Coração como passaporte e tour de buggy na Lua: como será viajar em 2070?
Safáris a bordo de submarinos, hotéis customizáveis de acordo com suas preferências, simulações de viagens no metaverso, roteiros na Lua e o coração humano usado como passaporte: você consegue imaginar viver alguma destas experiências? Pois, de acordo com cientistas, elas serão realidade em 2070.
As apostas foram apresentadas no relatório "O futuro das viagens", elaborado pela companhia aérea easyJet. Nele, futurólogos e pesquisadores de outras áreas ofereceram hipóteses embasadas por avanços atuais e estudos em andamento de como será a experiência de desbravar novas paisagens daqui a quase 50 anos.
Sonhos antigos da humanidade, como os táxis voadores, podem finalmente sair do papel, segundo os estudiosos. No entanto, a maioria se aventura por áreas já em crescimento, como a inteligência artificial, o metaverso e as viagens espaciais civis.
Conheça as principais novidades, direto de 2070:
Provador virtual
Viajar será como comprar uma roupa, segundo a professora de economia e gestão de inovação da Birkbeck College, Birgitte Andersen, também presidente do Big Innovation Centre. "Assim como você prova as peças em uma loja hoje ou ouve amostras de uma música online antes de comprar [a faixa], experiências de realidade virtual [e óculos] se tornarão mais amplamente disponíveis na vida cotidiana", acredita.
Assim, você poderá curtir primeiro uma simulação da viagem de antemão para decidir se o destino vale ser visitado. "Beneficiará aqueles que têm um tempo ou opções financeiras limitadas e precisam fazer uma escolha melhor, mais informada", prevê.
Visitinha à Lua
Em 2070, os viajantes não estarão restritos apenas ao mapa mundi para escolher seu próximo destino. Segundo a futuróloga e especialista em tendências Shivvy Jervis, em um período de 30 a 50 anos, as viagens curtas do tipo bate e volta para o espaço se tornarão uma realidade na esteira dos passos já dados por missões da Space X e Blue Origin, como a que levou o ator William Shatner — o capitão Kirk de "Jornada nas Estrelas" — à orbita da Terra em outubro de 2021.
No cardápio, poderá haver experiências de um legítimo astronauta na Lua com passeio de buggy na superfície do satélite, excursões a pé em trajes espaciais para explorar crateras e até brincadeiras e práticas de esportes em gravidade zero.
Hotéis subterrâneos ou subaquáticos
Aqui, o futuro já começou. A moda dos quartos e experiências de baixo d'água em paraísos como as Maldivas se tornarão a norma em 2070, justamente pelo desejo de explorar paisagens cada vez mais diversas.
"Um paraíso aquático onde a janela do seu quarto ofereça vista para cardumes de peixes nadando. [Ou ainda] no deserto ou em retiros nas montanhas — hotéis subterrâneos permitirão que experimentemos algumas das locações mais remotas e inabitáveis, a sete palmos."
Eles serão construídos nas camadas da Terra para se tornarem um com o ambiente e serem eficientes energeticamente. Estes hotéis se tornarão mais comuns à medida que a indústria de viagens e turismo responderá à demanda por experiências que vão além da superfície", acredita a especialista.
Experiências terapêuticas
O relatório lembra que o entusiasmo de viagens terapêuticas, com foco no bem-estar, existem desde os tempos das termas romanas construídas em Bath, no interior da Inglaterra, na Antiguidade. No entanto, os experts apostam que a tendência vai se intensificar devido a uma outra previsão, mais infeliz: o estresse vai crescer no século 21.
Por isso, os estudiosos acreditam que médicos poderão prescrever viagens em 2070 como remédio, da mesma forma com que sacam o receituário para pedir uma dose de antibiótico. Retiros nas montanhas, banhos em lagos congelantes ou uma semana em resorts isolados e paradisíacos na Costa Rica serão considerados medicinais.
Passaporte bate no peito
A boa notícia é que as preocupações com guardar o passaporte e os bilhetes aéreos em local seguro e acessível antes de embarcar deverão ter desaparecido no futuro. Toda a documentação será digital — e a biometria terá um papel importante nesta transição.
Isto porque os acadêmicos acreditam que traços do rosto, impressões digitais, retina e, sobretudo, a "identidade" da batida do seu coração estarão seguramente armazenados em um banco global que dispensará a necessidade de apresentar um documento com nome, filiação, foto, assinatura e chip, como são os passaportes atuais.
Filas no check-in e na segurança também vão desaparecer. "A infraestrutura de segurança dos aeroportos será incrivelmente sofisticada, mas ao mesmo tempo menos invasiva", especula a futuróloga Dra. Melissa Sterry. Ela imagina que, apenas ao chegar ao aeroporto, você será identificado por reconhecimento facial, o que indicará seu voo e suas informações de embarque serão enviadas ao seu smartphone ou smart watch do futuro.
