivestido de risca de giz com gola estendida e fecho assimétrico e um top de malha estampado.
Pets robôs
Também despindo modelos, a Coperni — depois de fazer um dos maiores momentos da moda nos últimos anos ao tecer um vestido ao vivo em Bella Hadid, desta vez convidou robôs para interagirem com os modelos. Ou melhor, cachorros robóticos. Eles chegaram a acariciar uma delas, posteriormente tiravam o seu casaco — como numa espécie de gesto cordial, e o devolvia para que ela pudesse continuar o seu catwalk.
A relação da grife com a tecnologia tem sido uma de suas apostas. Alguns exemplos disso são o vestido feito com tinta em spray, os robôs e uma de suas peças mais significativas, a bolsa redonda "Swipe", interpretação inteligente do gráfico 'deslize para desbloquear' do iPhone.
Surpresa hi-tech
E por falar em tecnologia, a japonesa Anrealage fez com as roupas mudassem de tonalidade ao vivo e a cores. Literalmente. No Théâtre de la Madeleine, Kunihiko Morinaga integrou a tecnologia fotocrômica com tecidos que nunca havia usado antes, incluindo peles artificiais, veludo, cetim e muito mais.
O público pôde então ver pares de modelos desfilando em uma passarela vestindo peças brancas — como roupões, jaquetas, casacos, vestidos e outras. Ao chegarem ao final da passarela, um feixe de luz "cobria" cada um, com um raio ultravioleta, e revelava as verdadeiras cores e padrões geométricos das peças, em tons vibrantes como amarelo, rosa, azul e roxo.
À imprensa, Morinaga explicou ter se inspirado no termo 'Umwelt', uma palavra alemã que faz alusão ao ambiente e ao mundo sensorial único de um organismo.
Chama o bombeiro
Incendiando a passarela, a marca dinamarquesa Heliot Emil apresentou um modelo pegando fogo no desfile, enquanto nomes como Mia Khalifa e o novo casal do momento, Avril Lavigne e Tyga, presenciavam o momento.
Com roupas protetoras, enquanto vestia também uma balaclava e carregava uma bolsa na mão, não havia efeitos especiais. A única presença especial era um rapaz segurando um extintor de incêndio para prevenir desastres — desta vez, reais.
O cenário rústico somava ao que a etiqueta buscava apresentar, assim como fez na edição anterior da Paris Fashion Week: roupas sombrias, em sua maioria pretas, e alfaiatarias com zíperes — misturando o social com o streetwear.
Mais que sexy... sexo
Por fim, a Diesel deu o que falar ao colocar mais de 200 mil caixas de camisinha no cenário do desfile. "Gostamos brincar jogar na Diesel e levamos isso a sério", disse o diretor criativo Glenn Martens em comunicado à imprensa. "Divirtam-se, respeitem-se, fiquem seguros."
As roupas reproduziam muito do que o plano de fundo dizia. Muitas vezes eram viçosas, quase como um tecido encharcado — com o intuito de reproduzir sensações das relações sexuais. Martens mostrou inclusive um jeans "molhado", criado a partir de uma técnica chamada "devore".
A sensualidade já faz parte do DNA do diretor criativo há tempos e, desde que entrou na Diesel, começou a buscar formas mais experimentais do denim. O que tem dado certo.
Além disso, figurou na lista feita pela Lyst Index como uma das mais quentes — mesmo que fora do top 10, no último trimestre de 2022. Um dos motivos foi a minissaia que se vestia como um cinto. "Impossível de usar", como diziam os usuários, mas engajada nas redes sociais.
Com tudo dito: na moda há inspiração, mas também há espetáculo.
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