Jerusalém não é só para religiosos, mas atrações da fé são imperdíveis
Nem só de rezas — e muito menos de rixas — vive Jerusalém. Quem vê as áridas imagens do noticiário que se divide entre conflito e manifestações de fé não conhece a cidade. Não totalmente.
Logo ao chegar à capital de Israel cercada de postos de segurança, repleta de jovens soldados, as paisagens se alternam entre monumentos milenares, bairros de diminutas casas, enormes praças surpreendentemente arborizadas, uma infinidade de "kipot" (plural de kipá, a espécie de capuz que surge em vários tamanhos e cores nas cabeças dos homens judeus), batinas e hijabs, niqabs e xadors (os lenços árabes que cobrem cabelos, cabeça ou até o corpo todo das mulheres).
A reportagem chegou à "Cidade Santa" na tarde de um sábado, no final de Shabat, o dia de descanso para judeus, e viu a impressionante transição entre o silêncio e recolhimento da maioria judaica para um centro vibrante, artístico, variado e muitos outros adjetivos que o Ocidente parece esquecer.
Fascínio para todos os lados
Mesmo para aqueles que não seguem qualquer religião, a fé é um fio condutor irresistível para milênios de história e é altamente recomendado começar pelo mais completo ponto de observação da cidade e de onde Jesus teria falado com seus discípulos: o Monte das Oliveiras.
É do alto que se percebe como locais retratados como territórios inimigos estão colados e como é um privilégio estar diante de um verdadeiro mergulho por milênios de tradições diversas.
Descendo o monte pelas íngremes e curvas ruas que levam ao centro, vale conhecer o Jardim de Getsêmani e a Igreja de Todas as Nações.
Mas é mesmo na Cidade Velha que se concentram atrações para um dia de andanças.
Entrando pela Porta dos Leões — uma das oito entradas para o centro amuralhado — se tem um acesso fácil à Via Dolorosa e, de lá, acesso ao bairro cristão e à belíssima Igreja do Santo Sepulcro, com seus apaixonados peregrinos e reunião da variedade de correntes da religião.
Sabe quem guarda as chaves para o templo? Uma família muçulmana.
Diante da divisão dos direitos sobre a igreja entre greco-ortodoxos, armênio-ortodoxos e católicos romanos — além de espaços menores destinados a copta-ortodoxos egípcios, etíope-ortodoxos e sírio-ortodoxos — optou-se por uma neutralidade na organização de tamanho monumento, que recebe milhares de visitantes todos os dias.
Próximo dali, uma das melhores vistas do centro é o Hospice Austríaco (www.austrianhospice.com), palácio inaugurado em 1863 que hoje funciona como luxuosa hospedaria e um centro de descanso à muitas vezes caótica Via Dolorosa. Sim, Jerusalém também entrou na onda dos irresistíveis rooftops.
"Mais barato que nas Casas Bahia"
Ao lado do bairro cristão, desvenda-se o bairro muçulmano — cinco vezes ao dia, uma gravação chama os crentes do Islã a rezarem e enche o ambiente de som possível de ser ouvido de onde quer que você esteja.
Neste reduto, surgem lojas atrás de lojas com artigos em madrepérola, (muitos) temperos, incensos, quadros e máquinas de sucos de romã para aplacar o calor do verão israelense. Alguns vendedores são bem desconfiados, é verdade, mas a maioria abre as portas sem se importar a que Deus você confia suas rezas.
Diante de uma loja de tecidos, o grupo de brasileiros embasbacados com a beleza dos artigos — e o frescor das ruelas ainda livres no começo da manhã — não escondem o fascínio em bom português.
Eis que se ouve um "Brasil? Brasil? Aqui mais barato que Casas Bahia".
Gargalhadas e, claro, a ironia de se referir a uma rede criada no Brasil por um judeu.
Neste trecho do centro, não perca a oportunidade de se deliciar com o melhor hommus do planeta no restaurante Abu Shukri e suas mesas compridas para compartilhar as delícias locais. A iguaria à base de grão-de-bico e tahini vem acompanhada de uma saborosa limonada com hortelã, salada caprichada e falafel frito na hora.
Para os curiosos da fé islâmica, as atrações religiosas são bem menos exploradas que a dos vizinhos cristãos e judeus. Exemplo disso é a complicada visitação para a Mesquita de Al-Aqsa e a área do Domo da Rocha, bastante restritas a turistas e, principalmente, a não-muçulmanos.
Yerushalayim, a cidade de ouro
Não há como negar: para judeus, Jerusalém é uma experiência transcendental — além da visita ser uma das 613 mitzvot (os mandamentos) da Torá.
Visitado com relativa facilidade, apesar do forte esquema de segurança, o Muro das Lamentações (o Kotel ou Western Wall) impressiona, sem dúvida, mas é a imperdível visita aos túneis do Muro que arrebata (thekotel.org/pt/tours/os-tuneis-do-muro-das-lamentacoes).