Adeus, bagagem
Tanto o futurólogo Dr. Patrick Dixon quanto a professora Birgitte Andersen acreditam que as informações das tags nas malas serão enviadas junto com o seu passaporte digital à companhia e evitarão o despacho manual — sendo descarregadas automaticamente do trem ou táxi e indo direto para a aeronave, com checagens biológicas, químicas e de imagem no caminho.
Já o professor Graham Braithwaite, diretor de sistemas de transporte da Universidade de Cranfield, no Reino Unido, enxerga um futuro sem malas. "Em vez de levá-las nas férias, tudo o que você precisa é ter suas medidas", provoca. Ele acredita que haverá serviços de roupas nos destinos que serão fabricadas com impressoras 3D, técnica já usada pela estilista Iris Van Herpen.
"Simplesmente informe seu destino das suas medidas através de um escaneamento corporal antes de voar e, ao chegar, você encontrará um guarda-roupa cheio de combinações no seu tamanho exato. Quando você partir, suas roupas poderão ser recicladas e reimpressas para o próximo turista. Não só isso reduzirá o estresse de fazer as malas, como a moda de férias será mais sustentável".
Aeroporto como destino
"O aeroporto do futuro será um destino, um lugar em que os clientes querem passar um tempo, similar ao Changi em Singapura hoje", aposta Braithwaite. Assim como já existe no aeroporto asiático, os terminais contarão com lojas, opções de lazer para crianças supervisionadas por robôs, além de massagens e lanches para os adultos.
Câmbio zero
Pagar por todos esses serviços com moeda estrangeira, dependendo de flutuações do câmbio ou taxas de impostos, também será coisa do passado. "Criptomoedas não têm custos de transação ou taxas de câmbio e são usadas no mundo todo, sem fronteiras. Viajantes vão ter menos despesas ao gastar no exterior, como resultado", imagina Birgitte Andersen.
Com as criptomoedas, os experts imaginam que viajantes poderão reservar produtos no free shop no aeroporto de partida, pagando por meios digitais, e ter o seu pedido esperando por você no terminal de chegada — o que eliminará a necessidade de ter garrafas de bebida ou vidros de perfume voando pelo mundo.
Táxis voadores
Outra facilidade que os avanços tecnológicos deverão permitir em 2070 são escalas e baldeações mais rápidas e simples. "85% dos viajantes em muitos países chegarão [ao aeroporto] por transporte público movido a energia elétrica, incluindo veículos autônomos", acredita Dixon.
Estes carros do futuro, assim como os Teslas de Elon Musk poderão viajar sozinhos, sem necessidade de motorista. Ele ainda visualiza uma chegada também por e-VTOL (aeronave elétrica de decolagem e aterrissagem vertical), uma espécie de táxi similar ao helicóptero. "Ao menos, 250 empresas já estão desenvolvendo estes veículos para viagens curtas", explica.
É bom lembrar que, em abril de 2022, o Reino Unido inaugurou o Air-One, primeiro aeroporto do mundo para drones e táxis voadores.
Voos mais confortáveis e luxuosos
Graças a avanços em design biomético — que copia formas e processos eficientes encontrados na natureza — as aeronaves devem ficar exponencialmente mais confortáveis do que conhecemos hoje. A futuróloga Melissa Sterry prevê o fim dos assentos padronizados e a substituição dos materiais por versões mais leves e confortáveis, mas sem abrir mão de segurança.
Assim, quem está acostumado hoje a viajar apertadinho deverá ser capaz de voar em um assento customizado para o seu tipo físico. Materiais inteligentes devem adaptar a temperatura ao gosto do freguês e possuir capacidades antimicrobianas para manter a higiene do assento. "As aeronaves do futuro serão mais como um hotel de luxo nos céus, com bastante espaço para as pernas, lounge para socializar, bares para todos os passageiros e não apenas a primeira classe", aposta Shivvy Jervis.
Passageiros de 2070 também serão capaz de pré-selecionar quais serviços de bordo desejam, o que incluirá o cardápio. "Já temos máquinas que podem pegar as bases de proteínas e criar diferentes pratos sob demanda. Você será capaz de escolher qualquer coisa que quiser comer e ter em sua frente em minutos", imagina Shivvy.
Já o entretenimento deverá dispensar as telinhas que conhecemos e substituí-las por hologramas e outros avanços que tornem os filmes em experiências imersivas.
Hotéis adaptáveis
O relatório projeta um futuro concierge pessoal que se apresentará ao viajante por holograma. Antes de chegar ao hotel, ele parará um carro autônomo (aquele sem motorista) para buscá-lo no aeroporto, alertará a equipe do hotel sobre sua chegada, seu check-in será feito de forma automática e robôs ou humanos poderão ajudá-lo com a bagagem. As portas das suítes deverão se abrir mediante reconhecimento facial, como os smartphones fazem atualmente.
A decoração, a maciez da cama, os cheiros no ar e o som ambiente deverão ser ajustados para atender ao gosto do hóspede. "Pense no hotel em si como um organismo único que mistura inteligência artificial e humanos que controlam todos os aspectos de sua estadia", sugere Shivvy. "Uma assistente de quarto virtual [como uma "Super Alexa", a assistente da Amazon] a cumprimentará e a ajudará com tudo — desde pedir uma nova toalha à sugestão de um lugar para comer e às reservas".
