Tesouros de navio conhecido como 'Santo Graal dos naufrágios' vão a leilão
Raridades encontradas nos destroços do S.S. Central America, o histórico navio da época da Corrida do Ouro que transportava tesouros de um garimpo na Califórnia, foram vendidas por cifras altíssimas em um leilão que durou dois dias em Reno, no estado americano de Nevada, entre 4 e 5 de março.
Este é o segundo leilão já realizado com os 'espólios' da fatídica embarcação que ficou conhecida como o "Santo Graal dos naufrágios" desde que afundou no meio da costa da Carolina do Sul em 1857, repleto de riquezas. O primeiro, que aconteceu em dezembro, teve um único saco cheio de pó de ouro arrematado por US$ 1,08 milhão ou R$ 5,65 milhões.
Apesar de esta segunda etapa não ter alcançado um valor tão alto por um único item, ela possuiu um catálogo bem mais vasto e impressionante. Se no fim de 2022 foram vendidos 270 lotes, neste segundo leilão foram contemplados 422 lotes, incluindo entre suas peças mais valiosas joias, um robô utilizado na recuperação dos achados e daguerreótipos — o "avô" da fotografia.
"Muitos colecionadores estavam esperando por estes itens extraordinários entrarem no mercado desde que o lendário navio naufragado foi localizado em 1988 e a revista Life proclamou [seus destroços] como o maior tesouro já encontrado na América", comentou Fred Holabird, presidente da casa de leilões Holabird Western Americana Collections, ao jornal britânico Daily Mail.
Apesar de achado há 35 anos, o S.S. Central America permaneceu no fundo do mar por outros 26 anos até que pudesse voltar à superfície — o resgate dos tesouros aconteceu apenas em 2014. Não à toa, os leilões mais que aguardados atraíram muitas atenções e apostadores.
"Esta foi uma incrível cápsula do tempo para a era da Corrida do Ouro na Califórnia. Tivemos cerca de 7 mil interessados registrados, incluindo potenciais compradores do Canadá, Europa e América do Sul", revelou ainda Holabird. A segunda maior venda dos leilões de março passou longe do ouro, no entanto: foi o retrato da "Mona Lisa do Fundo do Mar".
A imagem — um daguerreótipo de uma mulher desconhecida que sorri misteriosamente, por isso a associação com o quadro de Leonardo Da Vinci — foi arrematada por US$ 73,2 mil ou R$ 383,2 mil. O motivo do alto preço é tanto a proximidade com a obra do italiano quanto a raridade de um daguerreótipo tão bem preservado, dado o processo complexo e antiquíssimo de revelação.
De acordo com o Portal Brasiliana Fotográfica, acervo fotográfico mantido pela Biblioteca Nacional, um daguerreótipo é "uma imagem única e positiva". Ela é formada sobre uma placa de cobre revestida com prata, polida e sensibilizada por vapores de iodo. "Depois de exposta na câmera escura, a imagem é revelada por vapores de mercúrio e fixada por uma solução salina".
Já o objeto mais valioso foi mesmo a barra de ouro de quase 1 kg, ou mais precisamente, 991,4 gramas — vista no topo desta matéria. Ela foi arrematada por US$ 138 mil ou R$ 722,4 mil. Houve, contudo, outros lances impressionantes: um modelo em escala do S.S. Central America, com detalhes fidedignos, foi levado por US$ 50,4 mil ou R$ 263,8 mil.
Um lindo broche em ouro com um pendente em quartzo feito sob medida a pedido do primeiro milionário da Corrida do Ouro, Sam Brannan — fundador do jornal California Star, além de grande divulgador da mineração da época —, para que seu filho Sam Brannan Jr. desse de presente a sua professora favorita também esteve entre as estrelas do evento.
A peça de ouro amarelo de 18 quilates que conta com as inscrições da poderosa família de São Francisco foi arrematada por US$ 49,2 mil ou quase R$ 257,6 mil. Veja o perfil da peça por inteiro:
Ainda impressionante foi a performance do robô Nemo, que recuperou os destroços do navio, no leilão. Ele foi comprado por US$ 43,2 mil ou R$ 226,1 mil, mais do que uma polêmica descoberta que foi feita em meio a calças jeans de mineiros, bilhetes de primeira classe e outros objetos mais prosaicos: uma moeda falsificada, encontrada no cofre do navio, e datada de 1857.
A peça imitava a moeda de "8 escudos" do Real do México, que era o dinheiro corrente no país até 1897. As originais eram feitas em uma liga de ouro e cobre, segundo o historiador Bob Evans, que certificou o achado. Já esta encontrada a bordo do S.S. Central America foi feita em uma liga de prata e ouro, portanto, ela é falsa.
"A motivação para uma falsificação deste tipo é um mistério, no entanto, moedas emitidas por países politicamente estáveis estavam em falta no Oeste americano da Era da Corrida do Ouro e isso pode ter sido razão suficiente", explica a Holabird em seu catálogo.
Este foi o último leilão previsto e, até o momento, anunciado, dos tesouros do navio a vapor de 280 pés de comprimento, que afundou quando carregava 19 toneladas de ouro das minas, além de pertences pessoais de seus passageiros. Dos 578 passageiros, 425 morreram, segundo o Mail.
O S.S. Central America viajava do Panamá a Nova York, na ocasião. Quando notícia de seu naufrágio chegou à metrópole americana, causou uma crise financeira já que os bancos aguardavam a chegada do ouro a bordo para os seus cofres — o episódio ficou conhecido como o Pânico de 1857.
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