Mais de 100 anos de escavações revelam — e hoje, exibem — mais de 2 mil anos de história da cidade. Tudo com um surpreendente conforto de ar-condicionado e facilidade de acesso.
Em uma visita guiada e paga (35 shekels, ou R$ 52), é possível viajar ao século 1 da era Cristã, ter acesso a elementos e ruas do Segundo Templo, banhos rituais dos moradores de Jerusalém e seus peregrinos, projetos de construção muçulmanos da Idade Média e todo o caminho de preservação da história judaica local.
Yehuda Deutsch, o guia da reportagem na atração, é a síntese do famoso humor judaico.
Essa pedra que vocês estão vendo já foi pisada por um dos homens mais famosos do mundo. Quem adivinha?". Ao perceber a timidez do grupo em falar alto o nome do messias da religião vizinha, ele entrega "Jesus! Jesus!".
Aos visitantes, é imprescindível atentar-se para alguns detalhes. O Muro é dividido em duas áreas, uma para homens e outra para mulheres. Para eles, é obrigatório o uso de kipá. Para elas, é recomendado o uso de vestimenta discreta, como saias abaixo dos joelhos e camisetas que não revelem os ombros nus.
Recomenda-se que os papeizinhos com pedidos e rezas, que lotam as fendas do Muro, sejam preparados antes da visita, uma vez que dependendo do dia pode se encarar uma verdadeira multidão para chegar até lá.
E não se esqueça de sair em "marcha ré" no Kotel. Esse é um sinal de respeito, de nunca dar as costas ao Muro, o local mais sagrado para a fé judaica.
À noite, para quem quiser aproveitar este trecho da cidade, mais uma atração histórica surgiu recentemente.
Na Torre de David (tod.org.il/en/night-shows), um show de projeções sobre as paredes de um dos maiores símbolos de Jerusalém de 45 minutos que conta a história da Citadela, colada no Portão de Jafa e do Rei David, baseada em passagem bíblicas, documentos históricos e fontes arqueológicas.
Onde a gula não é pecado
Mas Jerusalém não é só para se encantar com o passado ou com as impressionantes manifestações de fé espalhadas pelos quatro cantos da cidade. É uma cidade de sabores além das restrições kasher e halal — judaica e muçulmana respectivamente.
Um dos centros mais interessantes e históricos é a primeira estação de Jerusalém (www.firststation.co.il/en/), construída ainda sob domínio otomano, em 1892, e hoje um centro de compras, diversão e restaurantes. Lá não é impossível encontrar bacon, presunto e frutos do mar (proibidos pela dieta judaica), mas há de se aproveitar a oportunidade para descobrir que restrição não é sinônimo de tédio gastronômico.
O restaurante Adom (@adomrestaurant), por exemplo, reúne em suas mesas locais e turistas (mais uma vez, de todas as religiões e origens) em um salão descolado, cozinha aberta e cardápio variado. Destaque para a panceta de cordeiro que entra em um bom e democrático hambúrguer.
Para quem prefere opções mais sofisticadas, impossível não pensar em outro centro comercial conhecidíssimo: o Mamilla. Shopping a céu aberto ou boulevard de compras, pouco importa: as lojas caríssimas fazem a alegria de quem busca grife e um passeio tranquilo. E, claro, opções de restaurantes com ares de centrinho europeu.
Nem todos bebem
mas quem bebe, passa bem
Algo que causou estranheza a muitos brasileiros recentemente foram as restrições a bebida na Copa do Qatar e em Israel, entre a população também muçulmana, não é diferente. Pelas regras do Islã, nenhum tipo de álcool é permitido.
Entre os judeus que seguem a dieta kashrut também há destaque nessa área: só se consome o vinho kasher (ou seja, produzido de ponta a ponta por judeus e sob supervisão).
Isso não quer dizer, no entanto, que locais que consumam álcool e turistas que não sigam nenhuma das duas dietas estritamente não sejam felizes (e muito) por Jerusalém.
Uma das atrações mais descoladas da cidade é a Jerusalem Winery (@jerusalem.wineries), aos pés do moinho de Yemin Moshe (primeiro bairro da Cidade Velha). Lá, além de opções variadas em vinhos produzidos em Israel (inclusive em pleno deserto), há uma equipe cheia de charme e conhecimento sobre a bebida e harmonizações.
Para os apaixonados por cervejas, não faltam opções artesanais — cena que segue em alta pela cidade israelense. Não perca as ótimas cervejas das locais Herzl Brewery e a Shapiro Brewery. Para quem busca opções clássicas europeias e também é fã dos destilados, um dos pontos que chama atenção é o Glen Whisky Bar (@glen_bar).
*A jornalista viajou a convite do Ministério do Turismo de Israel no Brasil
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