A arquitetura também mudará para acomodar as necessidades de hoteleiros, viajantes e do meio ambiente — já que será possível aproveitar mais espaços menores. Quartos deverão ser separados por paredes móveis, que poderão mudar de posição ou lugar. Portanto, personalização será mesmo a palavra-chave em 2070.
Painéis de energia solar ou turbinas de energia eólica seguirão em alta, mas o hotel do futuro poderá ser movido à energia dos próprios viajantes. Pisos interativos como o da Pavegen, que transformam os passos de quem caminha sobre eles em energia elétrica, já existem e dão uma ideia de como poderão ser as superfícies em 50 anos.
Em Dubai, 93 km deste tipo de pavimento cinético estão sendo instalados para gerar energia limpa atualmente. A partir desta ideia de sinergia ambiental, é possível que os hotéis invistam mais também em incorporar o mundo externo à sua estrutura, com cachoeiras internas e experiências virtuais imersivas, por exemplo.
Café da manhã impresso
Assim como no caso das aeronaves, o bufê de café da manhã de hotéis será transformado pelas impressoras 3D. Menus digitais não serão estáticos — o hóspede poderá digitar o prato desejado, segundo suas especificações, e sua refeição será impressa diante dos seus olhos com seus sabores e combinações favoritas.
As experiências se aproximarão, cada vez mais, do ideal do viajante. E este futuro já está mais próximo: engenheiros da Universidade de Columbia, nos EUA, imprimiram com sucesso um cheesecake este mês.
De volta para o futuro
Se o desejo por aventura e experiências autênticas é que moverá o coração humano em 50 anos, caberá à inteligência artificial fazer o "match" entre o turista e seu roteiro de viagem, além das companhias ideais para cada tipo de passeio do mesmo jeito que hoje um site de compras usa seu algoritmo para aprender suas preferências e sugerir produtos.
Uma vez no local, as excursões serão complementadas com realidade aumentada. "A sobreposição de informação digital com o mundo real criará experiências inesquecíveis e intensas", acredita Shivvy Jervis. Trajes hápticos (de realidade virtual) permitirão que o visitante da Acrópolis de Atenas veja e ouça Sócrates debatendo na Ágora, por exemplo, ou que um turista seja capaz de ver Michelângelo pintando ao visitar a Capela Sistina no Vaticano.
"Formas de realidade mista sobreporão imagens da paisagem para reconstruir visualmente o que aconteceu ali: em uma batalha famosa, as tropas surgindo ao seu redor [ou] estar sentada no meio da plateia aplaudindo as primeiras Olimpíadas da história. Em locais mais escuros, isso poderá ser uma forma de holograma projetado, enquanto em ambientes iluminados você poderá usar óculos [de realidade virtual]. Os trajes hápticos poderiam intensificar a experiência e fazer você sentir com cada fibra do seu corpo que você está realmente lá, experimentando tudo como teria sido todos aqueles anos atrás", especula Melissa Sterry.
Para quem não fala a língua de seu destino, a comunicação também ficará mais simples com o auxílio da tecnologia e tornará as experiências no local mais engajadas. Ou seja, nada de digitar tudo no tradutor do celular: equipamentos dentro do próprio canal auditivo, como um fone, traduzirão conteúdos e oferecerão sugestões em tempo real.
Safáris embaixo d'água (e sobre ela)
O universo aquático realmente estará em alta no futuro e uma das consequências dessa renovada paixão pelo mundo submerso será uma nova moda: os "sea-faris", safáris a bordo de submarinos para explorar a fauna e a flora no fundo do mar. A tendência, aliás, já começou a ganhar força: em um resort no Vietnã, um submarino leva viajantes a 100 metros de profundidade justamente para este tipo de experiência.
Experiências na superfície também terão seu lugar, mas o catamarã e o surfe serão coadjuvantes perto de hoverboarding e o e-foil, a prancha que permite surfar "voando" sobre o mar. Igualmente, o jet ski parecerá uma opção morna diante do jet pack, a mochila a jato para passear nos ares rente ao oceano.
Vestidos para aventura
Roupas inovadoras permitirão aos viajantes superarem seus próprios limites físicos para curtir férias com mais aventura do que podem suportar em 2023. Exoesqueletos em materiais leves e outros equipamentos biônicos darão ao corpo maior desempenho físico através de uma redução da carga metabólica e do desgaste muscular, apostam os cientistas. Este tipo de dispositivo, já usado por trabalhadores da construção civil, se tornará um nicho de mercado a ser explorado em 2070.
"Há mais de um bilhão de pessoas no mundo [atualmente] com alguma forma de deficiência. Em 2070, podemos esperar férias customizadas e algumas empresas deverão escolher especializar nesta área. Pense em hotéis adaptados para autistas e exoesqueletos para passear — por que alguém deveria perder a oportunidade de se divertir e ter o prazer de estar na natureza?", conclui Shivvy Jervis.
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